Salmo 2: Estudo Versículo por Versículo Comentado e Explicado

O Salmo 2, com sua abordagem profética, é um marco no Livro dos Salmos. Enquanto o Salmo 1 se concentra na Lei de Deus, o Salmo 2 mergulha nas profecias messiânicas e nas interações entre as nações e o Senhor. Neste estudo, vamos desvendar os mistérios desse Salmo, versículo por versículo, para entender o seu significado e relevância.

Sobre o que é o Salmo 2?

O Salmo 2 é uma reflexão profunda sobre o domínio absoluto de Deus sobre os reinos terrenos. Neste Salmo, somos imersos em uma imagem vívida da rebelião das nações contra Deus e Seu Ungido. A sua significância também se estende ao campo messiânico, profetizando o papel de Jesus como o Rei e o Salvador.

Classificado amplamente como um “Salmo Real”, este Salmo focaliza o supremo Rei acima de todos os monarcas. Seus ecos ressoam harmoniosamente com outros salmos reais como os Salmos 18, 20, 21, 45, 72, 89, 101, 110, 132 e 144. A interligação profunda entre as Escrituras é notável quando Atos 13:33 associa o versículo 7 do Salmo 2 a Jesus, evidenciando Sua natureza messiânica.

Além disso, no Apocalipse 2:27, o Salvador ressuscitado associa o versículo 9 do Salmo 2 à Sua vitória sobre as nações rebeldes, prenunciando Seu reinado vindouro na Terra. O Apocalipse 19:19–21 ilumina o cumprimento desse Salmo, narrando a ocasião em que Jesus triunfará sobre as nações que se unirão na última batalha contra o Ungido de Deus. As interconexões profundas entre o Salmo 2 e outros trechos bíblicos amplificam o seu significado, realçando a soberania e o reinado eterno do Messias.

Quem escreveu o Salmo 2?

De acordo com Atos 4:25, o Salmo 2 é atribuído a Davi. Escrito em um contexto de coroação real e rebelião das nações, ele oferece visões tanto reais quanto messiânicas.

Contexto do Salmo 2

O Salmo 2 reflete as tensões geopolíticas da época, onde os governantes das nações vizinhas frequentemente desafiavam a autoridade de Israel.

Este Salmo é uma mistura única de profecia e realidade. Ele descreve uma conspiração das nações contra Deus e Seu ungido. O cenário real envolve a coroação de um rei em Israel, mas suas palavras reverberam na coroação suprema do Messias.

O renomado estudioso Steven Cole aborda a estrutura e o contexto do Salmo 2, um dos textos mais citados no Novo Testamento. Uma conexão intrigante entre o Salmo 1 e o Salmo 2 serve para introduzir o Livro dos Salmos. O Salmo 1 inicia com a expressão “Que abençoado”, e o Salmo 2 termina com a mesma palavra, em hebraico. A reciprocidade continua: enquanto o Salmo 1 conclui com uma advertência, o Salmo 2 começa com uma ameaça.

Enquanto no Salmo 1 o homem justo medita na lei de Deus, no Salmo 2, o ímpio medita sobre a rejeição do governo divino, representando a polaridade dos dois salmos. Enquanto o Salmo 1 explora o contraste entre o justo e o ímpio, o foco do Salmo 2 é o choque entre a revolta dos líderes e nações ímpios e o governo do Messias justo e divino.

Distinguido pela sua extensão, o Salmo 2 possui quatro estrofes e 12 versículos, o dobro do Salmo 1, que tem duas estrofes e seis versículos.

A estrutura do Salmo 2 se assemelha a uma apresentação dramática em quatro atos, uma característica que realça sua profundidade e impacto.

Qual é a mensagem do Salmo 2?

O Salmo 2 proclama a soberania de Deus e adverte contra a rebelião. Ele ressoa com a mensagem de que todos os reis e governantes devem reconhecer a supremacia divina.

Este Salmo revela a futilidade das nações que se opõem ao governo divino. Deus, no Seu trono celestial, se ri dos planos vãos desses rebeldes. Ele declara Seu Filho como Rei, uma profecia que encontra cumprimento em Jesus Cristo, o verdadeiro Messias.

Os apóstolos aplicaram essa concepção à perseguição sofrida por Jesus nas mãos dos líderes religiosos de Israel, como podemos ver em Atos 4:27–28. Este Salmo expressa surpresa diante da tentativa das culturas e governos terrenos de negar a Deus, e alerta para as sérias consequências dessa postura. Em vez disso, enfatiza a sabedoria de honrar e servir a Deus, como um caminho mais proveitoso e seguro.

Qual a divisão deste Salmo?

1. Conspiração – A voz das nações (1-3):

Este segmento inicia com as nações tramando e conspirando contra Deus e Seu ungido. Eles expressam revolta e rebelião, rejeitando os laços divinos.

2. Zombaria – A voz de Deus, o Pai (4-6):

Nessa parte, Deus responde com zombaria e indiferença à revolta das nações. Ele declara a instalação de Seu Rei em Sião, revelando Seu plano superior.

3. Vitória – A voz de Deus, o Filho (7-9):

Aqui, Deus o Pai fala sobre Seu Filho, confirmando Sua relação divina e autoridade. O Filho receberá as nações como herança e as governará com poder.

4. Oportunidade – A voz do Espírito Santo (10-12):

A última divisão oferece um apelo à sabedoria, exortando os governantes a servirem a Deus com temor. Eles são convidados a beijar o Filho, reconhecendo Sua soberania.

Salmo 2: Comentário versículo por versículo (ACF)

Salmo 2: Comentário versículo por versículo

1 # “Por que se amotinam os gentios, e os povos imaginam coisas vãs?” (Salmo 2:1)

O salmista começa questionando por que as nações se rebelam contra Deus e por que os povos planejam coisas vãs, revelando a natureza fútil da rebelião humana contra o Criador.

“O verbo hebraico usado aqui não expressa um sentimento interior, mas descreve a agitação exterior que reflete tal sentimento. Pode haver uma alusão à ondulação e ao rugido do mar, frequentemente usados como emblemas de comoção popular, tanto na Bíblia quanto na literatura clássica. O uso do tempo presente deste verbo, “se amotinam”, indica que a agitação já está em curso, enquanto o tempo futuro dos verbos subsequentes sugere sua continuidade.” – Joseph Addison Alexander, Doutor em Teologia, 1850.

2 # “Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o Senhor e contra o seu ungido, dizendo:” (Salmo 2:2)

O salmista descreve a união dos líderes mundiais contra Deus e Seu ungido, um termo que se refere ao Messias. Eles estão em rebelião e se opõem ao governo divino.

“Mas por que juntos se mancomunam contra o Senhor e contra o seu ungido? O que queriam com isso? Ter-lhe os bens? Não, ele não tinha nada de si mesmo e eles eram mais ricos que ele. Ter-lhe a liberdade? Não, isso não lhes bastaria, porque já o haviam preso antes. Levar as pessoas a ter antipatia por ele? Não, isso não lhes serviria, porque já o haviam feito, quando até os seus discípulos fugiram dele. O que queriam então? O seu sangue? Sim, eles “formavam juntamente conselho”, disse Mateus, “para o matarem” (Mt 27.1). Eles tinham a mente do diabo que não se satisfaz exceto com a morte. E como tramavam isto? Ele respondeu: “Formavam juntamente conselho […] para o matarem”. – Henry Smith, 1578

3 # “Lancemos fora os seus laços, e sacudamos de nós as suas cordas.” (Salmo 2:3)

Os líderes rebeldes expressam seu desejo de se libertar das limitações e orientações de Deus, desejando romper os “laços” e “cordas” que os conectam a Ele.

“Decididos como estavam em tornar-se violentos como indivíduos sem lei e destemidos, eles caluniam as doces leis do reino de Cristo, tachando-as de ataduras e cordas que são sinais de escravidão (Jeremias 27.2,6,7). Mas o que disse o nosso Salvador? “O meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mateus 11.30). Não é mais jugo para o homem regenerado do que asas para o pássaro. A lei de Cristo não é mais como ataduras e cordas, mas como cintas e ligas que cingem os lombos do homem regenerado e lhe desembaraçam o andamento.” – John Trapp

4 # “Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles.” (Salmo 2:4)

Deus, que reina nos céus, não se preocupa com a rebelião dos líderes. Ele zomba de seus planos vãos, demonstrando a futilidade de suas ações.

“Está bem claro que: (1) O Senhor está muito acima de toda a maldade e poder desses povos. (2) O Senhor vê todos os enredos, encarando-os com desprezo. (3) O Senhor é de poder onipotente, podendo fazer o que quiser com os inimigos: “O nosso Deus está nos céus e faz tudo o que lhe apraz”” (SI 115.3). – Arthur Jackson, 1643

5 # “Então, lhes falará na sua ira, e no seu furor os turbará.” (Salmo 2:5)

Deus responderá à rebelião com ira. Sua justa indignação os perturbará, mostrando que a oposição às Suas ordens não ficará sem consequências.

“Deus os confundirá” por horror de consciência ou por pestes físicas. De um jeito ou de outro, ele lhes cobrará até o último centavo, como ele sempre têm cobrado dos perseguidores do seu povo.” – John Trapp

6 # “Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo monte de Sião.” (Salmo 2:6)

Aqui, Deus proclama a coroação de Seu Rei, uma referência ao Messias, sobre o monte de Sião. Isso enfatiza o papel de Deus como o instaurador do governo divino.

“O termo “Sião” significa “visão distante” (speculam). A igreja é chamada “uma visão distante” (specula), porque vê Deus e as coisas divinas pela fé (quer dizer, de longe), sendo sábia nas coisas que são de cima e não nas coisas que são da terra. E também porque há na igreja verdadeiros espectadores (ou videntes) e guardas no espírito, cujo ofício é tomar conta das pessoas sob sua responsabilidade e vigiar contra as armadilhas dos inimigos e dos pecados. Os tais são chamados em grego bispos, quer dizer, “observadores” ou “videntes”. Pela mesma razão, damos-lhes do hebraico o título de sionistas de sião.” – Martinho Lutero

7 # “Recitarei o decreto: o Senhor me disse: Tu és meu Filho; eu hoje te gerei.” (Salmo 2:7)

O Messias, o Filho de Deus, recebe uma declaração divina de filiação e autoridade. Isso aponta para a relação especial entre Deus e o Messias.

“A questão relativa à filiação eterna de nosso Senhor denuncia mais curiosidade presunçosa do que fé reverente. É o esforço de explicar muito mais do que adorar. Poderíamos apresentar exposições rivais deste versículo, mas as contemos. A controvérsia é uma das tarefas mais improdutivas que os teólogos já se engajaram em cumprir.” – C. H. S.

8 # “Pede-me, e eu te darei os gentios por herança e os fins da terra por tua possessão.” (Salmo 2:8)

O Messias é informado de que pode pedir a Deus as nações como herança e autoridade global. Isso indica o domínio supremo do Messias sobre toda a Terra.

“O sacerdócio foi estabelecido em Cristo por esta expressão: “Pede-me”. O salmo fala da investidura de Jesus ao ofício de rei. O apóstolo se refere ao sacerdócio e à comissão de Jesus, pois ambos ocorreram ao mesmo tempo, sendo dadas e confirmadas pela mesma autoridade. O ofício de pedir fundamenta-se na mesma autoridade de honrar o rei. Reinar dizia respeito ao ofício de rei, pedir dizia respeito ao ofício de sacerdote. Depois da ressurreição, o Pai lhe dá o poder e mandamento de pedir.” – Stephen Chamock

9 # “Tu os esmigalharás com uma vara de ferro; tu os despedaçarás como a um vaso de oleiro.” (Salmo 2:9)

O Messias governará com autoridade, subjugando as nações rebeldes. A imagem da vara de ferro sugere força e domínio absoluto.

10 # “Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos advertir, juízes da terra.” (Salmo 2:10)

O salmista faz um apelo aos governantes para que sejam sensatos e estejam atentos. Eles são exortados a aceitar a correção divina e a governar com justiça.

“Como Jesus é o Rei dos reis e o Juiz dos juízes, assim o evangelho é o mestre dos grandes e sábios. Se forem tão grandes a ponto de rejeitar os conselhos do evangelho, Deus fará pouco caso deles. E se forem tão sábios a ponto de menosprezar seus ensinos, a sabedoria imaginária os tornará tolos. O evangelho tem uma voz elevada diante dos juízes da terra, e aqueles que o pregam, como Knox e Melville, realçam o ofício ministerial fazendo ousadas repreensões e valorosas declarações na presença de reis. O bajulador ministerial só é adequado para ser um ajudante na cozinha do diabo.” – C. H. Spurgeon

11 # “Servi ao Senhor com temor e alegrai-vos com tremor.” (Salmo 2:11)

Os governantes são incentivados a servir ao Senhor com reverência e alegria, reconhecendo Sua soberania e poder.

“Este temor de Deus qualifica a nossa alegria. Se você subtrair o temor da alegria, a alegria ficará leviana e libertina. Se você subtrair a alegria do temor, o temor ficará servil.” — William Bates, Doutor em Teologia, 1625-1699

12 # “Beijai o Filho, para que se não ire, e pereçais no caminho, quando em breve se inflamar a sua ira; bem-aventurados todos aqueles que nele confiam.” (Salmo 2:12)

O salmista conclui com um apelo para que os governantes se submetam ao Filho, o Messias. Isso é uma advertência para evitar Sua ira vindoura. Aqueles que confiam no Messias são abençoados.

“Para fazer paz com o Pai, beije o Filho. ‘Beije-me ele’, era a oração da igreja (Ct 1.2). Beijemo-no e empenhemo-nos em beijar. O Filho tem de beijar-nos primeiro por sua misericórdia para que então o beijemos por nossa devoção. Senhor, concede-nos estes beijos mútuos e abraços trocáveis para que no futuro participemos plenamente da ceia das bodas; quando o coro celestial, até mesmo as vozes de anjos, entoará cantos e poemas nupciais nas bodas da esposa do Cordeiro.” – Thomas Adams

Se gostou deste estudo do Salmo 2, então veja mais:

André Lourenço

Bacharel em Teologia, Graduado em Gestão da Qualidade e Pós Graduando em Psicologia nas Organizações, André possui mais de 17 anos de experiência na pregação e ensino da Bíblia. É Professor de cursos de Homilética e Hermenêutica. Já escreveu centenas de estudos bíblicos e ministra aulas na EBD. Se considera um eterno aprendiz e apaixonado por Compartilhar a Palavra de Deus!

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo