Por que Deus aceitou a oferta de Abel e rejeitou a de Caim?

Aqui está o texto na Bíblia onde fala que Deus aceitou a oferta de Abel e rejeitou a de Caim:

⁴ E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta.
⁵ Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante.

Gênesis 4:4-5

Este relato bíblico que narra a interação entre Caim e Abel tem instigado a curiosidade de estudiosos ao longo da história. A indagação persiste: por que Deus aceitou a oferta de Abel enquanto rejeitou a de Caim? Ambos, afinal, apresentaram ofertas provenientes do fruto do seu trabalho.

Essas perguntas, fundamentais e frequentemente revisitadas, demandam uma resposta íntegra, respaldada pelas Escrituras.

Embora seja uma questão complexa, com humildade e orientação divina podemos chegar a uma conclusão. Além disso, podemos oferecer uma explicação que, com base em Deus e na contribuição de estudiosos dedicados ao tema, julgamos ser a mais plausível.

Teorias sobre Deus aceitar a oferta de Abel e rejeitar a de Caim

Algumas teorias têm sido propostas para explicar por que Deus aceitou a oferta de Abel em detrimento da de Caim. Dentre essas propostas, destacam-se as seguintes possibilidades:

1) Oferta das Primícias do Rebanho:

  • Argumenta-se que Abel ofereceu as primícias do seu rebanho, demonstrando um gesto de dedicação e respeito ao apresentar a melhor porção do que possuía.

2) Sacrifício de Animal, Apontando para Cristo:

  • Outra interpretação sugere que a escolha de Abel por um sacrifício animal, especialmente uma ovelha, pode ser uma tipologia apontando para Cristo como “O Cordeiro de Deus que tira o pecado do Mundo”. Nesse sentido, a natureza sacrificial da oferta de Abel teria uma significância redentora.

3) Oferta do Melhor do Rebanho:

  • Uma perspectiva argumenta que Abel ofereceu o melhor do seu rebanho, enquanto Caim apresentou o pior. Essa diferença na qualidade das ofertas poderia ter influenciado a aceitação divina.

4) Oferta de Sangue:

  • Outra hipótese ressalta que Abel ofereceu uma oferta de sangue, o que poderia ter tido um significado especial aos olhos de Deus. O derramamento de sangue, em muitos contextos bíblicos, é associado a rituais de expiação e purificação.

Como podemos ver, são muitas as soluções oferecidas a fim de responder a pergunta em questão. Mas afinal: Por que Deus aceitou a oferta de Abel e rejeitou a de Caim?

Perspectivas de autores sobre a oferta de Abel e Caim

Samuel Pérez Millos

Conforme apontado por Samuel Millos, a compreensão da aceitação da oferta de Abel e a recusa da de Caim não se baseia em uma diferença tangível nos elementos oferecidos. Ambos irmãos apresentaram ofertas de suas colheitas, mas a distinção crucial residia na condição interna de seus corações, discernida pelo próprio Deus, como explicitamente indicado em Gênesis 4:4,5.

Millos destaca que Deus não rejeitou a oferta de Caim simplesmente por ser uma oferta de vegetais, pois, ofertas similares são aceitas posteriormente na lei dos sacrifícios.

“As ofertas de vegetais se estabeleceram séculos mais tarde na lei que regulamentava as ofertas, concretamente para oferta de paz se apresentavam tortas de farinha de primeira qualidade amassada com azeite (Lv 7:12). Caim trouxe a Deus uma oferta a seu modo, de acordo com o seu critério pessoal, a partir do esforço da obra humana. Nesse sentido foi a primeira oferta que pretendia uma justificação pelas obras e não por fé. Abel seguiu outra pauta, a da fé, na dependência absoluta da graça que se manifestava no sacrifício que o substituía em relação com a expiação do pecado. A aceitação ou recusa daquelas ofertas foi a fé, ou a falta de fé. Deus não olha a aparência, mas o coração” (1 Sm 16:7).

Contudo, o cerne da questão estava na motivação e na abordagem de Caim ao apresentar sua oferta. Pois, era mais uma tentativa de justificação pelas obras do que um ato de fé. Abel, por outro lado, expressou sua fé por meio de sua oferta.

Sua ação era uma resposta à graça de Deus, manifestada na substituição que Deus providenciou para a expiação do pecado.

Deus deixa-nos um exemplo claro do tipo de que:

“Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus” (Sl 51:17).

A fé de Abel não apenas justificou sua oferta aos olhos de Deus, mas também demonstrou uma adoração genuína. Ao se aproximar de Deus confiando em Sua graça, Abel adorou em obediência, em espírito e em verdade.

Em contrapartida, Millos lembra que a condição de Caim estava sujeita à influência maligna, resultando em um ato homicida contra seu irmão. A aceitação ou rejeição da oferta, portanto, estava intrinsicamente ligada à condição do coração do ofertante.

O Senhor, ao questionar Caim em Gênesis 4:6,7, revela que mais importante do que a ação em si é o motivo por trás dela.

Deus valoriza a intenção do coração sobre a mera realização de ações externas. Esta é uma verdade que transcende os tempos e permanece relevante para os que buscam agradar a Deus em suas vidas.

Antonio Neves de Mesquita

Antonio Neves de Mesquita oferece uma perspectiva intrigante sobre a recusa da oferta de Caim em contraste com a aceitação da oferta de Abel.

