Isaías 53: Estudo versículo por versículo comentado e explicado

Neste estudo, vamos mergulhar em Isaías 53, um dos capítulos mais profundos e impactantes das Escrituras. Comentaremos versículo por versículo, buscando compreender seu significado e aplicação em nossas vidas.

Prepare-se para descobrir as riquezas desta passagem profética. A qual revela o sofrimento do Servo de Deus e o plano de redenção para a humanidade, refletindo sobre o sacrifício e o amor incondicional.

Quem foi o autor de Isaías 53?

O autor de Isaías 53 é o profeta Isaías, uma figura de destaque no Antigo Testamento, que viveu aproximadamente 700 anos antes de Cristo. Conhecido como o “profeta messiânico”, Isaías se apresenta como filho de Amós, um membro de uma família real.

Seu ministério profético começou em um período crítico, coincidente com a morte do rei Uzias de Judá, o que permite situar o início de sua atuação por volta de 740 a.C.

Isaías profetizou durante os reinados de vários reis de Judá, incluindo Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias. Sua carreira se estendeu por cerca de 64 anos, período em que observou a ascensão do império assírio e a queda do reino do norte de Israel.

Ele fez alertas constantes ao povo e à liderança sobre a importância da santidade e da justiça diante de um cenário marcado por paganismo e idolatria.

O nome Isaías significa “o Senhor é nossa salvação”, refletindo a mensagem central de sua obra. Apesar de seus esforços em pregar a justiça e a salvação, Isaías enfrentou resistência e inimigos. Segundo a tradição, ele morreu após denunciar as injustiças do rei Manassés e ser serrado ao meio.

Os escritos de Isaías, incluindo o famoso capítulo 53, continuam a ser uma fonte de inspiração e reflexão, não apenas para os cristãos, que veem ali uma clara referência ao sacrifício de Jesus Cristo, mas também para o judaísmo, que interpreta o “servo sofredor” de maneira diversa.

Propósito da mensagem de Isaías 53

significado de Isaías 53

O propósito da mensagem de Isaías 53 é revelar a profundidade do sofrimento e da glória vinda do Servo Sofredor, o próprio Jesus Cristo.

Este capítulo descreve a aparência humilde e despretensiosa de Jesus em sua natureza humana, Seus sofrimentos incomparáveis ​​e a glória que se seguiria após Sua obediência até a morte.

Ele começa com uma lamentação pelo número limitado de pessoas que creram na mensagem a respeito d’Ele. Destacando que o poder de Deus acabou não sendo reconhecido.

A descrição generalizada foi atribuída à simplicidade de Sua aparência e às circunstâncias externas que não despertavam admiração.

Entretanto, a sua dor e humilhação não eram por conta própria; Ele carregava as tristezas e os pecados da humanidade. Através de Suas feridas, o povo recebeu cura, como descrito em Isaías 53:4-6.

Mesmo diante de um sofrimento injusto e incompreendido, Ele suportou tudo com paciência e silêncio, como um cordeiro levado ao matadouro, conforme Isaías 53:7.

O mais impressionante é que, embora inocente de qualquer culpa, Ele foi tratado de maneira bárbara e cruel por causa dos pecados dos outros.

A mensagem também enfatiza que o próprio Deus estava por trás desse sofrimento, permitindo que o Servo fosse afligido, mas com um propósito maior.

Isaías 53:10 destaca que, por meio de Seu sacrifício, Ele teria sucesso, prosperaria e justificaria muitos. Sua recompensa seria grandiosa, com uma vasta descendência espiritual e uma parte honrosa entre os grandes.

O capítulo, portanto, tem o propósito de apontar para a redenção oferecida por meio do sofrimento e da glória de Cristo. Ressaltando a profundidade de Seu sacrifício por toda a humanidade.

Características de Jesus em Isaías 53

características de Jesus em Isaías 53

1. Humildade: Jesus é descrito como “um broto” que cresce em “uma terra seca”, sem beleza ou majestade que atraísse as pessoas (Isaías 53:2). Essa imagem enfatiza sua origem humilde e sua simplicidade.

2. Desprezo e Rejeição: Ele foi “desprezado e rejeitado” pelos homens, um homem de dores e que conheceu o sofrimento (Isaías 53:3). Característica da qual mostra que Jesus não foi aceito por seu próprio povo, refletindo a rejeição que enfrentou durante seu ministério.

