Como entender a Bíblia: 10 Dicas fáceis para estudar
Entender a Bíblia pode parecer um desafio, mas com as abordagens certas, você pode tornar o processo mais acessível e enriquecedor.
Alguns dizem “não precisa interpretar a Bíblia, apenas leia faça o que ela diz”. Mas, como fazer o que ela diz, se não entender o que ela diz?
Neste artigo, apresento 10 dicas práticas para ajudá-lo a estudar as Escrituras de forma eficaz. Tenho certeza de que, ao aplicar estes ensinamentos, você entenderá a Bíblia de uma maneira mais fácil.
1 – Compreenda o contexto
Esta é, sem dúvida, uma das dicas mais importantes para entender a Bíblia: compreender o contexto. Contexto é fundamental. Mas o que isso significa? Simplesmente, é considerar:
- Onde um versículo se encaixa dentro de um capítulo.
- Como um capítulo se insere dentro de um livro.
- Onde um livro está posicionado dentro da cronologia bíblica.
- Como essa cronologia se relaciona com a história bíblica como um todo.
- Como uma seção se relaciona com o argumento lógico apresentado.
- Como uma palavra está conectada a outras palavras ao seu redor.
Ler um versículo isoladamente, sem levar em conta o contexto, frequentemente resulta em interpretações equivocadas e até absurdas (como é o caso de Filipenses 4:13 sendo usado de forma inadequada em situações como levantamento de peso).
Outro exemplo: quando Paulo escreve em 2 Coríntios 5:16, “Embora tenhamos conhecido a Cristo segundo a carne, agora já não O conhecemos deste modo”, queremos entender a quem se refere a expressão “segundo a carne”— a Cristo ou à pessoa que o conhecia? Em termos de significado, há uma diferença considerável em saber que “nós” conhecemos a Cristo não mais “de um ponto de vista mundano”, que é o que Paulo quer dizer, e não que não mais conhecemos a Cristo “em sua vida terrena.”
Portanto, o primeiro e mais crucial princípio para entender a Bíblia e até pregar, é interpretar tudo dentro do seu devido contexto.
2 – Entenda os gêneros bíblicos
Compreender os gêneros bíblicos é essencial para interpretar corretamente as Escrituras, e está diretamente ligado à compreensão do contexto.
Cada livro da Bíblia pertence a um gênero literário específico, e interpretar corretamente cada gênero é fundamental para uma leitura precisa. Aqui estão os principais gêneros bíblicos e como interpretá-los:
Narrativa Histórica: Encontrada em livros como Gênesis, Êxodo, e os Evangelhos, a narrativa histórica relata eventos reais. Deve se ler como um registro de fatos, onde a sequência de acontecimentos e o contexto histórico são cruciais.
Lei: Contida em livros como Levítico e Deuteronômio, a lei inclui comandos e instruções dadas por Deus ao Seu povo. Este gênero deve ser lido como regras e orientações para a vida, entendendo a diferença entre leis cerimoniais, civis e morais.
Poesia: Gêneros poéticos, como os Salmos e o Cântico dos Cânticos, utilizam linguagem figurativa, metáforas e paralelismos. Devem ser interpretados com uma ênfase no simbolismo e na emoção, ao invés de serem tomados literalmente.
Sabedoria: Livros como Provérbios, Eclesiastes e Jó oferecem conselhos práticos e reflexões sobre a vida. Devem ser lidos como princípios gerais e não como promessas absolutas.
Profecia: Encontrada em Isaías, Jeremias, e outros profetas, a profecia inclui previsões sobre o futuro e mensagens de advertência ou esperança. Este gênero muitas vezes utiliza linguagem simbólica e requer uma compreensão tanto do contexto histórico quanto do cumprimento futuro.
Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João contam a vida e os ensinamentos de Jesus. Eles combinam narrativa, ensino e eventos históricos, e devem ser lidos considerando tanto o relato histórico quanto a mensagem teológica.
Epístolas: As cartas de Paulo, Pedro e outros apóstolos são comunicações dirigidas a igrejas ou indivíduos específicos. Devem ser interpretadas como instruções pastorais e teológicas, com atenção ao destinatário original e à aplicação prática.
