Salmo 4: Estudo versículo por versículo comentado e explicado

Tudo indica que o Salmo 4 é uma composição complementar ao Salmo 3, formando um par. Se o Salmo 3 pode ser chamado de “O Salmo da Manhã”, então o Salmo 4, em consonância com seu tema, merece ser intitulado como “O Hino da Noite”.

O que diz o Salmo 4 da Bíblia?

¹ Ouve-me quando eu clamo, ó Deus da minha justiça; na angústia me deste largueza; tem misericórdia de mim e ouve a minha oração.
² Filhos dos homens, até quando convertereis a minha glória em infâmia? Até quando amareis a vaidade e buscareis a mentira? (Selá)


³ Sabei, pois, que o Senhor separou para si aquele que lhe é querido; o Senhor ouvirá quando eu clamar a ele.
⁴ Perturbai-vos e não pequeis; falai com o vosso coração sobre a vossa cama e calai-vos. (Selá)


⁵ Oferecei sacrifícios de justiça e confiai no Senhor.
⁶ Muitos dizem: Quem nos mostrará o bem? Senhor, exalta sobre nós a luz do teu rosto.
⁷ Puseste alegria no meu coração, mais do que no tempo em que se multiplicaram o seu trigo e o seu vinho.
⁸ Em paz também me deitarei e dormirei, porque só tu, Senhor, me fazes habitar em segurança.

Quem é o autor do Salmo 4?

No título do Salmo 4, na versão ARC diz: “Salmo de Davi para o cantor-mor, sobre Neguinote.”

Então, está claro que o autor deste salmo é Davi. O Próprio título indica isso. Em muitas versões da Bíblia é algo como “Ao mestre do coro, com instrumentos de corda, Salmo de Davi.

O que significa “para o cantor-mor” no Salmo 4

A expressão “para o cantor-mor” nos Salmos indica que foram designados ou destinados ao “mestre de canto” ou “mestre do coro”.

O “mestre de canto” aparece inicialmente e aparece em 53 salmos. Ele era o “ministro do louvor” encarregado de preservar os salmos sagrados no tabernáculo e no templo (1 Cr 6:31, 32; 15:16-22; 25:1, 7).

1 Crônicas 6:31-32:

“31 Estes, pois, são os que Davi pôs sobre o ministério do canto na casa do Senhor, desde que a arca teve repouso. 32 E estavam diante do tabernáculo de tenda de reunião cemitério, dentre os filhos de Asafe, a saber: Zicri o primeiro, e Jediael o segundo, e Zebadias o terceiro, e Jateniel o quarto,”

1 Crônicas 15:16-22:

“16 E falou Davi aos chefes dos levitas, para que estabelecessem a seus irmãos os cantores, com instrumentos musicais, com alaúdes, harpas e címbalos, para que se fizessem ouvir, levantando ao alto a voz com alegria. (…) 22 E Quenanias, chefe dos levitas na carga, era mestre de canto, porque era entendido nisso.”

Robert Hawker declara:

“A palavra hebraica que em nossas versões é traduzida por ‘cantor-mor’, a Septuaginta a lê por lamenetz, em vez de lamenetzoth, cujo significado é para o fim”.

Spurgeon diz:

“Com isso, os pais gregos e latinos imaginaram que todos os salmos que tivessem esta inscrição referiam-se ao Messias, o grande final. Neste caso, este salmo é endereçado a Cristo. É bem possível, pois é tudo de Cristo, falado por Cristo e diz respeito ao seu povo como sendo um com Cristo. O Espírito do Senhor dá ao leitor esta visão, que o achará muito abençoado.” Tesouros de Davi – Spurgeon.

Qual é o significado de “sobre Neguinote” no Salmo 4?

O termo hebraico “neguinote” significa “acompanhado por instrumentos de corda” (4, 6, 54, 55, 61, 67, 76) referindo-se à harpa e à lira.

Em 1 Crônicas 23:5 diz:

“Quatro mil foram porteiros; e quatro mil louvavam ao Senhor com os instrumentos que Davi fez para louvar.”

