Por que Deus permitiu a dor no parto para Eva e as mulheres?
De acordo com a ONU, aproximadamente 385.000 bebês nascem todos os dias no mundo. Se fizermos as contas, isso equivale a cerca de 140 milhões de nascimentos por ano — ou, de forma mais impressionante, cerca de 267 por minuto. Isso significa que, a cada minuto, 267 mulheres estão potencialmente amaldiçoando Eva e se perguntando por que Deus determinou que elas — e todas as mulheres — passassem pela dor do parto.
Preciso admitir que, como homem, experimentei a alegria de ver meus dois filhos nascerem. No entanto, não posso dizer que experimentei a dor do parto — afinal, não fui eu quem os trouxe ao mundo. Por isso, nem eu nem qualquer outro homem podemos falar desse assunto com total empatia, pois jamais sentimos na pele o que uma mulher enfrenta nesse momento tão intenso.
Ainda assim, farei o meu melhor para refletir sobre essa pergunta: Por que Deus determinou que Eva e todas as mulheres sentissem dor ao dar à luz?
Por que Deus deu dor no parto a Eva e às mulheres?
“À mulher, ele declarou: “Multiplicarei grandemente o seu sofrimento na gravidez; com sofrimento você dará à luz filhos.” – Gênesis 3:16a
Permita-me começar com uma resposta que talvez não seja totalmente satisfatória. O versículo de Gênesis não oferece uma explicação completa sobre o motivo pelo qual Deus aumentou a dor do parto.
O que sabemos é que esse aumento foi uma consequência direta do pecado. No entanto, para entendermos melhor, é necessário olhar mais de perto para as palavras usadas em Gênesis 3.
Ao examinarmos o termo no hebraico original, percebemos que a conotação não é, necessariamente, que o parto passou de algo completamente indolor para algo extremamente doloroso.
A linguagem sugere que já havia algum nível de dor antes — e o que aconteceu foi um aumento significativo dessa dor após a queda.
Embora Deus tenha determinado que Eva — e, por consequência, todas as mulheres — experimentassem dor no parto como resultado do pecado, isso pode indicar que já existia algum nível de sensação ou desconforto associado ao processo de dar à luz. No entanto, por causa da queda, essa dor foi intensificada.
Se essa explicação traz mais consolo ou parece uma resposta mais satisfatória, talvez varie de pessoa para pessoa.
A verdade é que a dor no parto se tornou parte da realidade humana como um lembrete das consequências do pecado, mas também pode nos apontar para a esperança de redenção e restauração em Cristo.
Um olhar diferente sobre a dor no parto
Vamos considerar um outro ângulo para refletir sobre essa questão: por que Deus fez com que Eva — e, por consequência, todas as mulheres — experimentassem dor no parto?
O site Answers in Genesis oferece uma perspectiva interessante sobre esse versículo. Veja o que eles afirmam:
“Há uma dor física evidente no momento do parto — e a maioria das mães pode confirmar isso. Mas também existe uma angústia emocional associada à maternidade em um mundo marcado pelo pecado.
Pense em Eva: além da dor do parto, ela enfrentou a profunda tristeza de perder Abel, morto pelo próprio irmão. Ou considere Maria, que presenciou a crucificação de seu filho, Jesus.
Esses são exemplos extremos, mas a verdade é que é quase impossível encontrar uma mãe que não tenha visto seus filhos sofrerem de alguma forma — seja por fome, doença, quedas ou ferimentos do dia a dia.”
O que o Answers in Genesis aponta é que a dor mencionada em Gênesis pode incluir não apenas o sofrimento físico do parto, mas também o sofrimento emocional que acompanha a maternidade. E acredito que esse é um ponto válido.
A dor no parto pode ir além do momento de dar à luz — ela pode se estender por toda a jornada de criar e cuidar de um filho.
Falando como pai, por experiência própria, posso afirmar: uma das dores mais profundas é ver um filho sofrer e se sentir impotente para evitar isso.
Não posso dizer com certeza que é exatamente isso que o versículo quer dizer, ou que essa era a intenção exata de Deus ao declarar tal consequência. Mas penso que essa reflexão é válida e merece ser considerada com seriedade.
A dor no parto não é uma maldição
Algo importante a se observar é que, embora Deus tenha amaldiçoado a serpente e também o solo que Adão teria de trabalhar, Ele não amaldiçoou Eva. Isso indica que, mesmo fazendo com que ela sentisse dor ao dar à luz, Deus não declarou uma maldição sobre ela.
Dar à luz filhos não é uma maldição. A dor no parto serve como um lembrete das consequências do pecado cometido por Adão e Eva, mas não carrega consigo o peso de uma maldição.
Ainda que, durante o parto, muitas mulheres possam se sentir tentadas a expressar sua dor em palavras duras, a verdade é que essa experiência também aponta para algo mais profundo.
A Bíblia nos mostra que a dor do parto logo é substituída por uma alegria imensa quando a criança nasce. Essa alegria transforma o sofrimento em gratidão e esperança.
A dor poderia nos lembrar de nossa redenção?
Durante a pesquisa para este artigo, não encontrei esse pensamento em nenhum lugar, por isso quero levantar uma questão: seria possível que a dor do parto, de alguma forma, funcione como um lembrete de nossa redenção?
É interessante observar que a experiência da salvação é comparada ao processo de nascimento. Jesus disse a Nicodemos, em João 3:3, que ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo.
Assim como o resultado do nascimento natural traz grande alegria, o novo nascimento também gera alegria espiritual. No entanto, o processo que torna esse novo nascimento possível causou profunda dor a Jesus — da mesma forma que o parto natural impõe dor à mulher.
Considere, por um momento, o que diz o livro de Hebreus…
olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus.
Hebreus 12:2
Jesus carregou em seu corpo a dor do pecado até a cruz. Ele fez isso para que você e eu pudéssemos nascer de novo. Enquanto suportava o sofrimento da cruz, também pensava na alegria do resultado.
Da mesma forma, uma mãe enfrenta as dores do parto, mas a alegria ao ver seu filho nos braços supera toda a dor. Sei que não se trata de uma comparação exata, nem é essa a intenção.
Ainda assim, será que podemos, ao invés de olhar para a experiência do parto apenas como resultado de um julgamento, considerá-la também como um lembrete do sacrifício de Cristo para nos dar vida?
A dor que uma mulher carrega ao trazer uma nova vida ao mundo aponta, em pequena escala, para a dor que Jesus suportou para nos oferecer uma nova vida no Reino. Apenas uma reflexão — talvez algo que valha a pena considerar.
Pensamentos finais
Como você pode perceber, esta é uma pergunta que tem uma resposta simples — o aumento da dor é um julgamento pelo pecado — mas, além disso, existem muitas outras questões complexas.
Em última análise, a resposta, além de ser consequência do pecado, pertence àquelas coisas que provavelmente não entenderemos completamente enquanto estivermos nesta vida. Podemos conhecer e ver o que Deus fez, mas parece que não temos a capacidade de compreender todas as razões neste caso.
Por fim, para cada mãe que suportou a dor do parto para trazer uma nova vida ao mundo, sei que não foi fácil. Tudo o que posso dizer é: obrigado. Incluo nesse agradecimento minha esposa, mãe dos nossos dois filhos, e minha própria mãe.
A dor foi grande, mas se você for como a maioria das mães, ao olhar para seus filhos, diria que tudo valeu a pena.