A igreja passará pela Grande Tribulação?

Uma pergunta que frequentemente surge ao se discutir a escatologia é: “A Igreja passará pela Grande Tribulação?”

Lembro-me de uma pregação em que um renomado líder ensinava como os crentes deveriam se posicionar nesse tempo. Ele alertou: “Não aceite o sinal da Besta. Se o fizer, perderá para sempre a salvação.”

Alguns teólogos argumentam que a Igreja enfrentará apenas a primeira fase da Grande Tribulação. Outros, que ela será arrebatada antes que tudo comece.

No entanto, o próprio Senhor Jesus nos orientou: “Vigiai, pois, em todo tempo, orando, para que possais escapar de todas essas coisas que têm de suceder e estar em pé na presença do Filho do Homem” (Lucas 21:36, ARA).

Esse versículo nos desafia a viver em constante vigilância espiritual, com corações preparados para qualquer cenário.

Neste artigo, vamos explorar diferentes perspectivas e examinar o que a Bíblia nos revela sobre esse assunto.

O que é a Grande Tribulação?

A Grande Tribulação é um período de sete anos que antecede a segunda vinda de Cristo. Nele haverá um grande sofrimento e perseguição para a humanidade, especialmente para os judeus e os cristãos.

Esse período está descrito em detalhes no livro de Apocalipse, nos capítulos 6 a 19, e também em outras passagens proféticas do Antigo e do Novo Testamento.

As Escolas de Interpretação da Grande Tribulação

Existem três principais escolas de interpretação da Grande Tribulação: pré-tribulacionismo, mesotribulacionismo e pós-tribulacionismo. Vamos analisar cada uma delas e as verdades que podemos extrair dessas perspectivas.

1. Pré-tribulacionismo:

Essa escola de interpretação defende que o arrebatamento da Igreja ocorrerá antes do início da Grande Tribulação. Os pré-tribulacionistas apoiam sua posição utilizando simbolismos e exemplos bíblicos, como as histórias de Enoque, Noé e Elias.

Esses personagens, segundo essa linha de pensamento, representam pessoas fiéis a Deus que escaparam dos juízos divinos em seus respectivos tempos. Enoque foi arrebatado antes do dilúvio, Noé foi preservado na arca em meio ao juízo, e Elias foi levado aos céus antes de enfrentar a morte.

Da mesma forma, essa interpretação entende que a Igreja, sendo a “coluna e firmeza da verdade” (1Tm 3:15), será retirada da terra antes que venha o período de trevas e juízo descrito nos capítulos escatológicos da Bíblia. Assim, o arrebatamento seria um ato de livramento por parte de Deus para com os seus.

2. Mesotribulacionismo:

Essa perspectiva, conhecida como mesotribulacionismo, afirma que a Igreja passará pela primeira metade da Grande Tribulação, mas será arrebatada antes da segunda metade, período marcado pelos eventos mais intensos e pela manifestação plena do Anticristo.

Os mesotribulacionistas apontam para passagens como Apocalipse 19, que retrata a Noiva de Cristo já no céu, enquanto os juízos continuam sendo derramados sobre a Terra, como uma evidência de que a Igreja será retirada antes da fase mais severa da tribulação. Essa visão busca equilibrar os textos que falam sobre sofrimento com aqueles que mencionam o livramento dos fiéis.

3. Pós-tribulacionismo:

Os pós-tribulacionistas acreditam que a Igreja passará por toda a Grande Tribulação e será arrebatada imediatamente antes da segunda vinda de Cristo. Segundo essa visão, o arrebatamento e o retorno glorioso de Jesus são eventos praticamente simultâneos.

Eles argumentam que a Bíblia descreve a ressurreição dos santos e seu arrebatamento logo após a tribulação, como vemos em passagens como 1 Tessalonicenses 4:16-17, que fala da vinda do Senhor com voz de comando e trombeta, e Mateus 24:29-31, onde Jesus menciona que, “logo após a tribulação daqueles dias”, os eleitos serão reunidos pelos anjos.

Verdades em cada Perspectiva

Embora essas diferentes perspectivas tenham suas próprias interpretações da Grande Tribulação, é importante reconhecer que todas têm verdades fundamentais em comum. Aqui estão algumas dessas verdades compartilhadas:

1. A certeza da volta de Cristo: Apesar das divergências sobre o momento do arrebatamento, todas as escolas de interpretação escatológica concordam em um ponto fundamental: Jesus Cristo voltará em glória. A segunda vinda é uma promessa segura e futura, reafirmada ao longo das Escrituras e esperada por todos os crentes.

2. A importância da preparação e vigilância: Independentemente da perspectiva escatológica adotada, todas as interpretações destacam a mesma verdade essencial: é necessário estar preparado para o retorno de Cristo. Isso exige uma vida de santidade, obediência e vigilância espiritual, conforme o próprio Jesus ensinou em passagens como Mateus 24:42 e Lucas 21:36. Estar pronto não é uma opção, mas um chamado urgente a viver com propósito e fidelidade até que Ele venha.

3. A vitória final de Cristo: Todas as escolas de interpretação escatológica reconhecem uma verdade fundamental: Cristo triunfará sobre todos os poderes malignos. Seja o arrebatamento antes, durante ou depois da Grande Tribulação, todas concordam que a vitória final pertence ao Senhor. Essa certeza alimenta a esperança dos crentes, pois, independentemente das aflições deste mundo, Jesus reinará soberanamente e estabelecerá Seu Reino eterno.