3. Sofredor: Jesus é identificado como “homem de dores”, experimentado em sofrimento. Isso revela que Ele não apenas enfrentou dor física, mas também emocional e espiritual, carregando o peso do sofrimento humano.

4. Sacrifício: O texto afirma que Ele “tomou sobre si as nossas enfermidades” e “levou as nossas doenças” (Isaías 53:4). Essa característica aponta para seu papel como Sacrifício expiatório, assumindo os pecados da humanidade e trazendo cura.

5. Intercessor: Jesus é descrito como aquele que “intercedeu” pelos transgressores (Isaías 53:12). Isso demonstra sua natureza como mediador entre Deus e a humanidade, oferecendo perdão e reconciliação.

6. Justo e Sagrado: O versículo 9 menciona que Ele “não cometeu violência” e “nenhuma mentira havia em sua boca”. Destacando a pureza e a justiça de Jesus, evidenciando Sua natureza divina.

7. Vencedor sobre a Morte: O capítulo também menciona que, após o sofrimento, Ele verá a luz e ficará satisfeito (Isaías 53:11). Isso indica a ressurreição e a vitória de Jesus sobre a morte, trazendo esperança e salvação para a humanidade.

8. Doador de Vida: A promessa de que “prolongará seus dias” e “verá sua prole” (Isaías 53:10-11) reflete que, mesmo após o sacrifício, Jesus traz vida e salvação, justificando muitos por meio de seu sofrimento.

Comentário versículo por versículo de Isaías 53

comentário versículo por versículo de Isaías 53

1. “QUEM deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou o braço do SENHOR?” (Isaías 53:1)

Isaías começa expressando a frustração de falar a uma audiência predominantemente incrédula (veja Isaías 28:9-15; 29:10-15; 30:9-11; 42:23). Ele antecipava que a descrição aumentaria ainda mais ao ouvir uma profecia tão extraordinária quanto a que estava prestes a apresentar.

Embora Isaías pareça sugerir que ninguém acreditaria em sua mensagem, essa questão carrega um tom de exagero retórico.

A expressão “nossa pregação” refere-se à mensagem ou revelação divina divulgada pelos profetas. Especialmente as profecias messiânicas que Isaías proclamou (veja Isaías 28:9, 19; Jeremias 49:14).

A segunda parte do versículo, “a quem foi revelado o braço do Senhor?”, faz referência ao poder de Deus. Simbolizado pelo “braço” que foi desnudado em favor de seu povo. Esse braço foi desnudado, ou seja, revelado a todas as nações (Isaías 52:10), mas muitos não tinham olhos de fé para considerar a ação divina.

Mesmo os próprios judeus, em muitos casos, não consideraram o movimento de Deus nas vitórias de Ciro, nem viram as exceções divinas na restauração do povo de Israel à sua terra. A incredulidade, muitas vezes, atribuída até os atos mais evidentes de Deus a meras coincidências

Essa abertura reflete a dificuldade de se aceitar a mensagem da redenção, que requer uma percepção espiritual além da lógica humana.

2. “Porque foi subindo como renovo perante ele, e como raiz de uma terra seca; não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos.” (Isaías 53:2)

O versículo 2 descreve a origem humilde e o desenvolvimento do Servo de Deus, apontando para o Messias. Isaías utilizou o tempo passado, estabelecendo a certeza profética de que esses eventos já foram estabelecidos nos planos de Deus desde a fundação do mundo.

A expressão “perante ele”, ou “diante de Jeová”, sugere que o crescimento de Cristo ocorreu sob a constante vigilância e cuidado do Pai. Como visto também em Lucas 2:40 e 52, onde menciona que Jesus cresceu em sabedoria, estatura e graça diante de Deus.

A comparação “como raiz de uma terra seca” indica que o Messias seria um rebento frágil. Emergindo de uma árvore derrubada, simbolizando a monarquia davídica que foi destruída.

Essa imagem remete à profecia de Isaías 11:1, onde se fala do “ramo” que brotaria da raiz de Jessé.

Embora Cristo fosse o descendente da casa de Davi, Ele não surgiu com glória e esplendor mundanos, mas com simplicidade e humildade.

