Quem são os filhos de Deus em Gênesis 6:2?
Quem são os filhos de Deus em Gênesis 6:2? Muita tinta tem sido derramada, no decorrer da história do Cristianismo, na tentativa de explicar uma das passagens mais difíceis da Bíblia.
“Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram”. (Gênesis 6:2)
Os filhos de Deus em Gênesis 6:2 são anjos caídos?
Até aproximadamente, o ano 300 a.C a interpretação comuníssima entre os judeus era a de que “os filhos de Deus”, em Gênesis 6:2, tratava-se de seres humanos.
Mas entre 150 a.C e 200 a.D, com o surgimento dos apócrifos e pseudoepígrafos da Bíblia, em especial os pseudoepígrafos:
- O Livro de Enoque;
- Testamento dos Doze Patriarcas.
Frutos de uma leitura exotérica e distorcida do texto sagrado, feita pelas seitas do judaísmo e influenciadas pelo platonismo e pela mitologia grega.
Uma nova visão foi proposta como sendo a interpretação de Gênesis 6:2:
Que entende que “os filhos de Deus”, diz respeito aos “anjos caídos” que mantiveram relações sexuais com as mulheres e desse relacionamento surgiram os gigantes.
A saber, os Nefilins (Nefiliym), que segundo o livro apócrifo de Enoque, atingiram a estatura de três mil côvados, cerca de mil e trezentos metros de altura, (a medida do côvado é de aproximadamente 45 à 50 cm).
Como podemos ver, não há como negar o teor mitológico dessa interpretação.
Apesar de serem muitas as posições apresentadas sobre o tema: Quem são “os filhos de Deus” em Gênesis 6:2?
Focaremos apenas nas duas posições que tem gerado mais controvérsia no meio evangélico brasileiro.
AS DUAS POSIÇÕES
1. Os filhos de Deus em Gênesis 6:2 são os descendentes da linhagem piedosa de Sete.
2. Os filhos de Deus em Gênesis 6:2 são os anjos caídos que mantiveram conjunções carnais com as mulheres, por meio das quais surgiram os gigantes (Nefilim) (Gênesis 6:4).
OS FILHOS DE DEUS EM GÊNESIS 6:2 SÃO HOMENS?
Apesar dos fortes argumentos apresentados pelos adeptos da segunda posição, adotamos a primeira posição como sendo a única correta pelas seguintes razões:
1) O texto original não diz que os filhos de Deus em Gênesis 6:2 são os anjos caídos
2) O contexto de Gn 4,5 e 6 não admite a presença de anjos, mas apenas de seres humanos
3) O juízo de Deus (o dilúvio) é contra os seres humanos e não contra os anjos caídos (Gn 6:3,5,6,7,21-23)
4) Além dos Nefilins, havia muitos outros gigantes na época de Moisés, de Josué e Davi ( Dt 2:11,20; 3:11,13; Js 12:4; 13:12; 15:8; 17:15; 18:16; 2 Sm 21:16,22; 1 Cr 20:8).
Nos tempos modernos, pesquisas médicas contém um registro de uma mulher de 2,55 m de altura, enquanto tem sido feitas afirmações, ainda nos tempos modernos, de gigantes mais altos que 2,82 m.
De onde eles vieram, uma vez que todos os antediluvianos, com exceção da família de Noé, pereceram nas águas do dilúvio?
Será que houve outra queda dos anjos, depois do episódio de Gênesis 6, e nos tempos modernos, como afirmam os proponentes da visão mitológica?
E se houve, onde está registrado na Bíblia?
5) Biblicamente falando, não há como comprovar que houve uma segunda queda no mundo angelical
6) Anjos não possuem órgãos reprodutores e, portanto, não podem se reproduzir
7) Os anjos são incorpóreos, o que toma impossível a relação camal com as mulheres (Hb 1:14; Lc 24:36-38).
8) O Senhor Jesus disse de forma categórica que os anjos não se casam e, portanto, não se reproduzem (Mt 22:29,30)
9) A expressão tomar uma mulher no Antigo Testamento é uma expressão típica para designar um casamento lícito e não o contrário
10) A expressão “filhos de Deus” pode ser atribuída a seres humanos (Dt 14:1; Os 1:10; Lc 3:38) e não somente aos anjos (Jó 1:6, 2:1, 38:7 e Dn 3:25) como alguns querem fazer entender.
De acordo com Lc 3:37,38, Adão é chamado de filho de Deus.
11) A expressão bney ha’ Elohiym não é um termo técnico para designar anjos
Pois em Gn 6:2 os tradutores da Septuaginta entenderam que essa expressão designa seres humanos.
