Salmo 24 Explicação Completa e Comentada
A maioria dos estudiosos associa o Salmo 24 ao momento em que Davi levou a arca da aliança para Jerusalém (2 Samuel 6; 1 Crônicas 15:1–16:3). É bem provável que o próprio Davi tenha escrito esse salmo para essa ocasião histórica.
Tudo indica que se trata de um salmo antifônico: o povo (ou um coral de levitas) iniciava cantando os versículos 1 e 2; um líder fazia as perguntas nos versículos 3, 8a e 10a; e o coral respondia com os versículos 4 a 6, 8b e 10b.
Durante séculos, o Salmo 24 era cantado todo domingo no templo de Herodes. Alguns relacionam este cântico com a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém no Domingo de Ramos.
Na tradição cristã, também se lê no Dia da Ascensão, 40 dias após a Páscoa, pois aponta para Cristo como o Rei da Glória, subindo ao céu depois da vitória sobre o pecado e a morte (Efésios 4:8; Colossenses 2:15), e anuncia Sua volta gloriosa para estabelecer o Reino (Mateus 25:31). Isso explica a repetição enfática: “Levantai, ó portas, as vossas cabeças” (versículos 7 e 9).
O Salmo 24 apresenta um privilégio triplo concedido por Deus ao Seu povo: desfrutar da bondade na criação, da graça na redenção e da glória na conquista.
1. Somos mordomos que desfrutam a bondade de Deus na criação (Salmo 24:1-2)
“Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe, o mundo e os que nele habitam.” (Salmo 24:1)
De todos os corpos celestes criados, a Terra foi escolhida por Deus como palco de Seu plano redentor. O teólogo Clarence Benson a chamou de “o teatro do universo”. Foi aqui que Deus enviou Seu Filho para viver, ministrar, morrer e ressuscitar, a fim de salvar pecadores.
Tudo pertence ao Senhor: a Terra, os recursos e as pessoas criadas à Sua imagem. O nome divino “Senhor” aparece seis vezes no salmo, reforçando que somos apenas mordomos, administradores daquilo que pertence a Ele (1 Timóteo 6:17). O que oferecemos a Deus é apenas uma devolução do que já recebemos (1 Crônicas 29:14; Salmo 50:10-12).
Essa consciência molda nossa responsabilidade de cuidar da criação e de tudo que Ele nos confiou. Paulo cita o Salmo 24:1 em 1 Coríntios 10:25-26 para lembrar que tudo o que Deus criou é bom, inclusive os alimentos, santificados pela ação dEle (1 Timóteo 4:3-5; Marcos 7:14-23).
2. Somos adoradores que experimentam a graça de Deus na redenção (Salmo 24:3-6)
“Quem subirá ao monte do Senhor? Quem há de permanecer no seu santo lugar?” (Salmo 24:3)
O Salmo 24 dialoga diretamente com o Salmo 15: ambos mostram que adorar a Deus é elevar-se espiritualmente. No contexto de Davi, a arca era o trono de Deus na Sião terrena, e apenas levitas purificados podiam carregá-la.
Da mesma forma, quem deseja se aproximar do Rei precisa ter mãos limpas (vida íntegra) e coração puro (motivações santas) (Mateus 5:8; Isaías 1:15-16).
Mas nenhum ser humano por si só cumpre esses requisitos. “Todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3:23).
A resposta está em Cristo: apenas Ele é qualificado para entrar na presença do Pai e nos representar como nosso intercessor (Hebreus 10:1-25). A justiça de Deus não se conquista, se recebe pela fé como dádiva (Romanos 3:21–4:9).
“Buscar a face de Deus” é buscar uma audiência com o Rei. Davi compara essa geração que O busca ao patriarca Jacó, que lutou por uma bênção e viu o rosto de Deus (Gênesis 32:24-32). Jacó não era perfeito, mas foi salvo pela graça. É por isso que o Senhor Se chama de “Deus de Jacó” (Salmo 46:7, 11).
3. Somos vencedores que celebram a glória de Deus na conquista (Salmo 24:7-10)
“Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória!” (Salmo 24:7)
Cinco vezes, Deus é chamado de Rei da Glória neste salmo. Essa expressão aponta para Cristo, que venceu o pecado e a morte, e voltará em poder. Martinho Lutero interpretou a expressão “Levantai, ó portas” como “escancarai os portais”, um convite para que a cidade inteira receba o Senhor de todo o coração.