Qual é a posição mais coerente com a Bíblia?

Para responder a essa pergunta, é preciso examinar as evidências bíblicas que apoiam ou contradizem cada uma das correntes de interpretação.

Vamos apresentar apenas algumas delas, mas você pode encontrar mais informações em livros e sites especializados no assunto.

Evidências a favor do pré-tribulacionismo

• O pré-tribulacionismo é a corrente que mais preserva a doutrina da graça de Deus, pois mostra que a Igreja não precisa passar por nenhum julgamento ou castigo divino, já que foi salva pela fé em Cristo e não pelas obras.
• O pré-tribulacionismo é a que mais se harmoniza com a iminência da volta de Cristo, pois mostra que ele pode vir a qualquer momento, sem depender de nenhum sinal ou evento prévio.
• O pré-tribulacionismo é a que mais se alinha com as promessas de livramento de Deus para a Igreja, pois mostra que ele vai protegê-la da ira vindoura, conforme afirmam versículos como 1 Tessalonicenses 1.10 e 5.9.

Evidências contra o meso-tribulacionismo

• O meso-tribulacionismo é uma corrente que não tem um fundamento bíblico claro, pois não há nenhuma passagem que indique que haverá um arrebatamento na metade da Grande Tribulação.
• O meso-tribulacionismo cria uma distinção artificial entre as duas fases da Grande Tribulação, pois ambas se caracterizam pela ira de Deus sobre o mundo, conforme mostram os selos, as trombetas e as taças do Apocalipse.
• O meso-tribulacionismo contradiz a promessa de livramento de Deus para a Igreja, pois mostra que ela terá que passar por parte do sofrimento da Grande Tribulação, sem uma razão plausível.

As evidências contra o pós-tribulacionismo

• O pós-tribulacionismo é uma corrente que nega a doutrina da graça de Deus, pois mostra que a Igreja passará pelo julgamento e castigo divino sobre o mundo, como se não recebesse salvação pela fé em Cristo.
• O pós-tribulacionismo nega a iminência da volta de Cristo, pois mostra que ele só virá depois de vários sinais e eventos prévios, como o surgimento do Anticristo, a marca da Besta e as pragas do Apocalipse.
• O pós-tribulacionismo nega as promessas de livramento de Deus para a Igreja, pois mostra que ele vai permitir que ela sofra toda a ira vindoura, sem nenhuma proteção ou consolação.

Examinando as verdades bíblicas

Diante dessas diferentes interpretações, é importante analisar as passagens bíblicas relevantes e permitir que a própria Bíblia interprete a Bíblia. Ao invés de buscar o “melhor sistema de interpretação”, devemos buscar as verdades apresentadas nas Escrituras que honram a Palavra de Deus e se harmonizam com ela.

Apocalipse 3:10

Jesus fez a promessa de guardar a igreja da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo. Essa promessa é extensiva a todas as igrejas e a todos os salvos.

Apocalipse 19

Apocalipse 19 é uma passagem que merece atenção nesse contexto. Alguns críticos erroneamente afirmam que as Bodas do Cordeiro, descritas nesse capítulo, deveriam ser retratadas em Apocalipse 4 e não no capítulo 19.

No entanto, é importante notar que o livro do Apocalipse possui passagens parentéticas, ou seja, intercaladas, como o capítulo 12 e a primeira parte do capítulo 19.

Essas passagens mostram que a Noiva de Cristo, que é a Igreja, estará no céu enquanto ocorre a Grande Tribulação na Terra.

Apocalipse 4-5

Além disso, Apocalipse 4-5 descreve uma visão celestial em que a Igreja se apresenta diante do trono de Deus e do Cordeiro. Nessa visão, os crentes estão adorando a Deus, descritos como uma multidão de redimidos de todas as nações, tribos, povos e línguas. Essa cena sugere que a Igreja já está no céu antes da Grande Tribulação.

1 Tessalonicenses 4:16-17

Outra passagem relevante se encontra em 1 Tessalonicenses 4:16-17, onde o apóstolo Paulo descreve o arrebatamento da Igreja. Ele diz:

“Porque o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, à voz do arcanjo, ao som da trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor”.

Essa passagem indica o arrebatamento dos crentes para encontrar o Senhor nos ares, antes dos eventos finais e da ira vindoura.

E então, a Igreja passará pela Grande Tribulação, sim ou não?

Ao analisar passagens como Apocalipse 19, 13:15, 4-6, 3:10, e 2 Tessalonicenses 2:3-8, fica evidente que a Igreja será arrebatada antes do período de sete anos de angústia descrito como a Grande Tribulação.

Essas passagens indicam que a Igreja estará com o Senhor nos céus durante esse tempo e voltará com Ele para julgar e derrotar o império do mal.

Além disso, a promessa de livramento da “hora da tentação” que virá sobre todo o mundo, mencionada em Apocalipse 3:10, se estendida a todas as igrejas e a todos os salvos. Isso indica que Deus preservará a Igreja da ira vindoura e não passará pela Grande Tribulação.

Considerando essas evidências bíblicas e levando em conta as interpretações das diferentes correntes escatológicas, podemos afirmar com clareza que a resposta à pergunta “A Igreja passará pela Grande Tribulação?” é não.

Jesus arrebatará sua Igreja antes desse período de angústia para estar com Ele nos céus. Após isso, a igreja retornará com Ele para estabelecer o seu reino e julgar o mundo.

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