Essa mesma metáfora também sugere que Ele cresceria em um ambiente espiritualmente estéril e corrupto, onde poucos esperavam que algo grandioso surgisse.

Apesar de ser o Messias, Ele não tinha “beleza nem formosura”, ou seja, não possuía características externas que atraíssem atenção ou que O destacassem de maneira notável aos olhos humanos.

Não havia Nele a majestade típica de um rei, nem um esplendor que pudesse despertar o interesse de muitos.

O que Isaías quer comunicar é que Cristo, em sua vinda, não impressionaria por sua aparência ou por declarações externas. Seu poder e beleza eram espirituais, discerníveis apenas por aqueles que olhavam além das aparências físicas.

Assim, ao descrever o Servo como alguém sem “aparência para que o desejássemos”, Isaías destaca que muitos falhariam em reconhecer o valor do Messias. Porque suas expectativas estavam focadas na aparência externa e em sinais de poder visível.

Contudo, as verdadeiras qualidades do Servo, como Sua santidade, graça e majestade interior, só poderiam ser percebidas espiritualmente, por aqueles que tinham olhos espirituais para ver.

3. “Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum.” (Isaías 53:3)

O versículo 3 de Isaías 53 afirma que Ele “foi desprezado” , mostrando que Cristo não foi valorizado por aqueles que O encontraram.

Jesus sofreu o desprezo de muitos. Como visto durante a noite e o dia que antecederam Sua crucificação (Mateus 26:67-68; Marcos 14:65), quando Ele foi humilhado, cuspido e espancado.

A expressão “rejeitado pelos homens” pode ser traduzida como “abandonado pelos homens”, indicando que as pessoas se afastavam Dele, mantendo uma distância emocional e física.

Esse afastamento não foi apenas da multidão geral, mas também de muitos que inicialmente O seguiam.

Em João 6:66, muitos dos discípulos de Jesus voltaram para trás e não mais andaram com Ele. Até aqueles que confiaram Nele, como Nicodemos, vinham secretamente, com medo das repercussões (João 3:2).

Além disso, “todos os governantes e grandes homens se mantiveram distantes dele” (João 7:48), e até mesmo seus discípulos o abandonaram no momento de Sua prisão (Mateus 26:56).

Ao descrever Jesus como “um homem de dores”, o profeta destaca que Cristo não apenas experimentou sofrimento físico, mas também dor emocional profunda.

A palavra usada para “dores” pode se referir a várias formas de sofrimento. Embora possa incluir aflições físicas, é mais comum associá-la à tristeza e à angústia da alma.

A vida de Jesus foi marcada por lutas constantes, e Seus sofrimentos são evidentes em todas as páginas dos Evangelhos.

A frase “experimentado no trabalho” indica que Jesus conhecia intimamente as aflições humanas, tanto físicas quanto emocionais.

O termo hebraico “kholi”, traduzido como “doença”, também pode ser entendido no contexto de sofrimento mental ou espiritual. Indicando que Ele carregava não apenas a doença física, mas também as tristezas humanas (Jeremias 6:7).

Quando Isaías diz “escondemos Dele nossos rostos” , isso reflete a atitude daqueles que rejeitaram o Messias. As pessoas desviavam o olhar, não queriam reconhecê-lo, ignorando deliberadamente sua presença.

Por duas vezes, Isaías usa o termo “desprezado” , enfatizando que Cristo foi subestimado e tratado com indiferença. Essa repetição reflete o estilo característico do profeta. Que usa a ênfase para chamar a atenção ao peso da vítima e humilhação que o Messias sofreu.

4. “Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido.” (Isaías 53:4)

Após descrever a humilhação de Cristo nos versículos anteriores (2 e 3), Isaías declara com ênfase que todas as dores e aflições que Ele suportou não eram Suas, mas nossas. O profeta usa pronomes enfáticos para destacar que o Servo tomou sobre si as aflições que transmitem à humanidade.

O motivo da humilhação e do sofrimento de Cristo é claramente apresentado: Ele suportou tudo de maneira vicária, ou seja, em nosso lugar. Para nos salvar das consequências dos nossos pecados e nos livrar do castigo que merecíamos.

Isaías reitera essa verdade com grande ênfase, repetindo-a várias vezes nos versículos seguintes. Esse ensinamento é fundamental tanto no Antigo quanto no Novo Testamento (veja Mateus 20:28; João 11:50-52; Romanos 3:25; 2 Coríntios 5:18-21; 1 Pedro 2:24 ). Formando a base da esperança e confiança dos cristãos.

A frase “tomou sobre si nossas enfermidades” se refere ao fato de que os sofrimentos de Cristo são o remédio para todos os homens.

Embora Mateus aplique essa passagem aos milagres de cura de Jesus (Mateus 8:17), isso pode ser visto como uma aplicação secundária. O sentido principal é que Ele carregou as aflições físicas e espirituais da humanidade, redimindo-nos por meio de Sua dor e sofrimento.

Contudo, a percepção popular daqueles que testemunharam Sua morte foi equivocada. Eles acreditaram que Cristo sofreu por Seus próprios pecados, sendo ferido e castigado por Deus.

Em vez de reconhecerem que Ele estava carregando os pecados de outros como nosso Mediador, zombaram e insultaram-No. Mesmo estando em meio às Suas maiores agonias (Mateus 27:39-44).

Apenas um homem, o centurião romano, ao pé da cruz, foi capaz de considerar a verdade e declarar:

“Certamente este era um homem justo.” (Lucas 23:47)

Por fim, Isaías 53:4 revela a natureza vicária do sofrimento de Cristo e como Ele, em Seu amor, suportou nossas dores para nos oferecer salvação.

5. “Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.” (Isaías 53:5)

Este versículo destaca quatro afirmações poderosas sobre a verdade central da expiação: os sofrimentos de Cristo foram em nosso lugar, como pagamento pelos nossos pecados. Embora a linguagem varie, o significado é o mesmo.

Cristo foi “ferido” ou “transpassado” por nossos pecados, o que incluía:

  1. Os espinhos cravados em sua cabeça,
  2. Os pregos que perfuraram suas mãos e pés, e
  3. A lança do soldado que atravessou seu lado (João 19:34).

A palavra “ferido” também pode ser traduzida como “esmagado”. Uma expressão forte em hebraico que denota sofrimento extremo, até o ponto da morte (veja Isaías 3:15; 19:10; 57:15; Salmo 72:4).

Esse sofrimento foi intenso e deliberado, apontando para o sacrifício total de Cristo.

O versículo continua: “O castigo que nos trouxe paz estava sobre ele”. Aqui, vemos que o castigo que Ele suportou foi o que nos proporcionou paz com Deus.

Essa paz significa o fim da separação entre o homem pecador e um Deus ofendido, reconciliando os dois e restabelecendo um relacionamento de harmonia (veja Efésios 2:15-17 e Colossenses 1:20).

Através de sua morte na cruz, Jesus desfez a inimização e trouxe a reconciliação entre Deus e a humanidade.

Finalmente, “pelas suas pisaduras fomos sarados” refere-se à cura espiritual que recebemos por meio dos sofrimentos de Cristo.

Suas feridas, causadas pela flagelação (Mateus 27:26), pelos golpes na cabeça e pelo castigo judicial que suportou (Mateus 27:30), foram os meios pelos quais recebemos a cura para a nossa alma.

Como afirma 1 Pedro 2:24, “e pelas suas feridas fostes sarados.”

Essa cura é completa e permanente, trazendo redenção, perdão e restauração a todos que creem.

Este versículo encapsula o coração do Evangelho: Cristo sofreu em nosso lugar para nos dar paz e cura. Oferecendo-se como o sacrifício perfeito pelos pecados da humanidade.

6. “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos.” (Isaías 53:6)

Isaías usa a metáfora das ovelhas para descrever a condição da humanidade.

“Todos nós” refere-se tanto à nação de Israel quanto à humanidade como um todo. Assim como ovelhas que se perdem no deserto do pecado (Salmo 107:4; 119:176; Ezequiel 34:6), a humanidade se desviou do caminho certo. Esse desvio aponta para a necessidade urgente de expiação e redenção, não apenas para Israel, mas para toda a raça humana.

“Cada um se desviava para o seu próprio caminho” – Essa frase enfatiza que o pecado é tanto coletivo quanto individual. Não há exceção, pois “não há quem faça o bem, não, nem um” (Salmo 14:3).