1 Crônicas 25:1 diz:

“Também Davi e os chefes do exército separaram para o ministério os filhos de Asafe, e de Hemã, e de Jedutum, que profetizasse com harpas, com címbalos, e com saltérios; e o número destes, com seus irmãos instruídos no canto do Senhor, todos eles homens hábeis, foi duzentos e oitenta e oito.”

1 Crônicas 25:3:

“Da descendência de Jedutum: Gedalias, Zeri, Jesaías, Hasabias, e Matitias, seis ao todo, debaixo da direção do pai Jedutum, profetizando com harpas, para louvar e dar graças ao Senhor.”

E, 1 Crônicas 25:6 diz:

“Todos estes estavam sob a direção de seus pais para o canto da casa do Senhor, com címbalos, saltérios e harpas, para o ministério da casa de Deus, segundo a ordem do rei de cada dia.”

Esta expressão remete ao uso de instrumentos musicais, especialmente aqueles de cordas ou tocados manualmente, como harpa e címbalo.

Na tradição da igreja judaica, a intensidade da alegria era tal que recorriam à música para expressar os sentimentos mais profundos de suas almas.

O uso desses instrumentos não apenas denota uma manifestação emocional, mas também destaca a adoração a Deus.

A referência a instrumentos tocados com as mãos evoca a imagem poética de sermos como instrumentos nas mãos divinas. Como afirmou Nazianzeno, “Senhor, sou um instrumento para tu tocares”.

Contexto do Salmo 4

Quando comparamos as palavras deste salmo com as do salmo anterior, é inevitável concluir que ambos tratam da mesma situação na vida de Davi: adversários e angústia (v. 1), a presença de muitos (vv. 6, 2), referências à glória (vv. 2, 3), e a menção de voz ou clamor (vv. 1, 4), além de referências a deitar-se ou dormir (vv. 8, 5).

Davi escreveu o Salmo 4 após fugir de Jerusalém, quando seu filho Absalão usurpou o trono (2 Sm 15-18). Na narrativa, o rei e seus seguidores atravessaram o rio Jordão e acamparam em Maanaim.

O Salmo 3 é caracterizado como matutino (v. 5), enquanto o Salmo 4, escrito durante os mesmos eventos, é um salmo vespertino (4:8).

Qual a divisão deste Salmo?

Wiersbe sugere a seguinte divisão:

1. Olhe para o Senhor (Salmo 4:1)

2. Confronte o inimigo (Salmo 4:2-3)

3. Encoraje seus amigos (Salmo 4:4-5)

4. Louve ao Senhor (Salmo 4:6-8)

Qual é a mensagem central do Salmo 4?

No Salmo 4, Davi emite um clamor confiante a Deus em meio a adversidades, buscando respostas divinas para a ansiedade. Ele apela à justiça de Deus, destacando a notória diferença entre os ímpios e os justos. Além disso, exorta à reflexão noturna e encoraja a confiança, promovendo a oferta de sacrifícios de retidão.

A mensagem central do Salmo é clara: a busca da paz em Deus. Este ato não apenas supera as preocupações, mas também instiga uma confiança profunda na luz divina que guia o caminho.

Em meio às aflições, a ênfase recai na necessidade de ancorar a fé no Senhor, buscando Sua orientação e desfrutando da paz que somente Ele pode conceder.

Salmo 4: Comentário versículo por versículo

Salmo 4 Comentário versículo por versículo

1 # “OUVE-ME quando eu clamo, ó Deus da minha justiça, na angústia me deste largueza; tem misericórdia de mim e ouve a minha oração.”

Este primeiro versículo expressa um clamor ardente e aflito de Davi, significando, essencialmente, “ouve-me!“. Em sua oração, ele busca desesperadamente o socorro de Deus e aguarda ansiosamente uma resposta.

Antes, quando enfrentou o exílio na juventude, Davi tinha um sacerdote para consultar o Urim e o Tumim em busca da vontade de Deus. No entanto, na rebelião de Absalão, essa opção não estava disponível.

