5 coisas na Bíblia que não devemos interpretar literalmente

A hipérbole aparece o tempo todo nas conversas diárias. Usamos para dar ênfase, provocar emoções fortes e reforçar um ponto de vista. Exageramos para destacar algo, mas não devemos entender tudo de forma literal. Ela traz cor, humor e drama para nossa fala.

A Bíblia, sendo um livro sagrado e divinamente inspirado, também recorre a diferentes estilos literários, como poesia, metáforas e até hipérboles.

Jesus usou a hipérbole para ensinar grandes verdades de forma marcante. Mas, muitas vezes, suas palavras não eram para ser tomadas ao pé da letra.

Entender as escrituras envolve refletir sobre quando Cristo usou a hipérbole para reforçar sua mensagem. Vamos olhar para alguns exemplos significativos.

1. Pisando serpentes e escorpiões

“Eis que vos dou autoridade para suprimir serpentes e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo, e nada vos causará dano algum”.

Lucas 10:19

Este verso aparece nas instruções de Jesus aos discípulos ao enviá-los para pregar. As metáforas, como “serpentes e escorpiões” e “poder do inimigo”, podem indicar os perigos espirituais e a resistência, e não se referem a criaturas literais.

Interpretar Lucas 10:19 de forma literal pode gerar confusão e atitudes arriscadas. Se o tratarmos como um guia para lidar com animais perigosos ou testar a resistência de alguém, podemos perder a mensagem mais ampla de fé e obediência.

Uma leitura restrita, que toma tudo de forma literal, ignora os ensinamentos sobre humildade e confiança em Deus. A Bíblia sempre orienta os crentes a confiar na proteção de Deus, e não a desafiá-la de forma imprudente.

O contexto original envolvia o envio dos discípulos para espalhar o evangelho, enfrentando resistência espiritual e física.

Da mesma forma, nossa missão na Grande Comissão nos chama a fazer discípulos, e, ao longo do caminho, encontraremos desafios semelhantes.

No entanto, encontramos consolo na proteção e no poder de Deus, que nos capacitam a superar esses desafios enquanto seguimos Sua missão.

2. Arrancando o olho

“Se o teu olho direito te leva a pecar, arranca-o e lança-o para longe de ti; pois é melhor perderes um dos teus membros do que todo o teu corpo ser lançado no inferno. E se a tua mão direita te faz pecar, corta-a e lança-a para longe de ti; pois é melhor perderes um dos teus membros do que todo o teu corpo ser lançado no inferno”.

Mateus 5:29-30

Neste trecho, Jesus usa uma figura de linguagem exagerada para mostrar a gravidade do pecado. A nossa desobediência a Deus não só nos prejudica, mas também afeta os outros. Para Deus, o pecado é algo profundamente perturbador, que vai contra a imagem d’Ele em que fomos criados.

A imagem impactante de Jesus, que fala sobre arrancar nossos próprios olhos, ilustra o quão destrutivo e terrível é o pecado. Ele está dizendo que devemos evitar o pecado como evitaríamos nos machucar fisicamente, pois ele dilacera nossa alma eterna.

No entanto, é importante entender que Jesus não está realmente mandando nos mutilarmos fisicamente. Ele está ressaltando a importância de vivermos com justiça e integridade espiritual. Em vez de nos desfigurarmos, Ele quer que vivamos segundo os princípios da santidade.

Além disso, Jesus deixa claro que o pecado começa no coração, não nas ações externas. A automutilação física não resolve o problema do pecado, que está nos desejos internos.

O que devemos focar são os desejos internos que precisam ser transformados e removidos. Jesus sempre falou sobre arrependimento e mudança de coração, não sobre comportamentos externos. Tomar esses versículos de forma literal vai contra a mensagem de graça, perdão e transformação que Jesus pregou.

Embora Jesus usasse linguagem exagerada para destacar a seriedade do pecado, Ele sempre falava sobre a necessidade de arrependimento e transformação interior, em vez de sugerir uma automutilação religiosa extrema. Seu ensinamento central é sobre graça e mudança interior.

3. Comer carne e beber sangue

“Então Jesus lhes disse: Em verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem vem a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem vem a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu nele”.

João 6:53-56

A interpretação literal desse ensinamento pode parecer confusa, principalmente porque entra em conflito com a visão sacramental da Santa Ceia em muitas tradições cristãs. A maioria dos cristãos vê o pão e o vinho como símbolos do corpo e do sangue de Cristo, lembrando o Seu sacrifício, em vez de crer que se transformam literalmente em Sua carne e Seu sangue.