Ele sugere que Caim, possivelmente, não poderia oferecer uma oferta de manjares sem primeiro apresentar um sacrifício de sangue para expiar seus pecados. A ausência desse elemento pode ter contribuído para Deus não atentar para sua oferta, mas Mesquita reconhece a dificuldade em afirmar categoricamente essa relação.

Mesquita pondera que há duas alternativas para explicar a falta de aceitação divina: ou a oferta carecia do espírito de adoração, tornando-se uma mera formalidade, ou Deus escolheu aceitar uma e rejeitar a outra independentemente da qualidade das ofertas. Ele sugere que a segunda alternativa parece mais razoável.

O autor menciona uma tradição rabínica que afirma que Deus mostrou aprovação pela oferta de Abel ao enviar fogo do céu para consumir o holocausto, comparando isso ao episódio de Elias com os profetas de Baal.

Esse método de aceitação, segundo Mesquita, se associava principalmente a sacrifícios de sangue, não às ofertas de manjares. Ele especula que a causa da ira de Caim poderia ser pela falta de resposta divina semelhante à experiência de Abel.

Embora Mesquita reconheça que essa tradição é apenas uma possibilidade, ele destaca que o autor da carta aos Hebreus afirma que Abel ofereceu um melhor sacrifício pela fé.

Isso sugere que a rejeição da oferta de Caim estava vinculada ao estado do coração de Caim, indicando que ele não estava verdadeiramente adorando o Criador, mas seguindo rituais familiares de maneira meramente formal.

Keil e Delitzsch

Segundo a perspectiva de Keil e Delitzsch, a atenção de Yahweh à oferta de Abel foi, de qualquer forma, um sinal visível de satisfação. Eles compartilham a opinião comum e antiga de que o fogo consumiu o sacrifício de Abel, servindo como uma demonstração misericordiosa de aceitação divina.

Essa aceitação diferenciada das duas ofertas, argumentam, baseou-se na atitude do coração, evidenciada na seleção das ofertas.

Keil e Delitzsch enfatizam que a razão para a diferença na aceitação das ofertas não se deve ao fato de Abel ter oferecido um sacrifício de sangue e Caim um sem sangue. Esta diferença, esclarecem, surgiu de suas ocupações distintas, e cada um apresentou o produto de sua própria profissão. O ponto crucial foi que Abel ofereceu o melhor dos primogênitos de seu rebanho, enquanto Caim trouxe apenas uma porção do fruto da terra, não os primeiros frutos (bikkurim).

Além disso, Keil e Delitzsch explicam que a razão da aceitação ou rejeição da oferta se encontra na motivação profunda do coração de cada ofertante.

Abel expressou gratidão genuína, oriunda do âmago de seu coração, enquanto Caim ofereceu sua oferta com o propósito de manter uma boa aparência com Deus. Pois, isso revela uma diferença fundamental na escolha das ofertas de acordo com a motivação interna de cada um.

Para Keil e Delitzsch, a seleção das ofertas evidencia claramente que o sentimento piedoso, no qual o adorador investe sinceramente seu coração na oferta, é o que torna a oferta aceitável a Deus.

Essa ênfase na disposição interna, na sinceridade e na motivação do coração destaca a importância da verdadeira adoração na aceitação divina das ofertas apresentadas.

Deus aceitar a oferta de Abel e rejeitar a de Caim

Por que Deus aceitou a oferta de Abel e rejeitou a de Caim?

À luz das interpretações apresentadas pelos autores, emergem nuances ricas e complementares sobre o porquê Deus aceitou a oferta de Abel e rejeitou a de Caim.

Segundo Pérez Millos, a ênfase recai sobre a condição interna do coração dos ofertantes. Ele destaca que Deus não apenas observa as ofertas materiais, mas atenta para a motivação por trás delas. Nesse contexto, a rejeição da oferta de Caim é associada à ausência de uma fé genuína e de uma adoração verdadeira, marcando uma clara distinção na atitude dos dois irmãos.

Por outro lado, Mesquita levanta a possibilidade de que a oferta de Caim poderia ter sido recusada devido à ausência de um sacrifício de sangue, crucial para expiação de pecados. Ele sugere que a ira de Caim pode ter sido alimentada pela falta de resposta divina semelhante à experiência de Abel, que viu seu sacrifício ser aceito por meio de um sinal visível de satisfação.

Keil e Delitzsch oferecem uma análise adicional, argumentando que a seleção da oferta foi crucial. Eles apontam que a diferença não estava na natureza do sacrifício, mas na qualidade e na motivação subjacentes. Abel, trazendo o melhor dos primogênitos do seu rebanho, expressou um agradecimento profundo e piedoso. Enquanto Caim, de acordo com essa perspectiva, ofereceu de maneira mais formal, buscando interesses com Deus.

Numa síntese, a convergência entre essas perspectivas destaca a importância da motivação interna, da fé autêntica e da verdadeira adoração na relação de Deus com as ofertas humanas. A mensagem central é que Deus não atenta apenas para o que é oferecido externamente, mas para o estado do coração do ofertante, evidenciando que a aceitação divina vai além de gestos formais, envolvendo uma entrega sincera e uma conexão íntima entre o adorador e o Criador.

Equipe Redação BP

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