Por que Mardoqueu não se curvou diante de Hamã?
Quando lemos a história de Mardoqueu no livro de Ester nos deparamos com uma situação um tanto curiosa, ele não se curvava diante de Hamã. Mas por quê? Existia algum motivo de Mardoqueu não se prostrar diante de Hamã, mesmo sabendo que essa sua atitude poderia trazer sérias consequências tanto para ele quanto para o seu povo que vivia na Pérsia?
Pelo que sabemos na Bíblia, Hamã, até aquele momento, nunca havia feito um agravo contra Mardoqueu ou contra o seu povo para merecer essa forma de tratamento.
Quem foi Hamã na Bíblia?
Hamã, era um alto oficial na corte, uma espécie de primeiro ministro de Assuero, rei da Pérsia. Ele aparece pela primeira vez na Bíblia em Ester 3:1 onde diz:
Depois destas coisas o rei Assuero engrandeceu a Hamã, filho de Hamedata, agagita, e o exaltou, e pôs o seu assento acima de todos os príncipes que estavam com ele.
Hamã era um homem orgulhoso com um ego facilmente ferido. E de acordo com a Bíblia, ele odiava a Mardoqueu porque ele não se inclinava nem se prostrava diante de Hamã.
Mas, então por que Mardoqueu não se curvou diante de Hamã?
Ao pesquisar, descobrimos pelo menos quatro soluções propostas para responder a essa pergunta:
1 – Mardoqueu não se curvava diante de Hamã porque ele era um amalequita. E os amalequitas eram inimigos do povo judeu. (Êxodo 17:8; 1 Samuel 15).
“De acordo com o Targum e o Midrash, Mardoqueu pode ter se horrorizado com a ideia de curvar-se perante um amalequita ou agagita”. (Ester 3:1 e 1 Samuel 15:32-33) (DITAT pg. 435).
2 – Mardoqueu, por causa do temor que tinha a Deus, jamais se curvaria diante de um homem, mas apenas diante de Deus.
3 – Havia uma imagem de um ídolo no manto de Hamã. E, por essa razão, Mardoqueu entendia que não era apenas diante de um homem que ele estava se prostrando, mas, sim, diante do ídolo estampado nas vestes de Hamã.
Essa explicação tem a seu favor o testemunho do Targum e do Midrash que “explicam que a recusa de Mardoqueu com base na presença de um suposto ídolo no manto de Hamã. (DITAT pg. 435)
4 – Os reis persas eram considerados uma divindade digna de adoração. E seus funcionários, por serem representantes do rei, recebiam o mesmo tipo de reverência. Daí, Mardoqueu entender que estaria se prostrando diante da divindade que o rei, segundo os persas, estava encarnando.
As quatro posições possuem um certo grau de plausibilidade. Apesar da afirmação de que Mardoqueu era um amalequita é duvidosa. No entanto, o site Jewish Encyclopedia aponta: “Hamão – Filho de Hamedata; ministro-chefe do rei Assuero. Como seu nome indica, Hamã (agagita) era descendente de Agague, o rei dos amalequitas.”
Qual a resposta para Mardoqueu não se prostrar diante de Hamã…
Talvez, a alternativa 4 é a mais certa por ter o testemunho de autores de referência histórica e teológica, como Heródoto, Plutarco, Temístocles, Keil e Delitzsh.
O costume de prostrar-se perante os poderosos, neste caso perante o rei, encontramos também entre os israelitas:
2 Samuel 9:6:
“Quando Mefibosete, filho de Jonatas, filho de Saul, veio à presença de Davi, prostrou-se com o rosto por terra. Davi lhe perguntou: ‘Mefibosete!’ Ele respondeu: ‘Aqui está o seu servo’.”
2 Samuel 14:4:
“Quando a mulher de Tecoa foi falar com o rei, prostrou-se com o rosto por terra e o adorou, dizendo: ‘Ajuda-me, ó rei!'”
1 Reis 1:16:
“Então Bate-Seba se inclinou, prostrou-se com o rosto por terra e disse ao rei: ‘Que o meu senhor, o rei Davi, viva para sempre!'”
2 Samuel 18:28:
“Então Aimaás aproximou-se do rei e o saudou. Prostrou-se, rosto em terra, diante do rei e disse: Bendito seja o Senhor teu Deus! Ele entregou os homens que se rebelaram contra o rei, meu senhor”.
Então, se Mardoqueu se negava a honrar a Hamã, devemos buscar o motivo disso. E está na forma que os persas tratavam o ato de prostrar-se. Ou seja, como os persas viam isso como adoração ao rei em sua função de encarnação de Auramazda (divindade persa) devia ser adorado.
Os persas não só adoram a seus reis entre os deuses de uma maneira religiosa, mas também de uma maneira prudente porque (consideram que) a majestade é um sinal de proteção de bem estar do reino.
Por isso os espartanos se negavam a prostrar-se perante o rei Xerxes (Heródoto. VII, 136) porque não era costume entre os gregos adorar desta forma a homens.
Segundo (Keil e Delitzsch pg 1391), esta adoração que servia para adorar e honrar a um deus, se ampliava pelos funcionários reais e também a Hamã como representante do rei. De acordo com esse pensamento, Mardoqueu não podia de curvar diante de Hamã, pois isso o fazia negar sua fé.