Apocalíptico: O Apocalipse de João (ou livro de Apocalipse) é repleto de simbolismo e visões sobre o fim dos tempos. Este gênero exige uma interpretação cuidadosa, considerando o uso frequente de símbolos e metáforas, e entendendo que a mensagem central é a esperança e o triunfo final de Deus.
Quer saber como entender a Bíblia melhor? Comece por entender os gêneros literários. Mesmo se você é iniciante, procure entender os gêneros literários da Bíblia.
- Leia também: 7 maneiras de estudar a Bíblia como Billy Graham.
3 – Conheça o público original
A maneira correta de estudar a Bíblia é compreender o público original de cada livro da Bíblia. Esta é uma chave valiosa para desvendar seu significado do texto bíblico fazer aplicação certa.
Quando você entende para quem as palavras foram inicialmente dirigidas, muitas vezes as peças do quebra-cabeça se encaixam de forma mais clara.
Por exemplo, no caso da carta aos Gálatas, Paulo escreveu para gentios convertidos sob seu ministério, que estavam sendo pressionados por judeus a seguir os costumes judaicos para serem considerados verdadeiros cristãos.
Saber que esse grupo estava enfrentando pressão para aderir à circuncisão esclarece por que Paulo abordou esse tema com tanta intensidade. Embora inspiradas pelo Espírito Santo e, portanto, relevantes para todos os tempos, elas foram originalmente escritas dentro do contexto do autor e destinadas aos leitores da época.
Aqui estão mais dois exemplos que demonstram a importância de conhecer o público original:
Evangelho de Mateus: O Evangelho de Mateus foi escrito principalmente para um público judeu. Mateus frequentemente faz referência ao Antigo Testamento e apresenta Jesus como o Messias prometido nas Escrituras Hebraicas. Ele destaca como Jesus cumpriu as profecias messiânicas, o que era crucial para convencer os judeus de que Jesus era o Messias esperado. Compreender que o público-alvo era judeu ajuda a explicar a ênfase de Mateus em linhagens, profecias e a conexão com a lei de Moisés.
Apocalipse: O livro de Apocalipse foi escrito para cristãos do primeiro século que estavam enfrentando perseguição sob o Império Romano. As igrejas a quem João escreve estavam sofrendo e precisavam de encorajamento e esperança. Entender que o público original estava vivendo sob opressão e incerteza explica por que João usou uma linguagem apocalíptica e simbólica para transmitir a mensagem de que Deus estava no controle e que, no final, o mal seria derrotado e o reino de Deus prevaleceria.
Conhecer o público original não apenas esclarece o texto, mas também ajuda a aplicar as verdades bíblicas de maneira mais precisa em nosso próprio contexto.
Até porque, não podemos querer que a Bíblia tenha um significado para nós sem antes entender o que ela significava para os leitores originais.
- Confira também: Como estudar a Bíblia em 5 passos eficazes.
4. Leia várias traduções
Uma prática extremamente útil ao estudar a Bíblia é ler a mesma passagem em diferentes traduções. Começar com uma tradução mais literal (palavra por palavra) é uma boa maneira de se aproximar do significado original do texto.
Traduções como a Almeida Corrigida Fiel (ACF) ou a King James Version (KJV) são exemplos de versões mais antigas e literais que se esforçam para manter o texto o mais próximo possível das palavras originais.
No entanto, não se limite apenas a uma tradução. Ler a mesma passagem em várias versões pode revelar nuances e tons de significado que talvez você tenha perdido ao ler apenas uma.
Por exemplo, a Nova Versão Internacional (NVI) é uma tradução equilibrada que combina precisão com uma linguagem mais fluida, tornando-a acessível para a leitura e compreensão moderna.
Se você quer explorar ainda mais as camadas de significado, pode ser útil mudar para uma paráfrase, como A Bíblia na Nova Tradução Linguagem de Hoje (NTLH) ou NVT. Essas versões oferecem uma interpretação mais livre do texto, muitas vezes capturando o tom e a intenção de maneira que ressoa mais facilmente com o leitor contemporâneo.
Veja o exemplo de 1 Coríntios 7:36:
- NVI: “Se alguém acha que não está tratando sua filha como é devido e que ela está numa idade madura, pelo que ele se sente obrigado a casá-la, faça como achar melhor. Com isso não peca. Deve permitir que se case.”
- ACF: “Mas, se alguém julga que trata indignamente a sua virgem, se tiver passado a flor da idade, e se for necessário, que faça o tal o que quiser; não peca; casem-se.”
- NVT: “Se, contudo, um homem acredita que está tratando sua noiva de forma inapropriada e que seus impulsos vão além de suas forças, que se case com ela, como é desejo dele. Não é pecado.”
As diferenças entre as traduções revelam nuances significativas. A NVI e a NVT tratam a questão como uma decisão sobre o casamento de uma filha ou noiva, enquanto a ACF usa o termo “virgem” e sugere uma consideração sobre a idade e tratamento adequado.
Eu, particularmente, gosto de comparar o mesmo texto em pelo menos duas traduções diferentes. Isso me dá mais clareza da passagem bíblica.
🟡🟡🟡
Aprenda interpretar a Bíblia de maneira fácil. Treinamento completo para entender a Bíblia de Gênesis a Apocalipse!
5. Use comentários
Embora os comentários bíblicos não devam ser sua primeira fonte de consulta ao estudar as Escrituras, eles podem ser ferramentas valiosas para aprofundar seu entendimento, especialmente em passagens mais desafiadoras.
A abordagem ideal é trabalhar o texto por conta própria inicialmente, buscando discernimento e compreensão através do Espírito Santo.
No entanto, quando você se depara com textos complexos ou precisa de esclarecimento adicional, comentários de estudiosos experientes podem ser de grande ajuda. Esses recursos oferecem informações sobre o significado das palavras, o contexto histórico, o enredo bíblico, e muito mais.
Por exemplo, o Comentário Bíblico Wiersbe é conhecido por sua clareza e aplicação prática, tornando-o acessível tanto para leigos quanto para estudiosos. Ele é também expositivo.
Outro excelente recurso é o Comentário Bíblico Beacon, que fornece uma análise detalhada e equilibrada das Escrituras, abordando aspectos teológicos e históricos com profundidade.
Ver como autores diferentes tiveram o entendimento de certa passagem bíblica, pode facilitar nossa própria compreensão de um texto. Afinal, muitos comentaristas estudaram anos para compartilhar certas informações valiosas.
6. Use uma Bíblia de estudo confiável
Assim como os comentários, as Bíblias de estudo são ferramentas valiosas que podem enriquecer sua compreensão das Escrituras.
Mas, fica aqui um alerta: Comentários nos rodapés das Bíblias de estudos não são palavras de Deus inspiradas. Servem para seu estudo, mas não para afirmar que Deus falou.
No entanto, não podemos negar o quanto boas Bíblias de estudo ajudam com contextualizações e recursos visuais que esclarecem o texto bíblico.
Um exemplo excelente é a Bíblia de Estudo Plenitude, conhecida por suas notas perspicazes, gráficos históricos, diagramas, e muito mais. Ela oferece uma visão abrangente que auxilia tanto no entendimento teológico quanto na aplicação prática.
Outras Bíblias de estudo altamente recomendadas que posso citar:
- Bíblia de Estudo Genebra: Reconhecida por sua fidelidade às doutrinas reformadas, ela apresenta notas explicativas que ajudam a contextualizar passagens difíceis e trazem uma perspectiva reformada sólida.
- Bíblia de Estudo Thompson: Famosa por seu sistema de referências encadeadas, ela permite que os leitores explorem temas bíblicos de forma detalhada e conectada, o que é ideal para estudos temáticos e profundos.
- Bíblia de Estudo Dake: Esta Bíblia é repleta de notas detalhadas e comentários que exploram aspectos teológicos e históricos, sendo uma excelente escolha para quem busca uma compreensão mais aprofundada e literal das Escrituras.
Uma dica importante é: antes de começar a ler um livro da Bíblia, estude as informações introdutórias sobre ele. Isso ajudará a entender o contexto histórico, cultural e teológico, proporcionando uma base sólida para a leitura e interpretação.
Conheça: Top 10 Melhores Bíblias de Estudo para se aprofundar nas Escrituras.
7. Consulte bons dicionários bíblicos
Dicionários bíblicos são ferramentas essenciais para aprofundar o estudo das Escrituras, oferecendo definições, contextos históricos, culturais e teológicos de termos e conceitos encontrados na Bíblia. Eles são especialmente úteis para esclarecer palavras e expressões que podem ter significados diferentes no contexto bíblico em comparação com o uso moderno.
Por exemplo, um bom dicionário bíblico pode explicar a diferença entre “amor” no grego (agape, philia, eros), ou fornecer o contexto histórico para termos como “fariseu” ou “saduceu”. Esses recursos ajudam a evitar mal-entendidos e oferecem uma compreensão mais rica do texto bíblico.
Alguns exemplos de bons dicionários bíblicos confiáveis, posso citar:
- Dicionário Bíblico Vine: Este é um dos dicionários mais populares, especialmente útil para entender o significado original das palavras no hebraico e no grego.
- Dicionário Bíblico Wycliffe: Oferece uma cobertura abrangente de termos e conceitos bíblicos, com uma abordagem acessível e fácil de entender.
- Dicionário Bíblico Internacional: Conhecido por seu formato enciclopédico, ele fornece informações detalhadas e ilustradas sobre uma vasta gama de tópicos bíblicos.
Leia mais: 7 dicionários bíblicos para aprofundar seus estudos na Palavra de Deus.
8. Leia uma passagem bíblica várias vezes
Leia, leia e releia… até entender o que o texto bíblico quer dizer.
Uma das maneiras mais eficazes de realmente entender uma passagem bíblica é lê-la repetidamente. Cada vez que você revisita o texto, algo novo pode saltar aos seus olhos.
Às vezes, a primeira leitura só arranha a superfície, mas com cada releitura, você começa a perceber detalhes, padrões, e nuances que inicialmente passaram despercebidos.
Ao ler uma passagem várias vezes, você permite que o texto “assente” em sua mente e coração, oferecendo a oportunidade para o Espírito Santo trazer revelações e compreensão mais profundas.
Isso também ajuda a memorizar a passagem e a meditar nela ao longo do dia, facilitando a aplicação prática das Escrituras em sua vida.
Para quem tem dúvida por onde começar a ler a Bíblia para entender, muitos aconselham o livro de João. No entanto, o melhor livro da Bíblia para começar, é aquele que é melhor para você.
A chave é ler várias vezes até que o texto bíblico se torne claro. Essa prática simples, mas poderosa, é uma chave para uma leitura bíblica mais rica e transformadora.
9. Faça perguntas ao texto
Uma das chaves para entender a Bíblia é aprender a fazer perguntas ao texto. Quando você lê uma passagem, não basta absorver passivamente as palavras. É essencial interagir com o texto, questionando-o de maneira ativa. Isso significa perguntar o que o texto está dizendo, por que está dizendo isso e como isso se aplica à sua vida.
Por exemplo, você pode se perguntar:
- Quem escreveu?
- Para quem escreveu?
- Por que escreveu?
- Quem são os personagens principais?
- Qual é o contexto histórico e cultural?
- O que o autor está tentando comunicar?
- Como essa passagem se conecta com o restante da Bíblia?
- O que isso me ensina sobre Deus, Jesus, ou sobre a fé?
Ao fazer as perguntas certas, você começa a desvendar as camadas mais profundas de significado e a ganhar uma compreensão mais rica do que Deus está revelando nas Escrituras.
10. Ore para entender a Bíblia
Ore.. ore.. e ore… Antes de começar a estudar a Bíblia… Durante o estudo… e Ore depois.
Sei que essa não é bem uma dica, mas uma obrigação. E também sei que muitos já sabem, mas é preciso LEMBRAR.
A oração é um componente essencial no estudo das Escrituras. Antes de começar a ler, peça a Deus que ilumine sua mente e coração, ajudando você a compreender o que Ele deseja comunicar através da Bíblia.
Enquanto estiver estudando a Bíblia, ore para Deus lhe dar a “revelação”, ou seja, um entendimento claro e preciso do que aquele versículo realmente está dizendo.
Após terminar seu estudo da Bíblia, você pode orar dizendo “obrigado Senhor por este privilégio de estudar Sua palavra. Me ajuda agora a colocar em prática o que aprendi”.
A oração não só prepara você para receber ensinamentos, mas também abre espaço para que o Espírito Santo guie seu entendimento.
Amém Jesus 🙏🙏🤝
Achei maravilhosa a forma simples e clara do autor expor técnicas de estudos. Bom mesmo.