Isaías 6 Explicação aprofundada sobre o chamado do profeta
Quem lê os primeiros capítulos do livro de Isaías logo percebe o tom firme das suas mensagens. Mas uma pergunta pode surgir: com que autoridade Isaías ousou anunciar juízos tão severos — tanto contra os líderes de sua nação quanto contra os adoradores do templo?
A resposta está aqui no capítulo 6 de Isaías, onde encontramos o relato do dia em que Isaías teve um encontro transformador com Deus e recebeu o chamado para o ministério profético.
Antes de apontar os erros do povo, Isaías reconheceu sua própria condição e declarou: “Ai de mim!”
Esse encontro marcante com o Senhor não apenas revelou sua fraqueza, mas também o preparou para a missão que teria pela frente.
Sendo assim, neste estudo aprofundado de Isaías 6, vamos conhecer quem foi o profeta Isaías, compreender o contexto e a mensagem central desse capítulo tão significativo, analisar cada versículo para entender suas verdades espirituais e, ainda, extrair lições práticas para a nossa vida.
Um convite para refletirmos sobre como Deus chama, transforma e envia aqueles que se colocam à Sua disposição.
Quem foi Isaías?
Isaías foi um dos mais destacados profetas do Antigo Testamento, conhecido tanto pela profundidade das suas mensagens quanto pela intensidade do seu amor a Deus e ao seu povo.
Seu nome significa “salvação do Senhor” — e não por acaso, já que o tema central do seu ministério e das suas profecias é exatamente a salvação divina.
Em seus escritos, Isaías revelou cinco atos de livramento que Deus realizaria: o livramento de Judá dos assírios, a restauração do cativeiro babilônico, o retorno dos judeus espalhados entre as nações, a redenção dos pecadores pelo sofrimento do Servo do Senhor e, por fim, a libertação final da criação, quando o Reino de Deus for plenamente estabelecido.
Isaías se apresentou sete vezes como “filho de Amoz” — para não ser confundido com o profeta Amós — e era casado com uma mulher identificada como “a profetisa”.
Teve dois filhos cujos nomes carregavam mensagens proféticas ligadas ao juízo e à restauração. Seu chamado aconteceu no ano da morte do rei Uzias, por volta de 739 a.C., e seu ministério se estendeu pelos reinados de Jotão, Acaz e Ezequias.
Segundo a tradição judaica, Isaías foi martirizado sob o governo de Manassés, possivelmente serrado ao meio — fato não registrado nas Escrituras, mas mencionado em Hebreus 11:37.
Homem profundamente ligado a Deus, Isaías teve o privilégio de ver a glória do Filho de Deus (Is 6; Jo 12:41). Seu zelo pelo Senhor e pelo povo de Judá fazia dele um verdadeiro patriota — não um patriota movido por emoções passageiras, mas alguém dedicado continuamente à missão de chamar sua nação ao arrependimento.
O pecado e a falsa religião eram suas principais denúncias, e sua expressão favorita para Deus, “o Santo de Israel”, aparece em seu livro vinte e cinco vezes, revelando o centro da sua teologia: um Deus santo diante de um povo pecador.
Corajoso, Isaías não temia confrontar reis ou líderes religiosos, nem se intimidava diante da oposição. Usou até recursos dramáticos — como andar despojado durante três anos — para chamar a atenção do povo para as mensagens de Deus.
Sua habilidade para comunicar-se era notável: usava metáforas, comparações e imagens fortes para despertar uma nação cega e surda espiritualmente.
Assim como Cristo, Isaías sabia tocar a imaginação de seus ouvintes para conduzi-los à verdade divina.
Seu ministério foi marcado pela ousadia, pela fidelidade à Palavra e pela paixão em revelar ao povo o caminho da verdadeira salvação.
Sobre o que é Isaías 6?
O Reverendo Hernandes Dias Lopes comenta em uma das suas mensagens que Isaías 6 narra uma das experiências mais marcantes da Bíblia: o chamado do profeta Isaías em meio a um tempo de profunda crise política, moral e espiritual em Judá.
Isaías, um homem da nobreza, viveu o impacto da morte do rei Uzias, o que mergulhou a nação em instabilidade e decadência. Nesse contexto sombrio, Isaías não se afastou de Deus, mas buscou refúgio no templo — e ali teve uma visão transformadora que mudou o rumo da sua vida.
Primeiro, Isaías olhou para cima e viu o Senhor assentado num alto e sublime trono. Essa visão revelou a soberania e a santidade de Deus, que reina absoluto, mesmo quando os tronos da terra estão vazios.
