O que é apologética e por que é importante?

Você sabe o que significa a palavra “apologética” e qual a sua importância para nós, cristãos? Eu sei que a palavra, a princípio, pode nos afastar do assunto, mas prometo que não é algo de difícil compreensão.

Significado de Apologética

O termo deriva do verbo grego “apologeomai“, significando “dar uma resposta”, “responder”, “defender a posição de alguém”, e do substantivo grego “apologia”.

Em seu sentido mais estrito, significa a defesa da fé do cristão individual. Em um sentido mais amplo, é a resposta do cristão a ataques sobre si, sua doutrina e sua fé, e toda a revelação dada nas Escrituras.

E em seu sentido total, a apologética é a defesa e a justificação da fé cristã e da revelação dada nas Santas Escrituras contra o ataque dos duvidosos e incrédulos, mais o desenvolvimento de uma apresentação evangélica positiva dos fatos mostrados na Bíblia, a racionalidade da revelação de Deus ao homem nas Escrituras, e a sua ampla suficiência para atender as necessidades espirituais completas do homem.

A apologética é, então, não apenas um exercício negativo e defensivo, mas também positivo e ofensivo. Não é apenas para defesa do Evangelho, mas também em sua propagação.

Em síntese, a palavra “apologética” significa “defesa da fé”, já que tem sua raíz no termo grego “apologia” que se refere a “defesa” que prova a inocência de um acusado no tribunal, bem como a demonstração de que um argumento é correto.

Biblicamente falando, essa expressão aparece em 1 Pedro 3:15-16ª, que diz: “Antes, reverenciai a Cristo como Senhor no coração. Estai sempre preparados para responder (oferecer apologia) a todo o que vos pedir a razão da esperança que há em vós. Mas fazei isso com mansidão…”

Ou seja, de maneira simplista, a apologética diz respeito a defendermos nossa fé com argumentação sólida e saudável, frente às perguntas que a cultura pós-moderna faz a respeito de Deus e do cristianismo ou às objeções e questionamentos que ela levanta à fé cristã.

O estudo da apologética

O estudo da apologética pode ser dividido em três períodos, conforme encontrado em três eras da história da igreja.

1. Apologética do Novo Testamento

O verbo grego “apologeomai” se usa para expressar a ideia de autojustificação e autodesculpa (Rm 2.15; 2 Co 12.19), e também o substantivo “apologia” (2 Co 7.11).

Esse termo é particularmente utilizado no sentido de responder aos ataques sobre a fé e a convicção de alguém, e oferecer uma defesa. Um exemplo está em Atos 7, frequentemente chamado de apologia de Estêvão, quando ele respondeu ao Sinédrio judeu às acusações de falso testemunho (At 6.11-15).

Paulo fala sobre ser colocado para “a defesa do evangelho” (Fp 1.6,17). Ele fez duas “apologias” para a sua posição, a primeira diante de Festo (At 24.10; 25.8; cf. v. 16), e a segunda diante de Agripa (At 26.2).

Quando apelou para o privilégio de fazer o mesmo diante de César (At 25.8-16), seu pedido foi finalmente concedido.

Cada uma dessas apologias contém tanto uma defesa negativa como um elemento evangelístico positivo. Por exemplo, Paulo usou sua defesa como uma introdução ao Evangelho de uma maneira tão eficaz que Félix ficou amedrontado (At 24.25), enquanto Agripa exclamou: “Por pouco me queres persuadir a que me faça cristão!” (At 26.28). Mesmo considerando outra interpretação deste último versículo.

“Você tão facilmente me persuadiria a ser um cristão?”. O Evangelho positivo na apologia de Paulo ainda pode se ver claramente no efeito produzido em Agripa.

2. Apologética na igreja primitiva e medieval

Justino Mártir escreveu sua obra “Diálogo com Trífon” (aprox. 150 d.C.), Orígenes respondeu a muitos argumentos anti-cristãos em sua obra “Contra Celso” (aprox. 235 d.C.), e Atanásio publicou sua obra “Contra os Gentios” (aprox. 315 d.C.). No entanto, a apologética mais importante de todas foi “A Cidade de Deus” de Agostinho (426 d.C.).

Até a igreja ser reconhecida por Constantino, ela era acusada de canibalismo e promiscuidade sexual por se reunir em segredo em lugares como as catacumbas. Porém, após ser reconhecida imperialmente, ela teve que enfrentar acusações de mundanismo.

Foi para explicar este último que Agostinho escreveu e tomou como sua tese a “Cidade de Deus” em contraste com a cidade do mundo.

Na Idade Média, a apologética lutou com questões como a Trindade e a encarnação, conhecíveis apenas pela fé, em contraste com a razão e os fatos da ciência e do mundo material.

Aquino fez uma síntese parcial que se tornou a posição oficial do romanismo. Pela razão, o homem pode argumentar quanto à existência de Deus e até conhecer a Deus; mas a Trindade e a encarnação são inacessíveis à razão, dadas pela revelação e recebidas somente pela fé.

