Parábola das coisas novas e velhas: Significado e Explicação

A parábola das coisas novas e velhas, narrada em apenas um versículo, é muitas vezes menosprezada por alguns leitores da Bíblia. Entretanto, sua mensagem é de extrema importância, abordando o tema central presente em todas as parábolas de Jesus. O Reino de Deus possui características especiais e únicas, valorizando aquilo que, no padrão humano, pode ser insignificante.

O destaque dado às “coisas novas e velhas” retiradas do mesmo tesouro revela que Deus não despreza o que é pequeno e insignificante aos olhos dos homens (Zc 4.10; 1 Co 1.27,28).

Vamos estudar parábola das coisas novas e velhas e extrair preciosas lições do significado dela.

Contexto da parábola das coisas novas e velhas

Segundo Herbert Lockyer, a parábola das coisas novas e velhas encerrou uma série de outras contadas por Jesus, com o propósito de ensinar uma importante lição a Seus discípulos. Após apresentar diversas parábolas, Ele queria verificar o quanto seus seguidores haviam compreendido Suas instruções, perguntando-lhes: “Vocês entenderam todas essas coisas?” (Mt 13.51).

No cerne da parábola, encontramos elementos significativos: um escriba instruído, o Reino dos céus, um tesouro e as coisas novas e velhas. Essa narrativa nos mostra que, mesmo no meio do trigo, podemos viver com graça e inteligência, sem sermos afetados pelo veneno do joio.

Um escriba instruído

Jesus afirmou: “Todo escriba instruído” (v. 52). Mas quem é esse escriba? O que ele faz e qual é a importância de seu trabalho? O termo “escriba”, do grego “grammateus”, com raiz na palavra “gramática” em português, referia-se a uma figura altamente respeitada na sociedade da época, especialmente no contexto religioso judaico, onde atuavam como representantes intelectuais e teológicos.

Na língua hebraica, o termo “escriba” vem de “sõter” (ou “satar”), que significa “escrever”. Eles desempenhavam diferentes funções, desde secretários de reis a escribas militares encarregados de registrar os recrutados para a guerra. Além disso, eram peritos na arte de escrever, responsáveis por fornecer cópias da Torá e outras Escrituras. No Antigo Testamento, os escribas também tinham responsabilidades no Templo do Senhor, sendo chamados de “escribas do Templo”.

Nos Evangelhos Sinóticos e em Atos dos Apóstolos, o termo “grammateus” aparece várias vezes, sempre relacionado a indivíduos versados na Lei de Moisés, também chamados de “rabino” ou “teólogo ordenado”. Associavam-se frequentemente aos fariseus e, infelizmente, muitos se opuseram aos ensinamentos de Jesus, criando doutrinas legalistas que Ele denunciou.

Enquanto os escribas e fariseus impunham amarras e interpretações restritivas da Lei, Jesus trouxe uma doutrina de vida e liberdade, cumprindo a Lei em sua essência. Ele não veio para revogar a Lei, mas para cumpri-la. Assim, Jesus contrastava com os escribas, ensinando com autoridade genuína e clareza, ao passo que eles, mesmo sendo instruídos, viam sua autoridade questionada e rejeitada em muitas ocasiões.

Como Jesus via um escriba?

No versículo 52, Jesus fez uma declaração sobre o papel de um escriba e o que se esperava dele como intérprete da Lei. Ele disse que “todo escriba instruído acerca do Reino dos céus” tinha um papel importante. Na versão NVI, a expressão traduzida diretamente como “todo mestre da lei instruído quanto ao Reino dos céus”, revela claramente a função dos escribas no serviço religioso judaico naquela época.

Jesus deixou claro que o papel do escriba era entender profundamente o Reino dos céus. No entanto, parece que muitos dos escribas em seu tempo estavam mais preocupados com minúcias da Lei do que com os conceitos ou princípios do Reino dos céus.

Ao citar o escriba, Jesus não agia ou falava com espírito vingativo. Ele mencionou a função do escriba em um sentido geral e favorável, enfatizando a importância de sua tarefa no serviço de educação religiosa sobre a Torá. Portanto, não devemos considerar todos os escribas negativamente por causa de alguns que não cumpriram corretamente seu papel designado.

A essência do trabalho de todo escriba era ensinar a verdade da lei de Deus ao povo. Infelizmente, muitos deles se desviaram dessa missão e adotaram atitudes mentirosas e hipócritas, o que Jesus condenou explicitamente.