Após quase dois mil anos de ensinamentos e práticas religiosas, comer carne e beber sangue humanos não faz parte do ritual cristão. Na época de Jesus, os judeus não compreendiam dessa forma, e a multidão que ouviu essas palavras ficou naturalmente confusa e ofendida.

Jesus usava hipérboles para ensinar verdades profundas, o que sugere que essas palavras podem ser uma metáfora. Vale lembrar que consumir carne e sangue humanos violaria diretamente as proibições bíblicas sobre o consumo de sangue (Levítico 17:11-12).

As palavras de Jesus soaram como canibalismo e sacrifício humano, práticas condenadas por Deus e associadas a nações ímpias e idólatras.

No momento, Jesus não explicou que não falava literalmente, o que fez muitos o abandonarem. Isso foi um grande desafio para aceitar Sua mensagem de forma plena.

Ele então voltou para Seus discípulos e perguntou se eles também o deixariam. A resposta deles foi: “Para onde iríamos? Só Tu tens palavras de vida.” Eles permaneceram com Ele e, mais tarde, durante a Ceia, receberam uma explicação mais completa.

4. Odiar pai e mãe

“Se alguém vem a mim e não prioriza a Cristo acima de pai e mãe, esposa e filhos, irmãos e irmãs, e até mesmo a própria vida, não pode ser meu discípulo”.

Lucas 14:26

Será que Jesus realmente nos instruiu a odiar nossos familiares? Essa interpretação literal desses versículos parece contradizer outros ensinamentos de Jesus sobre amor, compaixão e responsabilidade familiar.

Jesus ensinou o mandamento de amar o próximo como a nós mesmos e contou a parábola do Bom Samaritano, que destaca a importância de cuidar dos outros.

Para compreender essa passagem, é importante vê-la à luz da mensagem geral da Bíblia. Os ensinamentos de Jesus enfatizam o amor, a reconciliação e a harmonia entre as pessoas e suas famílias.

João Batista, em uma profecia sobre a vinda do Messias, falou sobre como Deus faria com que o coração dos pais se voltasse para os filhos e vice-versa.

O uso do termo “ódio” é extremo, especialmente quando se trata de familiares, e isso chama a atenção de todos. No entanto, Cristo não nos instruiu a sermos abusivos ou a alimentar ódio por nossa família.

O foco aqui está na prioridade que devemos dar a Cristo em nossas vidas. Os discípulos de verdade devem amá-Lo acima de tudo, o que explica por que algumas traduções dizem: “Quem ama pai ou mãe mais do que a mim não é digno de ser meu discípulo”.

Devemos buscar, em primeiro lugar, o Reino de Deus e Sua justiça. Quando fazemos isso, todas as nossas preocupações terrenas, incluindo os relacionamentos familiares, são resolvidas, o que também envolve a busca pela reconciliação.

5. A Luxúria e o Adultério

“Vocês ouviram que foi dito aos antigos: ‘Não cometerás adultério’. Mas eu lhes digo que qualquer um que olhar para uma mulher com desejo impuro em seu coração, já cometido adultério com ela”.

Mateus 5:27-28

Mais uma vez, Jesus usa uma linguagem forte para mostrar a seriedade do pecado. Esse versículo faz parte do contexto em que Ele fala sobre arrancar os olhos e está no Sermão da Montanha. Jesus continua a frisar a importância de lidar com as causas profundas do pecado, em vez de focar apenas nas ações externas.

Na época de Jesus, era comum que homens casados quisessem se relacionar com outras mulheres. Como isso seria adultério, eles se divorciavam de suas esposas e se casavam com outra. A Lei de Moisés permitia o certificado de divórcio, e muitos usavam isso para justificar o adultério. Jesus desafiou essa prática, deixando claro que, mesmo nesses casos, o adultério continuava (Mateus 5:32).

O que Jesus realmente contestava era a abordagem legalista dos judeus em relação à lei divina e à sociedade. Eles manipulavam a Lei de Deus para atender aos próprios desejos. A Lei Mosaica foi dada para promover compaixão e redenção, não como uma brecha para o pecado. O olhar de Deus vai além das ações externas e atinge o coração humano, onde a raiz do adultério, a luxúria, se encontra.

Jesus estava chamando todos ao arrependimento. Na Nova Aliança, somos novas criaturas, cheias do Espírito Santo e participantes da natureza divina. Devemos nos arrepender e permitir que o Espírito Santo transforme nossos corações.

Ao ler a Bíblia, é fundamental buscar a interpretação do Espírito Santo e confiar nos ensinamentos de professores fiéis da comunidade cristã, para entender os significados profundos que podem transformar nossos corações para o nosso benefício eterno e para o bem dos outros.

Leia mais: Como interpretar a Bíblia de forma correta: 7 Princípios.

Equipe Redação BP

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