3. Apologética moderna

(a) Apologética católica romana: Caracteriza-se pelo atributo tanto da origem quanto da interpretação infalível das Escrituras à igreja, além de ensinar que a teologia racional é possível e coexiste com a teologia revelada. A razão humana pode levar ao conhecimento de Deus e à salvação. A falha em alcançar a verdade pela teologia racional se atribui à preguiça de alguns e à incapacidade racional de outros, enquanto Deus, em sua graça, escolhe dar a revelação. A igreja católica romana desenvolveu uma apologética própria, com escritores habilidosos produzindo livros eficazes como “The Faith of Our Fathers” do cardeal James Gibbons, e “Katkolieke Geloofsverdediging” do cardeal Brocardus Meijer, uma obra holandesa abrangente sobre apologética.

(b) Apologética protestante: Calvino apresenta um forte elemento de apologética em sua obra “Institutes”, combinando-a com a teologia. Outras obras notáveis de apologética antes da era moderna incluem “Analogy of Religion” de Joseph Butler (1736) e “Apologetics or Christianity Defensively Stated” de A. B. Bruce (1892), que foi uma obra padrão em inglês por muitos anos. Atualmente, autores como Carnell e Ramm lideram a causa evangélica na apologética, embora tenham enfrentado dificuldades, especialmente em relação à infalibilidade absoluta da Bíblia em seu texto original, o que exigiu a intervenção de outros nesse ponto.

Temas importantes da apologética cristã

Alister McGrath, importante professor de Teologia, ex-ateu convicto e grande escritor sobre apologética, resumiu em três pontos os temas mais importantes dentro da discussão de apologética cristã, sendo eles:

  • defesa
  • tradução
  • apreciação.

Defesa

O primeiro ponto que deve ser considerado para se fazer apologética é a identificação dos empecilhos a fé, ou seja, pesquisa e estudo, para que uma boa argumentação – defesa – seja feita.

De acordo com o autor, “Alguém manifesta uma inquietação acerca da fé cristã; somos obrigados a considerá-la. Felizmente, há respostas excelentes à disposição. Cabe ao apologeta, portanto, conhecê-las e compreendê-las”.

Apreciação

Depois de ter feito a pesquisa para defesa da fé, o apologeta possibilita que a verdade e a aplicabilidade do evangelho sejam apreciadas pelo público. Ele deve demonstrar a beleza de Jesus Cristo de tal modo que os que não creem compreendam a razão pelo qual Cristo deve ser levado a sério. Ou seja, ele vai expor, exibir, sua argumentação convincente.

Tradução

Por fim, cabe a apologética traduzir os temas e ideias mais importantes da fé cristã ao público que não o conhece de forma acessível e simples. Seu papel não é mudar a mensagem, transformá-la ou modificá-la de alguma forma, mas traduzir esse conteúdo ao público. C.S. Lewis era reconhecidamente mestre nesse aspecto; “As Crônicas de Nárnia” e suas lendárias histórias nos comprovam isso.

Mas é claro, o maior mestre na tradução da mensagem é o próprio Jesus. As parábolas foram usadas nesse sentido. Ele usava linguagem e imagens conhecidas da cultura rural da Palestina para transmitir as verdades inabaláveis do Reino de Deus ao seu público.

significado da palavra evangelho na Bíblia

A preocupação da apologética

Em suma, McGrath (2013), afirma que apologética se preocupa em:

  • Identificar os questionamentos da sociedade sobre a fé cristã
  • Comunicar o entusiasmo que a fé cristã proporciona
  • Traduzir as ideias fundamentais do Reino de Deus em linguagem acessível aos que não creem.

É por isso que o tema é tão necessário e importante, afinal, há milhões de pessoas que ainda não conhecem a Cristo e que questionam a veracidade dos fatos descritos na Bíblia.

Nosso papel, como cristãos, não é simplesmente julgar e condenar a humanidade que está fora dos padrões bíblicos, mas aproximá-la ao máximo para que elas compreendam o porquê cremos no que cremos e conheçam o Senhor.

Você consegue dizer o porquê você crê na mensagem do Evangelho sem usar argumentos emocionais, sensoriais e sentimentais para responder tal pergunta? A Apologética faz isso e, com ela, conseguimos glorificar a Deus com nosso culto racional, como nos indica o livro de Romanos.

O objetivo da apologética

  1. Estabelecer Contato: Envolver-se com aqueles que possuem opiniões erradas ou perigosas, ou que atacam a revelação e a fé cristãs.
  2. Buscar uma Área Neutra: Encontrar uma área em que o problema possa ser discutido de forma imparcial, demonstrando inicialmente a fraqueza da opinião em questão em alguma área comum a todos, como a filosofia ou a lógica.
  3. Expor Problemas Teológicos: Destacar os problemas teológicos levantados pelas objeções e questionamentos, demonstrando as inconsistências ou falhas nas posições contrárias.
  4. Apresentar as Convicções da Igreja: Expor as convicções da igreja em suas confissões e credos, interpretando o ensinamento das Escrituras e demonstrando a racionalidade por trás delas.

A abordagem busca uma base comum para o diálogo com o adversário, sem impor rigidez ou forçar as Escrituras sobre os duvidosos ou agnósticos.

Ao considerar cada aspecto do problema antes de entrar no mérito das próprias Escrituras, abre-se a mente do adversário para considerar a própria posição e as respostas de Deus.

Giovanni Bruno

Formado em Comunicação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), acadêmico de Teologia, pela FATIPI, e pós-graduando em Docência no Ensino Superior, pela UniCesumar e autor do livro “O Carpinteiro de Betel”.

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