A expressão “Deus da minha justiça” não apenas destaca a justiça inerente de Deus, mas também ressalta que a justiça do rei Davi é proveniente de Deus, e, portanto, cabe a Deus justificá-lo. Mesmo sendo disciplinado por sua desobediência, Deus havia perdoado os pecados de Davi. O chamado de Davi para ser rei é algo que somente Deus pode legitimar.

Davi recorda ao Senhor os livramentos concedidos em momentos passados, confiante de que Deus, que o tirou de apertos anteriormente, pode fazê-lo novamente. O termo “angústia” descreve uma situação sem saída, como estar encurralado num lugar apertado.

Contudo, Deus o tem “aliviado” ou “colocado num lugar espaçoso“, pois Davi crescia em meio às dificuldades.

A percepção de Davi é marcada pela compreensão de que não merece a ajuda divina, mas ele ora fundamentado na misericórdia e favor de Deus. Em sua graça, o Senhor nos concede aquilo que não merecemos, e, em Sua misericórdia, retém aquilo que mereceríamos.

2 # “Filhos dos homens, até quando convertereis a minha glória em infâmia? Até quando amareis a vaidade e buscareis a mentira?”

Davi não estava presente durante a revolta, mas dirigia suas palavras àqueles que se rebelaram, proclamando Absalão como rei. O termo “homens” refere-se aos líderes corrompidos por Absalão, que, ao lado dele, desviaram o povo.

Davi compreendia a lógica deles e conhecia as artimanhas de Absalão para enganá-los. Ele reconhecia que toda a glória pertence ao Senhor e não a si mesmo. Essa perspectiva humilde reflete a compreensão de Davi sobre sua dependência de Deus e sua renúncia à autopromoção.

3 # “Sabei, pois, que o SENHOR separou para si aquele que é piedoso; o SENHOR ouvirá quando eu clamar a ele.”

O Senhor trata com cuidado especial os fieis a Ele. Deus ouve quando esses oram. Esta é fé de Davi em Deus.

Davi acreditava na justiça de Deus e no Seu plano infalível. Pois, Se Deus tinha um plano na vida de Davi, quem poderia impedir?

Além disso, Deus ouve a pessoa piedosa. Por isso, vale a pena servir ao Senhor com fidelidade. Quando precisarmos de ajuda, certamente o Senhor nos ouvirá.

4 # “Irai-vos e não pequeis; consultai com o vosso coração em vosso leito, e calai-vos.”

Neste versículo, Davi se dirige aos seus seguidores, alguns dos quais estão à beira de perder o controle devido às intensas emoções. Ele oferece instruções aplicáveis às situações contemporâneas em que a raiva ameaça crescer dentro de nós.

Não pequeis: A ira pecaminosa pode levar a palavras e ações pecaminosas, inclusive homicídio (Mt 5:21-26). Paulo cita este versículo em Efésios 4:26, ressaltando que nem toda ira é pecaminosa. Existe uma ira santa contra o pecado, presente no coração de todo cristão (Mc 3:5), mas é crucial evitar alimentar uma ira pecaminosa.

Consultai com o coração: É fácil indignar-se com os pecados alheios enquanto ignoramos os nossos próprios (Mt 7:1-5). Davi mesmo havia caído nessa armadilha (2 Sm 12:1-7). Em vez de ser consumido pelas atitudes dos outros, devemos fazer uma introspecção, examinando se há pecados em nosso próprio coração que precisamos confessar.

Calai-vos: A reflexão sincera sobre o nosso coração não deve gerar inquietação, mas sim levar-nos a confessar nossos pecados ao Senhor.

5 # “Oferecei sacrifícios de justiça, e confiai no SENHOR.”

Os sacrifícios não podiam ser oferecidos no deserto, mas era possível fazer promessas para oferecê-los quando retornassem a Jerusalém. Essa prática é ilustrada por Jonas (Jn 2:9). Em contraste, Absalão ofereceu sacrifícios hipócritas para impressionar o povo, mas Deus não os aceitou (1 Sm 15:12; Salmo 50:14, 15).