12) Gn 4 e 5 fazem um contraste entre duas linhagens:
Sendo uma ímpia e outra piedosa.
Portanto existe uma linhagem piedosa representada por Sete e outra ímpia, por Caim.
13) Foi com Enos, filho de Sete, que teve início à invocação do nome do Senhor
O nome do Senhor passa a ser invocado, nos cultos públicos, através de Enos.
14) A linhagem de Sete começa com Deus e termina com Jesus
Já, a linhagem de Caim começa com ele mesmo, um assassino, invejoso, do maligno, rejeitado por Deus e termina com o seu fim trágico, onde ela é totalmente destruída nas águas do dilúvio.
15) Os seres criados por Deus, com exceção dos anjos, reproduzem segundo a sua espécie:
O ser humano é carne e o anjo é espírito.
Logo, seria um anacronismo alguém defender a ideia de que um anjo pode se reproduzir com uma mulher como querem fazer entender os defensores
da posição mitológica.
16) Das duas linhagens apresentadas em Gn 4 e 5 a única que o autor faz referência, quanto a sua longevidade, é à de Sete
Por exemplo, na linhagem piedosa de Sete lemos que:
“Matusalém viveu 969 anos; Jarede viveu 962 anos; Noé viveu 950 anos” etc.
O que, de acordo com boa parte dos estudiosos no assunto, demonstra de forma inequívoca a vida piedosa que os membros dessa linhagem viviam.
Mesmo depois do dilúvio os descendentes da família de Sete tiveram uma vida longa como podemos ler no texto de Gn 11: “Sem viveu 600 anos;
Arfaxade viveu 438 anos; Salá viveu 433 anos”, etc.
A longevidade, de acordo com Ef 6:1-3, é a consequência direta de uma vida piedosa, na presença de Deus.
Portanto, esta é mais uma prova da vida piedosa da linhagem de Sete.
Mas no que diz respeito à linhagem ímpia de Caim, não há nenhuma referência à longevidade de seus membros.
O que, de certa forma, vem demonstrar, irrefragavelmente, a brevidade de seus dias a qual, provavelmente, é uma consequência direta da vida ímpia e promíscua que eles viviam.
A LINHAGEM PIEDOSA
Seguindo a genealogia de Gn 5:1-32 e a de Lc 3:23-38, no sentido inverso, a linhagem piedosa de Sete tem início em Deus.
Não que Deus fosse gerado por Sete, pois Ele é o Criador.
Mas o autor, colocando Deus como o primeiro, quer com isso dizer ou demonstrar que há uma diferença, um contraste, entre os membros da linhagem de Caim e a linhagem piedosa de Sete.
Seguindo essa ordem temos:
1) Deus, o Criador.
2) Abel, homem piedoso, “pela fé, Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons, e, por ela, depois de morto ainda fala”. Hb 11:4
3) Sete que substituiu Caim;
4) Enos, a partir do qual começou a invocação e adoração pública do nome de Yahweh “Depois de citar Cainãn, Maalalel e Jarede.
Moisés apresenta outro membro da linhagem piedosa que se destacou em santidade e devoção a Deus, a saber, Enoque.
“E andou Enoque com Deus; e não se viu mais, portanto Deus para si o tomou”.
Enoque é lembrado no Novo Testamento como exemplo de fé e santidade a serem imitadas.
“Pela fé, Enoque foi transladado para não ver a morte e não foi achado, porque Deus transladara, visto como, antes da sua transladação, alcançou testemunho de que agradara a Deus” (Hb 11:5).
Os registros dos santos, Enoque e Noé, não terminam com o refrão morte.
A finalização incomum com Noé é um testemunho em prol da esperança de justiça na linhagem de Sete.
Outro membro da família da aliança, da linhagem piedosa de Sete, é Lameque, pai de Noé, que, pelo contexto, também era um homem piedoso e temente a Deus. (Gn 5:28,29)
Mas afinal, quem são os filhos de Deus em Gênesis 6:2?
Como foi dito acima, defendemos a posição de que “os filhos de Deus em Gênesis 6:2” refere-se à linhagem piedosa de Sete: por ser a única que realmente se harmoniza com o contexto e com os ensinos gerais das Sagradas Escrituras.
Pois ela traduz fielmente a interpretação equivocada de que os filhos de Deus em Gênesis 6:2, são “os anjos caídos”, a qual, segundo a nossa interpretação, é um verdadeiro mito. Sim! Um mito e nada mais.
CONCLUSÃO
Os argumentos apresentados são conclusivos e não deixam nenhuma margem para dúvidas de que “os filhos de Deus” em Gênesis 6:2, são a linhagem piedosa de Sete.