Salmo 10 explicação e estudo completo
O Salmo 10 traz um contraste profundo em relação ao Salmo 9. No Salmo 9, o perigo é um inimigo externo que ameaça Israel; no Salmo 10, o inimigo é interno, corrompendo e destruindo a comunidade de dentro.
Havia nações perversas ao redor de Israel (Salmo 9:5), mas também pessoas malignas dentro da própria aliança (Salmo 10:4). Elas afirmavam conhecer a Deus, mas suas atitudes revelavam o contrário (Tito 2:16).
O Salmo 10 apresenta um retrato realista do homem que, aos olhos dos outros, parece justo e poderoso, mas diante de Deus é totalmente rejeitado.
Martinho Lutero destacou que, por essa descrição, Agostinho e outros intérpretes viram no Salmo 10 uma referência ao Anticristo.
Ainda assim, a explicação mais equilibrada do Salmo 10 é considerá-lo como uma exposição da impiedade humana em seu estado mais profundo, o que inclui, mas não se limita, à figura do Anticristo.
O Salmo 10 também revela um tipo específico de perversidade espiritual: homens que sabem que Deus existe, mas vivem como se Ele não existisse ou como se nunca houvesse julgamento final. São os chamados “ateus práticos”, que se tornam seus próprios deuses e fazem o que querem.
Podemos dividir o Salmo 10 em um esboço de três partes: Na primeira parte o salmista questionando Deus, na segunda ele rejeitando Deus e na terceira o salmista termina com uma afirmação de fé, confiando totalmente em Deus.
1. Questionando Deus (Salmo 10:1)
No início do salmo 10 o salmista levanta uma pergunta antiga: Por que Deus parece não agir diante da prosperidade dos perversos (vv. 2-4, 7, 10, 15) e do sofrimento dos aflitos (vv. 2, 8-10, 12, 14, 17, 18)?
Esse dilema também é visto em outros textos bíblicos (Salmo 13:1-3; 73; Jó 13:24; Jeremias 14). Os ímpios avançam pela terra, enquanto o Senhor parece distante.
Essa pergunta ecoa ao longo da história: milhões de fiéis sofreram perdas, perseguições e até a morte por causa de líderes ímpios. E onde estava Deus? (Salmo 22:1; 71:12).
Apesar de Deus mostrar cuidado especial por órfãos, viúvas e necessitados (Salmo 68:5; Deuteronômio 10:18), o salmista sente como se o Senhor tivesse “coberto os olhos” para a injustiça (Provérbios 28:27).
2. Rejeitando Deus (Salmo 10:2-13)
O salmo 10 transmite uma explicação bem concisa, descrevendo os perversos e revelando quatro declarações que expressam sua forma de pensar. As crenças deles moldam seu comportamento:
“Não há Deus” (Salmo 10:2-4) – Essa mentira dá liberdade para agirem como querem, tornando-se seus próprios deuses (Gênesis 3:5). Perseguem os justos, vivem para satisfazer seus desejos e ainda se orgulham de seus pecados (Filipenses 3:18-21). Maldizem o Senhor (vv. 3, 13) e agem com arrogância.
“Jamais serei abalado” (Salmo 10:5-7) – A falsa segurança vem da ignorância da Palavra. A paciência de Deus faz com que pensem que não serão punidos (Eclesiastes 8:11). Prosperidade e paz geram uma sensação ilusória de estabilidade que pode acabar de repente (Lucas 12:13-21). Suas bocas estão cheias de engano; Paulo cita o v.7 em Romanos 3:14.
“Deus não está me vendo” (Salmo 10:8-11) – Como leões à espreita, atacam os indefesos acreditando que Deus não observa. Usam armadilhas como caçadores, certos de que não serão descobertos.
“Deus não me julgará” (Salmo 10:12-13) – O salmista clama a Deus, usando três nomes: Jeová (Deus da aliança), El e Elohim (Deus do poder). Os ímpios se vangloriam de que não haverá julgamento, mas a Escritura lembra: “Sabei que o vosso pecado vos há de achar” (Números 32:23). Um dia haverá acerto de contas.
3. Confiando em Deus (Salmo 10:14-18)
O salmo 10 termina com uma afirmação de fé: Deus está no trono e governa tudo. O Senhor pode não explicar agora porque alguns parecem escapar impunes, mas garante que julgará os pecadores e defenderá Seu povo.
Deus vê (Salmo10:14) – Resposta ao pensamento “Deus não está me vendo”. Ele enxerga as circunstâncias externas e a dor interna causada pelos ímpios. Por isso, os necessitados podem entregar tudo nas mãos do Senhor (Salmo 55:22; 1 Pedro 5:7).
Deus julga (Salmo 10:15) – Resposta à ideia “Deus não me julgará”. O salmista pede que o Senhor exponha e destrua a maldade. Mesmo que nem sempre ocorra nesta vida, o julgamento virá (Apocalipse 6:9-11).
Deus é Rei (Salmo 10:16) – Contra a negação de Sua existência. O Senhor reina para sempre (Êxodo 15:18; Salmo 29:10). Ele está no controle.
Deus defende Seu povo (Salmo 10:17-18) – Contra a arrogância “Jamais serei abalado”. Deus ouve a oração dos aflitos, fortalece o coração e executa juízo no tempo certo (Romanos 8:28). Os que confiam nEle têm cidadania celestial (Filipenses 3:20), enquanto os que vivem apenas para as “coisas da terra” terão um fim vazio (Salmo 49:12-20).
Conclusão da explicação do Salmo 10
Podemos concluir a explicação do salmo 10, observando que nenhuma oração sincera passa despercebida, diante do trono do Senhor. E que, no Seu governo, os direitos dos frágeis são protegidos e a opressão dos poderosos não é tolerada.
Sabendo, que sempre seremos vitoriosos quando levamos nossas causas ao Rei dos reis. Diante dEle, as injustiças são corrigidas e a verdade prevalece. O Senhor continua sendo o refúgio seguro de todos os que confiam nEle.
“A arrogância é um mal que se infiltra com tanta facilidade no coração humano que, se pudéssemos remover nossos erros um a um, descobriríamos que ela seria, sem dúvida, a última e a mais difícil de arrancar.”
Richard Hooker, 1554-1600
Veja também: Salmo 11 Explicação