Quando Jesus entrou em Jerusalém no Domingo de Ramos, o Salmo 24 foi cantado no templo, mas não foi aplicado a Ele. Os líderes O rejeitaram e O enviaram ao Gólgota. Porém, após a ressurreição, ao subir à Sião celestial, Cristo foi recebido como o vitorioso Senhor dos Exércitos, título usado quase 300 vezes no Antigo Testamento (Hebreus 12:18-24).
O salmo aponta também para o futuro: Jesus voltará, libertará Jerusalém, derrotará os exércitos do mundo (Apocalipse 19:11ss; Zacarias 12–14) e será reconhecido como Rei sobre toda a Terra (Zacarias 14:9).
Enquanto aguardamos esse dia, podemos viver como “mais que vencedores” pela fé em Cristo (Romanos 8:31-39), triunfando em cada área de nossa vida (2 Coríntios 2:14).
A explicação do Salmo 24 nos revela um significado espiritual profundo: somos mordomos da criação, adoradores redimidos e vencedores em Cristo. Ele nos lembra que pertencemos a três mundos: a criação ao nosso redor, a nova criação dentro de nós (2 Coríntios 5:17) e a futura criação eterna (Apocalipse 21–22).
Esse salmo nos chama a viver com mãos limpas, corações puros e portas abertas para receber o Rei da Glória.. hoje e para sempre.
O Salmo: Os rabinos ensinam que este era um dos salmos que eram cantados no desempenho do culto judaico em cada dia da semana:
O Salmo 24 no primeiro dia, domingo, o dia do Senhor.
Spurgeon
O Salmo 48 no segundo dia, segunda-feira.
O Salmo 82 no terceiro dia, terça-feira.
O Salmo 94 no quarto dia, quarta-feira.
O Salmo 81 no quinto dia, quinta-feira.
O Salmo 93 no sexto dia, sexta feira.
O Salmo 92 no sétimo dia, sábado, o sábado judaico.
Salmo 24 explicação versículo por versículo
“Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe, o mundo e os que nele habitam.”
O salmista declara que toda a criação pertence a Deus. Nada está fora de Sua autoridade: a terra, os recursos e cada ser humano foram criados por Ele. Este versículo estabelece a base do salmo, lembrando que somos apenas mordomos do que é dEle.
“Ele a fundou sobre os mares e a estabeleceu sobre as águas.”
Aqui vemos o poder criador de Deus. O salmo ecoa Gênesis, mostrando que o mundo foi formado pela palavra do Senhor. A imagem de “fundar sobre as águas” expressa Sua soberania sobre o caos e a natureza.
“Quem subirá ao monte do Senhor? Quem há de permanecer no seu santo lugar?”
Davi levanta uma pergunta essencial: quem é digno de entrar na presença de Deus? O “monte do Senhor” aponta para Sião, mas espiritualmente fala de se aproximar de Deus em adoração.
“O que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à falsidade nem jura dolosamente.”
A resposta mostra que não se trata apenas de rituais, mas de vida santa. Mãos limpas representam ações corretas; coração puro, intenções sinceras. Afastar-se da falsidade e da mentira é essencial para quem deseja adorar o Rei.
“Este receberá a bênção do Senhor e a justiça do Deus da sua salvação.”
Aqueles que buscam a Deus com mãos limpas e coração puro experimentam Sua graça. A “justiça” aqui não vem de obras, mas é dom do Senhor, apontando para a salvação em Cristo.
“Tal é a geração dos que o buscam, dos que buscam a tua face, ó Deus de Jacó.”
Davi descreve uma geração de buscadores, pessoas que não apenas creem, mas anseiam pela presença de Deus. A referência ao “Deus de Jacó” mostra a graça que alcança até pessoas imperfeitas, assim como alcançou o patriarca.
“Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória!”
Um chamado poético para que a cidade receba o Senhor. A linguagem de “portas” e “portais” simboliza abrir totalmente o coração e a vida para a entrada do Rei da Glória.
“Quem é este Rei da Glória? O Senhor, forte e poderoso, o Senhor, poderoso nas batalhas.”
O líder pergunta e o coro responde: o Rei da Glória é o próprio Senhor, guerreiro vitorioso que luta por Seu povo. Para os cristãos, esse versículo aponta para Cristo, que venceu na cruz.
“Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória!”
A repetição reforça a importância de abrir espaço para o Rei. É uma ênfase dupla: nada deve impedir a entrada do Senhor no centro da vida e da adoração.
“Quem é este Rei da Glória? O Senhor dos Exércitos, Ele é o Rei da Glória.”
O salmo termina exaltando Deus como o Senhor dos Exércitos. Ele reina sobre anjos, sobre Seu povo e sobre toda a criação. Em Cristo, o Rei da Glória, temos vitória e salvação eternas.
Veja também: Salmo 23 explicado.