A mensagem de confiança no Senhor (5b) destaca-se. Enquanto Absalão confiava em sua liderança, exército, estratégias astutas e popularidade, ele não confiava no Senhor. Essa falta de confiança condenou seu plano ao fracasso.

Davi, além de ser um grande rei e estrategista militar, era um pastor amoroso preocupado com seu povo. Ele desejava que andassem com o Senhor, reconhecendo que a situação espiritual era mais crucial do que habilidades militares. Sabia que o Senhor concede vitória àqueles que confiam e obedecem (Salmo 51:16-19).

6 # “Muitos dizem: Quem nos mostrará o bem? SENHOR, exalta sobre nós a luz do teu rosto.”

Os líderes de Davi comunicaram ao rei as preocupações e desânimo evidentes entre o povo. A pergunta recorrente era: “Quem nos mostrará o bem?” Isso expressava o anseio por algo positivo em meio à situação difícil. Davi percebe a repetição constante dessas palavras de desânimo, criando uma atmosfera tensa.

No entanto, Davi tem uma perspectiva diferente do “bem” desejado. Ele busca o resplendor do sorriso de Deus sobre ele e seu povo, algo mais profundo do que meras circunstâncias externas. A referência à bênção sacerdotal em Números 6:24-26 destaca a busca de Davi pelo favor divino.

Mesmo sem um sacerdote presente, Davi confia que Deus responderá às súplicas do seu coração. Ele almeja que o Senhor transforme as trevas em luz, substituindo não apenas a escuridão ao seu redor, mas também o desânimo por alegria.

Esse desejo reflete, portanto, a compreensão profunda de Davi sobre o que verdadeiramente constitui um “bem” duradouro.

7 # “Puseste alegria no meu coração, mais do que no tempo em que se lhes multiplicaram o trigo e o vinho.”

É interessante notar que a alegria experimentada por Davi supera até mesmo a exuberância associada a ocasiões de festa, como casamentos e colheitas abundantes entre os israelitas. Isso ressalta que a alegria oriunda da resposta divina transcende as alegrias terrenas.

Aprendemos na Bíblia que a alegria proporcionada por Deus é mais profunda e duradoura do que qualquer contentamento derivado de circunstâncias temporais.

Essa alegria divina é um tema recorrente nas Escrituras, destacando a riqueza espiritual que Deus concede àqueles que confiam Nele. Essa transformação espiritual representa não apenas uma mudança nas circunstâncias, mas uma reviravolta no próprio estado emocional e espiritual de Davi.

8 # “Não temais quando alguém enriquece, quando a glória da sua casa se engrandece.”

Neste versículo final, Davi expressa seu louvor a Deus pela paz que antecede a batalha, uma tranquilidade que Deus depositou em seu coração antes mesmo da luta. Essa paz não é apenas a ausência de conflitos, mas representa uma plenitude de vida e confiança. Davi reconhece que essa paz é um dom divino, um descanso proporcionado por Deus, seu escudo protetor.

A referência ao Senhor como escudo remete à imagem de proteção divina que acompanha Davi desde os tempos difíceis descritos em outros salmos. Aqui, antes da batalha, ele encontra repouso sabendo que Deus é seu defensor e guardião. A paz que antecede a luta é uma evidência da presença e cuidado contínuos de Deus na vida de Davi.

A relação próxima entre Davi e Deus é simbolizada por esse sentimento de paz, onde o coração do salmista está ancorado na confiança do Senhor, independentemente das circunstâncias externas.

Essa paz divina é, portanto, um tema recorrente na experiência espiritual de Davi, destacando a profunda conexão que ele mantém com o seu Deus.

Estude mais sobre os Salmos:

André Lourenço

Bacharel em Teologia, Graduado em Gestão da Qualidade e Pós Graduando em Psicologia nas Organizações, André possui mais de 17 anos de experiência na pregação e ensino da Bíblia. É Professor de cursos de Homilética e Hermenêutica. Já escreveu centenas de estudos bíblicos e ministra aulas na EBD. Se considera um eterno aprendiz e apaixonado por Compartilhar a Palavra de Deus!

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