Conselhos de John Stott Para os Pregadores

Em uma rara entrevista com Will Howard nos EUA, John Stott dá alguns conselhos valiosos sobre a pregação do Evangelho. São conselhos para pastores, pregadores, professores e principalmente para iniciantes na pregação.

John Stott fala sobre o estado atual da pregação

Perguntaram para John Stott “Qual é a sua visão sobre o estado atual da pregação?”

John Stott responde:

Deplorável. Lastimável. Por quê? Bem, deixe-me começar afirmando que não me arrependo de acreditar no poder do púlpito. Eu tenho fé na pregação. Sei que muitos a consideram uma forma de comunicação antiquada, um “eco de um passado distante”. Quem ainda quer ouvir sermões nos dias de hoje? As pessoas estão absorvidas pela televisão, são resistentes à autoridade e desinteressadas e desconfiadas das palavras; elas não querem sermões.

No entanto, acredito que é possível resgatar a pregação como um meio autêntico de comunicação. Há algo singular na pregação: é quando uma pessoa viva se dirige a outras pessoas vivas, idealmente um pregador cheio do Espírito falando a pessoas cheias do Espírito. Existe uma química, algo que acontece e não ocorre na televisão ou em outras formas de comunicação.

Portanto, acredito que há algo singular na pregação, e anseio ver isso restaurado.

Por que isso é tão escasso nos dias de hoje? Ou seja, a pregação bíblica?

Em minha opinião, talvez a pregação não esteja sendo expositiva, no sentido de estudar uma passagem das Escrituras em seu contexto, comentando continuamente sobre ela. Não estou dizendo que todo sermão bíblico deve ser expositivo, mas devemos engajar-nos com a passagem das Escrituras, seja um versículo, um parágrafo.

Portanto, a razão pela qual a pregação bíblica é tão crucial é que ela é a exposição da Palavra de Deus. E é a Palavra de Deus que precisa chegar às pessoas, desafiá-las e aprimorar o povo de Deus. Como Jesus disse: “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mateus 4:4).

E se isso é verdade para os indivíduos, é igualmente verdade para as igrejas. As igrejas prosperam pela Palavra de Deus e definham sem ela. Portanto, devemos levar a Palavra de Deus ao povo de Deus, se quisermos que o povo de Deus cresça até a maturidade em Cristo.

Então, por que menos pessoas estão fazendo isso?

Eu acredito que as pessoas não o fazem por preguiça. Não há forma de pregação que exija mais tempo e energia do que a exposição bíblica, pois precisamos lutar extensivamente com o texto até termos a maior certeza possível de que o compreendemos.

Em seguida, temos que continuar lutando não apenas com o texto, mas também com a aplicação do texto ao mundo moderno. Isso significa muitas vezes conectar o texto antigo com o mundo moderno, estudando ambos os lados da divisão cultural. Isso é desgastante e exige muito.

Como pastores, todos nós somos pessoas ocupadas e precisamos encontrar algo que talvez possamos negligenciar, e a pregação muitas vezes é a primeira coisa a ser deixada de lado.

John Stott em entrevista falando sobre pregação
John Stott em entrevista falando sobre pregação – reprodução Youtube

Conselhos de John Stott para os jovens pregadores que desejam se destacar

Bem, a primeira coisa que os jovens pregadores precisam ao se engajar nessa tarefa é estar convencidos de sua necessidade, do poder e da relevância da pregação bíblica. Somente isso os motivará a fazê-lo.

A segunda coisa que gostaria de dizer a eles é que dediquem tempo a si mesmos. Não é possível ser um pregador bíblico se economizarem tempo. Então, uma vez escolhido o texto, e o processo de escolha do texto é outra questão, mas uma vez que saibam qual é o texto, precisam lê-lo e relê-lo, continuar vasculhando-o em suas mentes, meditando sobre ele.

Façam duas perguntas a si mesmos: Primeiro: “O que isso significa?” E segundo: “O que isso diz?

O que isso significa” refere-se ao seu significado, e “O que isso diz” é o que o texto declarou; a declaração é o que foi afirmado.

O significado de um texto não muda com o passar dos anos, permanece o mesmo. O significado de um texto é estabelecido pelo autor do texto; significa o que o autor pretendia dizer.

Depois de perguntar “O que isso significa?”, a segunda pergunta é: “O que isso diz?” Isso nos leva do significado para a mensagem.

Então, temos que considerar nossa congregação, para quem pregaremos no próximo domingo: “São casais jovens?” “São adolescentes?” “São idosos aposentados?”

Tentamos imaginar, visualizar em nossas mentes quem são essas pessoas. E a partir daí, surge a habilidade de relacionar o que significa com o que diz, ou seja, o significado antigo com a mensagem moderna.

John Stott explica sobre “como escolher um texto para pregar”

Existem várias maneiras de escolher um texto. A opção mais saudável, creio eu, é envolver-se, talvez não o tempo todo, mas com mais frequência, na exposição de um livro inteiro da Bíblia, ou talvez de todo o Sermão do Monte, ou do Sermão do Cenáculo, ou a Epístola aos Filipenses, ou o Livro de Jonas, ou qualquer que seja.

Se estamos expondo um livro inteiro e dedicando vinte ou trinta domingos a ele, já sabemos qual será o nosso próximo texto. Sabemos o que foi na semana passada, então sabemos o que será esta semana. “É a próxima parte de…” Essa é a maneira mais saudável de decidir sobre um texto.

A segunda opção, suponho, é a época do ano. Mesmo que as igrejas não sigam liturgias, muitas celebram o Natal, a sexta-feira da paixão, a Páscoa, o dia da ascensão, o Pentecostes, e assim por diante. Essa é a segunda maneira.

A terceira, penso eu, é que precisamos pregar com base em nossa própria experiência. Enquanto lemos e estudamos a Bíblia diariamente, ideias para sermões surgem enquanto lemos. Acredito que é uma boa ideia permitir que a mente divague. Todos nós temos lampejos momentâneos de inspiração, às vezes nos momentos mais inoportunos: quando outra pessoa está falando, dentro de um ônibus ou no meio da noite.

Eu sempre digo: “Aproveite esses momentos de inspiração“. Todos são raros, mas quando ocorrem e parece que Deus está falando conosco, sinto vontade de sair da cama, pegar o bloco de notas que sempre mantenho na cabeceira e anotar.

Às vezes, preparo sermões em meus sonhos. Minha secretária e meu auxiliar de estudos sempre se divertem com isso, mas é sério. Às vezes, enquanto sonho, o sermão toma forma. E então, claro, escrevo assim que acordo. Portanto, aproveite o momento de inspiração.

André Lourenço

Bacharel em Teologia, Graduado em Gestão da Qualidade e Pós Graduando em Psicologia nas Organizações, André possui mais de 17 anos de experiência na pregação e ensino da Bíblia. É Professor de cursos de Homilética e Hermenêutica. Já escreveu centenas de estudos bíblicos e ministra aulas na EBD. Se considera um eterno aprendiz e apaixonado por Compartilhar a Palavra de Deus!

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