O cântico dos serafins — “Santo, santo, santo” — destacou a santidade como o atributo central do caráter divino. Depois, Isaías olhou para dentro de si e reconheceu sua própria miséria, declarando: “Ai de mim!”
Diante da santidade de Deus, ele percebeu sua impureza e a necessidade de ser purificado.
Essa visão de Isaías 6 não apenas revelou quem Deus é, mas também quem Isaías era. Ele, que antes via o pecado dos outros, agora enxergou o próprio pecado. E foi exatamente essa postura de quebrantamento que o preparou para o chamado de Deus.
A mensagem de Isaías 6 nos ensina que, em tempos de crise, precisamos olhar para cima e contemplar a majestade de Deus, olhar para dentro de nós e reconhecer nossa condição diante Dele, e, a partir daí, responder ao chamado de Deus com um coração disposto: “Eis-me aqui, envia-me.”
Estudo aprofundado de Isaías 6 – explicando versículo por versículo

1# “No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o seu séquito enchia o templo.”
O capítulo começa situando a visão num momento histórico importante: a morte do rei Uzias, em 740 a.C. Uzias foi um dos maiores reis de Judá, mas seu final foi marcado por desobediência e disciplina divina (2 Crônicas 26:16-21).
Apesar da crise causada pela perda desse líder humano, Isaías tem uma visão do verdadeiro Rei, Deus, sentado num trono alto e majestoso — o trono celestial, e não o templo terreno de Salomão.
O “séquito” que enche o templo representa os seres celestiais que acompanham o Senhor, demonstrando que o poder e a autoridade de Deus são plenos e soberanos, mesmo quando os líderes terrenos falham.
Essa visão traz um contraste poderoso: enquanto o trono humano está vazio ou instável, o trono de Deus permanece firme e inabalável, governando o universo com autoridade suprema.
2# “Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam.”
Essa descrição transmite uma mensagem clara sobre a santidade absoluta de Deus e o temor reverente que os seres celestiais têm diante dEle.
Isaías viu serafins, seres angelicais que só aparecem nessa passagem na Bíblia. A palavra “serafim” significa “os ardentes” ou “os que queimam”, simbolizando a santidade e o fervor divino.
Cada serafim tinha seis asas: duas para cobrir o rosto, mostrando reverência e respeito diante da santidade de Deus; duas para cobrir os pés, indicando humildade e reverência; e duas para voar, simbolizando prontidão e serviço constante.
3# “E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória.”
A declaração “toda a terra está cheia da sua glória” revela que a presença, o poder e a majestade de Deus se manifestam em toda a criação. Isso reforça que o Senhor reina e governa soberanamente, mesmo quando parece que há caos na terra.
O trio de “Santo, Santo, Santo” enaltece a santidade perfeita e absoluta de Deus — uma santidade que é única e incomparável. A repetição tripla é uma forma de superlativo no hebraico.
“Senhor dos Exércitos” indica que Deus é o comandante supremo dos exércitos celestiais e, por extensão, soberano sobre todo o universo.
4# “E os umbrais das portas se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça.”
Essa atmosfera de reverência, majestade e mistério transmite a ideia da santidade e da glória de Deus, algo que toca profundamente o profeta e nos convida a olhar para além das dificuldades terrenas, para a soberania divina.
O som do louvor dos serafins é tão poderoso que causa o movimento dos umbrais das portas — possivelmente referindo-se ao templo celestial, mostrando a grandiosidade da cena.
A fumaça que enche a casa lembra a nuvem da presença de Deus, como no Antigo Testamento, onde a glória do Senhor enchia o templo (Êxodo 40:34-35; 1 Reis 8:10-11).
5# “Então disse eu: Ai de mim! que estou perdido; porque sou homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de lábios impuros; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos exércitos.”
Ao contemplar a santidade absoluta de Deus, Isaías teve uma percepção profunda da sua própria condição pecaminosa. Ele reconhece que, diante da perfeição e pureza do Senhor, ele mesmo é “homem de lábios impuros”.
“Lábios impuros” simbolizam a impureza moral e espiritual, uma consequência de um coração contaminado pelo pecado (Mt 12:34-35). Isso mostra que o pecado não está apenas nas ações, mas também nas palavras e intenções.
Isaías ainda se identifica como alguém que vive “no meio de um povo de lábios impuros”, revelando que ele estava consciente da corrupção e pecado generalizados ao seu redor, tanto pessoal quanto coletivamente.
A frase “os meus olhos viram o Rei” indica um encontro pessoal e impactante com a glória de Deus, que o levou à autoconfissão e ao reconhecimento da própria fragilidade diante do Santo.
6# “Então voou até mim um dos serafins, tendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz.”
Após a confissão do profeta, um dos serafins age como agente da purificação divina, trazendo uma brasa viva do altar.
No contexto do templo terreno, essas brasas viriam do altar onde o sangue do sacrifício era oferecido ou do incensório do sumo sacerdote, especialmente no Dia da Expiação (Lv 16:12), simbolizando a presença purificadora de Deus.
A “tenaz” é o instrumento usado para segurar a brasa, simbolizando o cuidado e a reverência no manuseio do fogo purificador.
Essa cena mostra que a purificação de Isaías não é meramente simbólica, mas uma ação real de Deus para limpar suas impurezas e prepará-lo para o ministério.
7# “Com a tenaz tocou a minha boca, e disse: Eis que isto tocou os teus lábios, e está tirada a tua iniquidade, e perdoado o teu pecado.”
O toque da brasa nos lábios de Isaías representa a purificação completa de seus pecados e impurezas. É um ato de graça e santificação.
Deus remove a “iniquidade” e perdoa o “pecado”, dois termos que indicam a totalidade da culpa e da transgressão do profeta.
Esse ato confirma que Isaías está agora apto para falar em nome de Deus e exercer o ministério profético. Antes de condenar o pecado dos outros, ele próprio passou pela purificação.
Isso ensina uma lição importante: para sermos instrumentos eficazes na obra de Deus, precisamos primeiro permitir que Ele nos purifique e nos prepare interiormente.
8# “Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Então disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim.”
Só após ter tido a visão da glória de Deus, reconhecido sua condição pecadora e recebido a purificação, Isaías estava pronto para ouvir a voz do Senhor. Isso revela que o chamado genuíno vem após a experiência de transformação pessoal.
Deus agora fala diretamente, e Isaías, já purificado, é capaz de discernir claramente a voz divina. Ouvir a voz de Deus é um privilégio concedido aos que se rendem e se deixam moldar por Ele.
A pergunta não significa que Deus não sabia quem enviaria, mas funciona como um convite celestial à voluntariedade. Essa é a maneira de Deus envolver o ser humano em Sua missão, respeitando a disposição do coração. O uso do plural “por nós” pode apontar para a Trindade ou para o conselho celestial.
“Então disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim.” Diferente de Moisés (Êxodo 3:11-4:15) e Jeremias (Jeremias 1:4-8), que inicialmente relutaram, Isaías se oferece prontamente e com disposição total. Essa resposta revela um coração submisso, agradecido e transformado pela graça.
A prontidão de Isaías destaca um dos maiores princípios do serviço cristão: Deus procura não apenas capacidade, mas disponibilidade. O Senhor realiza grandes obras através daqueles que, mesmo reconhecendo suas limitações, se colocam à disposição dEle.
A pergunta que ecoa para nós hoje é: estamos dispostos a dizer “Eis-me aqui” diante das necessidades espirituais do mundo? Em um tempo de tanta escassez de obreiros comprometidos, a atitude de Isaías continua sendo um exemplo para todos os que desejam servir a Deus.
9# “Então disse ele: Vai, e dize a este povo: Ouvi bem, mas não entendais; vede bem, mas não percebais.”
Deus envia Isaías com uma missão desafiadora: pregar a um povo endurecido.
A mensagem não viria para trazer compreensão imediata, mas exporia a cegueira espiritual do povo.
Não significa que Deus os impediria de entender, mas que a contínua rejeição deles à verdade os tornaria insensíveis.
Quando o coração resiste repetidamente à Palavra, ele vai se fechando até não mais perceber o que Deus está dizendo.
Este versículo é citado no Novo Testamento como explicação para a rejeição do evangelho pelos judeus (Mateus 13:13-15).
10# “Engorda o coração deste povo, endurece-lhe os ouvidos, fecha-lhe os olhos; para que não veja com os seus olhos, nem ouça com os seus ouvidos, nem entenda com o seu coração, nem se converta, e haja para ele cura.”
A missão de Isaías teria como consequência o agravamento da cegueira espiritual do povo.
Essa “endurecimento” não era um ato arbitrário de Deus, mas o efeito da rejeição contínua da verdade revelada.
O endurecimento acontece quando a pessoa ouve a Palavra, mas a rejeita repetidas vezes.
O evangelho não volta vazio, mas sua rejeição traz consequências espirituais.
Jesus e Paulo citaram esse versículo para mostrar o endurecimento de corações diante da mensagem de salvação (João 12:40; Atos 28:26-27).
11# “Então disse eu: Até quando, Senhor? E respondeu: Até que sejam desoladas as cidades, e fiquem sem habitantes, e as casas fiquem sem moradores, e a terra seja assolada de todo.”
Isaías pergunta até quando essa resistência continuaria.
A resposta de Deus mostra que o juízo viria — as cidades ficariam desertas e a terra, arrasada.
Esse versículo aponta para o cativeiro babilônico e para o juízo que viria sobre Judá.
O ministério fiel não garante resultados imediatos e pode parecer, aos olhos humanos, um fracasso — mas é parte do plano soberano de Deus.
12# “E o Senhor afaste dela os homens, e no meio da terra seja grande o desamparo.”
O juízo seria tão severo que o povo seria afastado da terra, uma referência clara ao exílio.
Haveria desolação e abandono, como um campo depois da colheita.
Deus é paciente, mas não tolera para sempre a rebeldia de um povo. O juízo é uma resposta ao pecado contínuo.
13# “Mas se ainda ficar a décima parte dela, tornará a ser pastada; como o carvalho, e como a azinheira, que depois de se desfolharem ainda ficam com a cepa; assim a santa semente será a sua cepa.”
Mesmo diante do juízo, Deus preservaria um remanescente — a “santa semente.”
A imagem do tronco queimado ou cortado, mas com raiz viva, aponta para o remanescente fiel de Israel.
Esse tronco também aponta profeticamente para o Messias que viria da linhagem de Davi (Isaías 11:1).
O juízo de Deus nunca apaga Sua promessa. Sempre há esperança em meio ao castigo — Deus sempre preserva um povo fiel.
O que significa tenaz em Isaías 6?
A tenaz mencionada em Isaías 6:6 era um instrumento usado para segurar objetos quentes, como brasas ou carvão em fogo.
Na visão de Isaías, um dos serafins usou a tenaz para pegar a brasa do altar e tocar os lábios do profeta.
Demonstrando que o fogo purificador vinha direto do altar de Deus e não poderia ser manipulado diretamente, nem mesmo pelos seres celestiais. É um sinal de reverência e da seriedade do ato da purificação.
Porque Isaías só viu a glória do Senhor quando Uzias morreu?
O texto diz que Isaías viu o Senhor “no ano da morte do rei Uzias” (Is 6:1). Isso não significa que Deus só se revelou depois da morte do rei, mas sim que a morte de Uzias marcou um tempo de crise nacional — um rei forte e estável havia partido, e a nação enfrentava incertezas.
Só então Isaías teve sua visão espiritual aberta para ver que, embora o trono da terra estivesse vazio, o trono celestial permanecia ocupado.
Muitas vezes, Deus nos revela Sua glória quando as “muletas” da nossa segurança humana caem.
Por que Isaías teve os lábios purificados?
Isaías reconheceu que tinha “lábios impuros” — o que simboliza um coração impuro — e que vivia no meio de um povo igualmente pecador.
Os lábios representam aquilo que falamos, e o que falamos reflete o que está no coração (Mt 12:34).
Deus purificou seus lábios com uma brasa viva para mostrar que, antes de falar em nome d’Ele, Isaías precisava ser purificado.
O toque da brasa simboliza o perdão, a purificação e a capacitação divina para a missão profética.
3 Lições que aprendemos em Isaías 6
1. Um encontro real com Deus revela Sua santidade e a nossa necessidade de transformação
Isaías viu o Senhor em Sua majestade e santidade, e isso expôs a verdadeira condição do seu coração.
Quando temos uma experiência genuína com Deus, não conseguimos mais ignorar nossa fraqueza e pecado.
A presença do Santo de Israel nos leva ao arrependimento e ao desejo sincero de mudança.
2. Deus purifica e restaura aqueles que reconhecem sua condição diante d’Ele
Isaías confessou: “Ai de mim!” — e imediatamente Deus providenciou sua purificação através da brasa viva.
O Senhor não rejeita quem se humilha, mas oferece perdão, restauração e capacitação. Antes de nos enviar, Deus nos trata, cura e transforma.
3. Quem é alcançado pela graça se dispõe a obedecer ao chamado de Deus
Após ser purificado, Isaías ouviu a voz do Senhor perguntando: “Quem há de ir por nós?” Sua resposta foi imediata: “Eis-me aqui, envia-me!”
Aqueles que experimentam a graça de Deus não permanecem indiferentes; se colocam à disposição para servi-Lo, prontos a cumprir Sua vontade, não por obrigação, mas por gratidão.
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