Cada pessoa, em sua rebelião, seguiu seu próprio caminho, abandonando a “vereda do Senhor” (Isaías 40:3) para seguir seus próprios interesses egoístas (Isaías 66:3).

“Mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós” – Aqui, Isaías revela que Deus, o Pai, colocou sobre o Servo Sofredor, identificado como Cristo, o fardo dos pecados da humanidade.

O Filho aceitou esse fardo voluntariamente, vindo ao mundo para fazer a vontade do Pai. Ele orou no Getsêmani:

“Pai, se possível, afasta de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres.” (Mateus 26:39)

O apóstolo João afirma que o Pai enviou o Filho como propiciação pelos pecados (1 João 4:10), enquanto Paulo explica que Deus “fez daquele que não tinha pecado, pecado por nós” (2 Coríntios 5:21).

Essa ação não diminui a misericórdia e bondade do Filho, que aceitou o fardo imposto pelo Pai.

A frase “a iniqüidade de todos nós” ressalta que a redenção é tão universal quanto o pecado. O sacrifício de Cristo na cruz apresenta-se como um sacrifício completo, perfeito e suficiente.

Assim, Isaías 53:6 revela não apenas a gravidade do pecado, mas também a extensão da graça divina, oferecendo esperança e redenção a toda a humanidade.

7. “Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca.” (Isaías 53:7)

Isaías apresenta uma imagem poderosa do sofrimento do Servo de Deus, comparando-o à experiência de Israel sob a opressão dos capatazes egípcios (Êxodo 3:7).

A referência à aflição de Cristo, especialmente durante Seu julgamento diante dos sumos sacerdotes e de Herodes, ressalta a crueldade do tratamento que Ele recebeu.

Ao sofrer opressão, Ele não se defendeu nem reclamou, mas se entregou completamente à vontade do Pai (Isaías 31:4 e Êxodo 10:3).

A estrutura da frase enfatiza a auto-humilhação de Cristo. A tradução que diz “Ele foi oprimido, mas não abriu a boca” destaca o contraste entre o silêncio de Jesus e a tendência humana de se autoafirmar em momentos de injustiça.

O silêncio de Jesus diante de seus juízes, mesmo quando poderia facilmente ter se justificado de todas as acusações (Mateus 26:62-63; Mateus 27:14), foi uma forma de humilhação que, à primeira vista, poderia parecer uma admissão de culpa.

Essa atitude se reforça por referências nos Salmos 38:13-14 e Salmos 39:2,9, que destacam a importância do silêncio em momentos de provação.

O contraste entre o silêncio passivo do Servo e a veemência de outras pessoas que enfrentam situações similares é impactante. Enquanto muitos, sob provocação extrema, se defendem com fervor, Cristo se manteve em silêncio, uma resposta surpreendente que reflete Sua humildade e submissão.

Isaías também usa duas imagens evocativas para ilustrar o sofrimento do Servo:

“Ele é levado como um cordeiro” e “como uma ovelha diante dos seus tosquiadores”.

A primeira imagem pode remeter ao cordeiro pascal ou ao cordeiro sacrificial, evocando o sacrifício inocente que é levado ao altar.

Essa visão comovente pode ter influenciado João Batista, que se referiu a Jesus como “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29).

A segunda imagem, que se refere à ovelha, complementa a primeira, proporcionando um retrato mais suave do sacrifício do Servo.

Assim, Isaías 53:7 captura a essência do sofrimento redentor de Cristo, mostrando como Ele, em sua inocência, se entregou silenciosamente à morte, em cumprimento à vontade de Deus e ao plano de salvação para a humanidade.

8. “Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da sua vida? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; pela transgressão do meu povo ele foi atingido.” (Isaías 53:8)

O versículo 8 de Isaías 53 descreve a severidade do tratamento que o Servo de Deus enfrentou.

“Da opressão e do juízo foi tirado” – A expressão indica a remoção de um estado de opressão e injustiça, sugerindo que sua condenação sofreu uma “violência que se escondeu sob as formalidades de um processo legal”, como aponta o Dr. Kay. Essa frase ressalta a natureza injusta do julgamento que sofreu.

A pergunta “Quem contará o tempo de Sua vida?” traz um sentido de desolação, questionando quem reconhecerá ou considerará a sua vida e legado.

A expressão “ele foi cortado” sugere que o Servo foi retirado da vida antes do tempo. Como uma flor que é cortada, o que ressoa com passagens como Jó 14:2 e Lamentações 3:54.

Removido da “terra dos viventes”, ou seja, da vida neste mundo atual (veja Isaías 38:11 e compare com Jó 28:13, Salmo 27:13, Salmo 52:5, Salmo 116:9, Salmo 142:2, e Jeremias 11:19).

A parte final do versículo destaca que “pela transgressão do meu povo ele foi ferido.” Essa afirmação se conecta ao versículo 5, mas aqui enfatiza a morte do Servo como um sacrifício pelo pecado da humanidade.

A expressão “meu povo” pode ser entendida como “o povo de Deus”. Sendo importante notar que, em Isaías 53:11-12, a voz se torna claramente a de Jeová, ressaltando a responsabilidade e o amor divino pelo sofrimento do Servo em nome da humanidade.

9. “E puseram a sua sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte; ainda que nunca cometeu injustiça, nem houve engano na sua boca.” (Isaías 53:9)

Aqui, o verbo é usado de forma impessoal, indicando que aqueles que condenaram Cristo o crucificariam entre dois malfeitores.

Este local de execução, conhecido como “o lugar da caveira”, estava destinado a ser um enterro comum, reservado para os ímpios. Contudo, a intervenção de José de Arimatéia mudou essa narrativa.

De acordo com a prática romana, os romanos frequentemente enterravam os crucificados próximos ao local de sua execução, junto com suas cruzes.

No entanto, Isaías acrescenta que “com o rico na sua morte”, profetizando que Cristo seria sepultado no túmulo de um homem rico.

A frase “em Sua morte” significa “quando Ele estava morto”, ressaltando a singularidade do cumprimento dessa profecia no sepultamento de Jesus, conforme registrado em Mateus 27:57-60.

A preposição utilizada em “porque” ou “embora” traz uma ambiguidade intencional, sugerindo que, apesar de sua associação com os ímpios, Jesus não cometeu nenhum crime.

O versículo continua afirmando: “Ele não cometeu injustiça” ou “não houve engano em sua boca”, deixando registrado a impecabilidade de Cristo.

Várias passagens confirmam a impecabilidade de Jesus, como João 8:46, tornando-se um argumento crucial na Epístola aos Hebreus sobre a superioridade da nova aliança (Hebreus 7:26-28; 9:14).

Além disso, apóstolos como Pedro (1 Pedro 2:22), Paulo (2 Coríntios 5:21) e João (1 João 3:5) corroboram o testemunho sobre a pureza de Cristo.

A singularidade do Servo mencionado neste capítulo aponta indiscutivelmente para Jesus, que, ao contrário de qualquer outro ser humano, permaneceu sem pecado.

10. “Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser por expiação do pecado, verá a sua posteridade, prolongará os seus dias; e o bom prazer do SENHOR prosperará na sua mão.” (Isaías 53:10)

Encontramos neste versículo, um dos mistérios profundos da obra redentora de Cristo: o sofrimento do Servo, aprovado pelo próprio Deus.

Embora a ideia de que Deus tenha se agradado em “moê-lo” possa parecer incompreensível à primeira vista, é importante lembrar que os sofrimentos de Cristo foram parte do plano divino, fruto do “determinado conselho e presciência de Deus” (Atos 2:23).

Deus permitiu essa ação, vendo no sacrifício de Cristo a condenação para o pecado da humanidade e, consequentemente, a redenção e libertação de muitos.

A expressão “agradou ao Senhor moê-lo” não sugere que Deus encontrava prazer no sofrimento em si, mas que Ele se agradou no sacrifício voluntário de seu Filho, que trouxe salvação.

O plano de redenção envolveu a plena cooperação entre o Pai e o Filho, como evidenciado em passagens como João 14:10, onde Jesus diz:

“As palavras que eu vos digo, não as falo de mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras”.

O sacrifício de Cristo foi, portanto, um ato de obediência e amor tanto do Filho quanto do Pai, operando juntos na redenção da humanidade.

A frase “quando a sua alma se puser por expiação do pecado” refere-se à oferta sacrificial de Cristo, cuja morte satisfez as exigências da justiça divina. Sua morte não foi apenas uma oferta pelo pecado, mas também uma “oferta pela culpa”, destacando que Ele assumiu tanto a expiação quanto a satisfação da culpa dos pecadores.

A promessa de que “ele verá a sua posteridade” significa que Cristo veria os frutos de seu sacrifício: seus seguidores e discípulos.

A “semente” aqui simboliza os crentes, os quais Ele geraria espiritualmente. Como Paulo refere-se a seus convertidos como filhos espirituais (1 Coríntios 4:15; Filemom 1:10), da mesma forma, Jesus veria a “semente” de sua obra redentora crescer em Seus seguidores.

“Prolongará os seus dias” pode parecer contraditório, já que o versículo 8 menciona que o “extirpariam da terra dos viventes”.

Contudo, essa promessa se refere à ressurreição de Cristo e à sua vida eterna após sua vitória sobre a morte (Romanos 6:9). Ele vive para sempre, reinando à direita de Deus.

Finalmente, “o bom prazer do Senhor prosperará na sua mão”, ou seja, o propósito de Deus para a salvação prosperaria através da instrumentalidade de Cristo, assegurando o sucesso e a eficácia de Seu sacrifício para a eternidade.

11. “Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniqüidades deles levará sobre si.” (Isaías 53:11)

“Ele verá o trabalho da sua alma e ficará satisfeito” – Essa afirmação reflete a certeza de que, apesar das dores e angústias que Ele suportou, o resultado de sua obra redentora trará alegria e satisfação.

A ideia de que não há coroa sem cruz é fundamental aqui; primeiro, o sofrimento, e depois, a glória.

O “trabalho de sua alma” – Graças a esse sacrifício, Ele poderá contemplar os frutos felizes de suas aflições, incluindo a formação da Igreja que habitará com Ele eternamente no céu (Apocalipse 7:4-17).

Além disso, o versículo menciona que “pelo seu conhecimento, meu servo justo justificará a muitos” — Isso significa que, por meio do entendimento que Cristo ensinou sobre os planos e propósitos divinos, muitos se transformarão do pecado para a justiça.

O conhecimento verdadeiro de Deus, que abrange Sua natureza e Seus propósitos para a humanidade, é fundamental para levar as pessoas à justiça. Cristo não apenas compartilhou esse conhecimento, mas também fez tudo ao seu alcance para atrair as pessoas a Deus Pai.

Os ensinamentos de Cristo trouxeram resultados profundos; sua obra redentora justificou muitos. Tanto Isaías quanto Paulo (Romanos 5:19) reconhecem essa verdade.

O versículo também ressalta dois aspectos principais do ministério de Cristo: Ele infunde justiça em seu povo e carrega o fardo de suas iniqüidades. O ato de levar as iniqüidades sobre si não é apenas causal, mas conecta-se diretamente ao seu papel de intercessor perpétuo, que obtém o perdão de Deus para aqueles que creem.

Como Delitzsch menciona, “Cristo continuamente toma sobre si nossas transgressões, apresentando de forma constante sua expiação, oferecida de uma vez por todas”.

Cristo, mesmo após sua morte, vive eternamente como um Sacerdote que distribui as bênçãos que adquiriu para seu povo.

Portanto, Isaías 53:11 revela não apenas a profunda satisfação de Cristo ao ver os resultados de Sua obra, mas também a eficácia e o impacto de Seu sacrifício na vida dos que creem.

12. “Por isso lhe darei a parte de muitos, e com os poderosos repartirá ele o despojo; porquanto derramou a sua alma na morte, e foi contado com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores.” (Isaías 53:12)

O versículo 12 começa com a afirmação “Por isso”, que conecta a mensagem anterior sobre a obra redentora de Cristo e seu sofrimento.

A promessa de que Ele “repartirá uma parte com os grandes” indica que Deus o exaltará entre os grandes conquistadores da terra. Essa linguagem reflete uma acomodação aos modos humanos de pensar, que frequentemente comparam o reino de Cristo com os reinos terrenas (veja Daniel 2:44; 7:9-14).

O apóstolo Paulo destaca essa exaltação em Filipenses 2:9, onde diz:

“Por isso também Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que está acima de todo nome”.

A frase “Ele dividirá o despojo com os poderosos” é uma repetição da ideia anterior, enfatizando a vitória e a recompensa que Cristo receberá por sua obra redentora (Provérbios 16:19).

A expressão “porque ele derramou sua alma até a morte” revela que Cristo não apenas morreu, mas, de maneira intensa e voluntária, “derramou” Sua vida, enfatizando a profundidade e a duração de Seus sofrimentos. Essa entrega total ressalta o amor e a dedicação do Messias em favor da humanidade.

O versículo continua afirmando que “foi contado com os transgressores”, referindo-se ao fato de que as pessoas consideraram Cristo como um transgressor. Como indicado em Lucas 22:37, onde Ele aplica essas palavras a si mesmo.

Durante seu julgamento, condenaram Jesus como um “blasfemador” (Mateus 26:65) e o crucificaram entre malfeitores (Lucas 23:32). Além disso, os judeus frequentemente o viam como amaldiçoado, conforme menciona Deuteronômio 21:23.

O versículo conclui com a afirmação de que “Ele expôs o pecado de muitos” e “fez intercessão pelos transgressores”. Isso indica que, enquanto Cristo “descobriu” o pecado da humanidade, Ele também intercedeu por aqueles que cometeram transgressões.

O uso do futuro aqui sugere que essa intercessão, embora iniciada na cruz, é um ato contínuo e não concluído.

As palavras de Jesus na cruz, “Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34), marcam o início de sua intercessão, que perdura até os dias de hoje (veja Romanos 8:34; Hebreus 7:25).

Esse versículo encapsula a missão de Cristo: Ele não apenas sofreu e morreu, mas também continua a interceder por nós, oferecendo esperança e reconciliação a todos os transgressores.

6 Lições que Isaías 53 nos ensina

lições de Isaías 53

1. A Sutileza do Chamado

O capítulo começa com a pergunta: “Quem creu em nossa mensagem?” Isso nos ensina que a fé frequentemente não se manifesta de maneira óbvia. Muitas pessoas não reconhecerão a verdade de Deus, mesmo quando ela se apresenta diante delas. Portanto, é importante perseverar na fé e na proclamação do evangelho, mesmo diante da incredulidade.

2. A Natureza Humilde do Messias

Isaías descreve Jesus como uma “raiz em terra seca,” sem beleza ou majestade. Essa imagem nos ensina que Deus pode operar em circunstâncias e aparências humildes. Muitas vezes, as coisas mais significativas vêm de lugares inesperados. Isso nos lembra de que não devemos julgar pela aparência, mas buscar a essência do que Deus está fazendo.

3. A Identificação com o Sofrimento Humano

Jesus é descrito como “um homem de dores e experimentado nos sofrimentos.” Isso nos ensina que Ele não é um Deus distante, mas que se identifica com nossas lutas e dores. Em tempos de sofrimento, podemos nos confortar sabendo que Ele compreende nossa dor e está conosco.

4. O Custo do Pecado

“Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças.” Isso nos lembra do peso do pecado e da importância da expiação. O sofrimento de Cristo foi um sacrifício em nosso lugar, e devemos reconhecer a seriedade do pecado e a necessidade de arrependimento.

5. O Silêncio e a Obediência do Messias

O versículo 7 menciona que Jesus “não abriu a sua boca” diante de suas acusações. Isso nos ensina sobre a importância do silêncio e da submissão em momentos de injustiça. Muitas vezes, em vez de defender a nós mesmos, precisamos confiar em Deus para vindicar nossas causas.

6. A Esperança da Ressurreição e da Redenção

O capítulo termina com a afirmação de que, após seu sofrimento, o Messias verá luz e ficará satisfeito. Isso nos ensina sobre a esperança e a promessa de que, apesar da dor e do sofrimento, a vitória e a redenção estão garantidas em Cristo. Ele não apenas sofreu, mas também triunfou, e essa vitória é nossa por meio da fé.

Indiara Lourenço

Com mais de 20 anos atuando na Pregação e Ensino, Indiara possui experiência em ministério infantil, jovem e feminino. Estudante de Teologia e ministra aulas na EBD. Mãe, esposa e serva que ama fazer a obra de Deus. Contagia a todos com sua alegria e inspira com palavras motivadoras, deixando um impacto positivo por onde passa.

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