A relação do papel dos escribas com o dos discípulos de Jesus

No versículo 51, logo após apresentar uma série de parábolas, Jesus utilizou essa forma de linguagem para revelar coisas profundas de maneira acessível, evitando a linguagem filosófica. Conforme registrado em Mateus 13.34,35, Jesus falava exclusivamente por meio de parábolas para cumprir a profecia que dizia: “Abrirei em parábolas a boca; publicarei coisas ocultas desde a criação do mundo”.

Após a Parábola da Rede (Mt 13.47-50), Jesus se dirigiu diretamente aos discípulos, alertando-os para não seguirem o exemplo dos escribas e fariseus, que deturpavam a lei de Deus para satisfazer seus próprios interesses. Ele perguntou-lhes: “Entendestes todas estas coisas?” (v. 51).

Ao longo das outras parábolas, Jesus utilizou as antigas verdades da lei (v. 52) para ilustrar novas verdades, desvendando os mistérios ocultos e revelando uma nova perspectiva sobre o passado. Jesus não rejeitava a Torá, como acusavam os escribas e fariseus, mas veio para revelar os mistérios de Deus.

Dessa forma, assim como os escribas falharam em proclamar as verdades do Reino dos céus, os discípulos de Cristo têm a responsabilidade de assumir o compromisso de proclamar essas verdades, especialmente reveladas a eles por meio das parábolas. Jesus esperava que eles compreendessem o significado de cada parábola e, como “mestres do Evangelho”, ensinassem ao povo.

Como depositários das verdades reveladas, a Igreja de Cristo tem a missão de explicitá-las ao mundo, para que todos conheçam o Deus que enviou Jesus Cristo como Salvador e Senhor. Assim como o “mestre da lei” interpreta e usa as coisas antigas e novas, os discípulos devem compartilhar a história da salvação como a receberam.

Qual o significado da Parábola das coisa novas e velhas

Qual o significado da Parábola das coisas novas e velhas?

O significado central da parábola é o seguinte:

O tesouro representa as riquezas espirituais do Reino de Deus, que incluem ensinamentos, princípios e verdades espirituais. Essas riquezas são compostas tanto por coisas “novas” quanto “velhas”. As coisas “velhas” referem-se aos princípios e ensinamentos presentes no Antigo Testamento, a lei mosaica e os profetas. As coisas “novas” apontam para a mensagem do evangelho trazida por Jesus Cristo e a nova aliança que Ele estabeleceu com a humanidade.

Ao mencionar que um escriba ou discípulo do Reino de Deus deve tirar coisas novas e velhas do tesouro, Jesus enfatiza a importância de valorizar e entender tanto as verdades antigas (Antigo Testamento) quanto as novas (evangelho) e utilizar essas riquezas para o crescimento espiritual e a edificação da fé.

Essa parábola nos ensina que não devemos desprezar ou negligenciar as Escrituras e os ensinamentos antigos, mas também devemos estar abertos às revelações e verdades do evangelho trazidas por Jesus. Devemos buscar uma compreensão equilibrada e aprofundada da Palavra de Deus, usando essa sabedoria para vivermos de acordo com a vontade divina e compartilharmos as boas novas com outros.

Explicação da parábola das coisas velhas e novas – Mateus 13:52

Coisas novas e velhas

Jesus procurou ensinar a seus discípulos que a doutrina do Reino é antiga, tendo sido proclamada e ensinada pelos antigos profetas. No entanto, o que é novo nessa doutrina é a imagem que Jesus desejava apresentar do Reino dos céus. Se antes o povo de Deus era visto como descendente de Abraão, agora, esse novo povo é formado tanto por judeus quanto por gentios, provenientes da Palavra de Deus.

A mensagem que pregamos hoje é tão antiga quanto a dos profetas, mas sua roupagem é renovada. Jesus ensinou que os filhos do Reino nascem por meio de Sua Palavra. Como afirmou Herbert Lokyer, “A revelação divina é antiga; porém, retê-la e vivenciá-la é algo novo.” Os princípios divinos são antigos, mas praticá-los é algo novo. Essa característica fascinante da Bíblia é o que a torna sempre relevante aos discípulos do Reino. Suas verdades são atemporais, brilhando com nova glória e pulsando com nova vida.

O apóstolo Paulo também enfatizou esse aspecto, declarando: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Co 5:17).

Portanto, ao avançarmos em nossa jornada espiritual, devemos abraçar as verdades antigas e permitir que elas se renovem em nossas vidas, mantendo-nos firmes no alicerce da fé, enquanto nos adaptamos às transformações e desafios do presente.

Uma comparação distinta

O texto apresenta uma comparação singular feita por Jesus, o Mestre dos mestres, ao descrever o “escriba instruído” como “um pai de família” (v. 52). Essa habilidade de criar comparações tão excepcionais era exclusiva de Jesus. Ele não apenas debatia valores morais e espirituais, mas também questionava e discutia valores temporais estabelecidos pelo homem, mantendo, porém, a certeza dos valores absolutos da revelação divina.

Ao utilizar a figura do “pai de família”, Jesus enfatizou a autoridade que os autênticos cristãos possuem, assim como os “escribas instruídos”, para ensinar as verdades do Reino dos céus. Uma autoridade especial, semelhante à de um pai de família, o qual exerce um papel importante dentro de seu lar, sendo o cabeça e provedor material e físico para sua família.

Assim como um bom pai conhece tanto as coisas antigas quanto as novas, um autêntico cristão deve entender as Escrituras profundamente para transmitir corretamente seu ensinamento.

Contudo, é crucial destacar que, diferentemente do papel de um escriba, que não podia acrescentar nada novo à interpretação da lei, a igreja, por meio de seus pastores, tem o dever de exercer autoridade para discernir e aceitar ou rejeitar novos ensinamentos. Jesus enfatiza que o pai de família pode tirar “coisas novas e velhas” de seu tesouro (v. 52), mostrando a possibilidade de descobrir novidades dentro das próprias Escrituras.

Portanto, essa comparação singular feita por Jesus ressalta a importância da autoridade dos verdadeiros cristãos para ensinar as verdades espirituais. Além disso, precisam discernir corretamente as Escrituras, sendo capazes de extrair ensinamentos tanto das tradições antigas quanto das revelações mais recentes.

O tesouro de um pai de família

O tesouro de um pai de família

O texto nos mostra claramente que o pai de família era organizado e previdente, guardando em seu tesouro coisas novas e velhas (v. 52). Essa comparação inicial se estende aos discípulos de Jesus. Pois, eles também devem ser capazes de guardar as boas coisas, tanto as novas quanto as velhas, em seu baú familiar, para utilizá-las conforme necessário. Assim como esse pai de família tinha reservado tudo o que precisava para suprir as necessidades, nós, como discípulos, também devemos refletir sobre o tesouro que temos em reserva.

Como aprendemos na parábola das coisas novas e velhas, a missão de ensinar as verdades do Reino de Deus exige que estejamos preparados. Nosso verdadeiro baú é a Bíblia, que contém tanto verdades antigas e indestrutíveis quanto as mesmas verdades revestidas com a roupagem cristã. Precisamos ser capazes de suprir as necessidades dos outros com essas riquezas retiradas desse tesouro.

As coisas novas, retiradas do bom tesouro, são fundamentais e inaceitáveis qualquer outra fonte. Jesus deixou claro que tudo o que ensinou nas outras parábolas, apesar de parecer antigo, deveria ser compreendido sob uma nova perspectiva. Valorizar o antigo não significa ignorar o novo, pois a lei mosaica é antiga, mas o evangelho é novo e ambos têm sua importância.

Jesus mesmo demonstrou como o novo veio para cumprir o que era exigido pelo antigo, e é assim que devemos agir também. Devemos valorizar e compreender a importância de ambas as verdades em nosso coração. Assim como um homem bom, do bom tesouro de seu coração, tira o bem (Lc 6:45).

O tesouro representa o coração do verdadeiro escriba, discípulo e pai de família, e assim, devemos apreciar e aprender tanto com as verdades antigas quanto com as novas para dar vida e esperança aos pecadores.

Equipe Redação BP

Nossa equipe editorial especializada da Biblioteca do Pregador é formada por pessoas apaixonadas pela Bíblia. São profissionais capacitados, envolvidos, dedicados a entregar conteúdo de qualidade, relevante e significativo.

Um Comentário

  1. Excelente reflexão! Um único versículo traz tantos ensinamentos valiosos!

    As vezes passamos despercebidos quando lemos alguns textos, por isso é tão importante ler calmamente, meditar, estudar a Palavra, para não ensinarmos nada de errado aos outros.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo