6 Lições que aprendemos com Tomé, o discípulo incrédulo
Os doze discípulos, quando chamados para seguir a Jesus, eram homens comuns, sem grande status social. Jesus os amou, redimiu e, por fim, os equipou e capacitou para realizar feitos extraordinários em Seu nome. Apesar disso, os discípulos eram conhecidos por suas atitudes impulsivas, egoístas e até mesmo covardes em alguns momentos.
Entre eles, Tomé se destacou pela sua dúvida e descrença. Hoje, muitos na igreja ainda se referem a ele como “Tomé, o Duvidoso”, devido à sua hesitação em acreditar nos relatos da ressurreição de Cristo.
Será que essa reputação é totalmente justa? Talvez. No entanto, há muitas lições valiosas que podemos aprender com Tomé, além de sua dúvida.
1. Tomé amava Jesus
Muitos conhecem a dúvida de Tomé diante da notícia da ressurreição de Jesus e sua aparição aos discípulos (João 20:24-25). No entanto, essa não é a única ocasião em que o caráter de Tomé é revelado nos evangelhos. Em passagens anteriores, percebe-se um homem que amava Jesus com uma paixão muitas vezes ignorada.
Em João 11, por exemplo, Jesus decide viajar para Betânia para visitar Marta e Maria após a morte de Lázaro. Embora os discípulos tentassem dissuadi-lo, temendo a proximidade de Jerusalém e dos fariseus, Tomé se destacou ao dizer: “Vamos também, para que morramos com ele” (João 11:14).
A declaração pode parecer dramática, mostrando o pessimismo de Tomé, mas também reflete sua coragem. Ele estava disposto a enfrentar a morte ao lado de Jesus, demonstrando uma disposição de “tomar sua cruz” e seguir seu Mestre. Este ato de bravura nasceu do amor e da lealdade, não da dúvida ou do medo.
Além disso, durante a Última Ceia, Tomé questionou Jesus sobre Sua partida iminente: “Senhor, não sabemos para onde vais, então como podemos saber o caminho?” (João 14:5).
Jesus havia dito aos discípulos:
“Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos levarei para mim, para que onde eu estiver estejais vós também. E vós sabeis o caminho para onde eu vou” (João 14:2-4).
A preocupação de Tomé revela que ele não captava o quadro completo, sempre esperando o pior. No entanto, sua inquietação vinha do profundo amor por Jesus e do medo de estar separado Dele.
Essas histórias mostram um Tomé devotado e corajoso, cuja lealdade a Jesus é evidenciada tanto em suas ações quanto em suas palavras.
2. Tomé era melancólico
Com exceção de Judas Iscariotes, todos os outros discípulos se esconderam após a prisão de Jesus. O apóstolo João nos revela que “Tomé (chamado Dídimo) não estava com eles quando Jesus veio” (João 20:24).
Aonde ele foi? Não sabemos.
Porém, considerando seu temperamento emocional e melancólico, é compreensível que Tomé preferisse sofrer sozinho. E isso é aceitável.
Cada indivíduo lida com a dor de maneiras distintas. Embora Tomé estivesse em profunda tristeza, ele não era o único. Os demais discípulos provavelmente estavam igualmente confusos e se sentiam traídos pela morte de Jesus. No entanto, para Tomé, a conexão com os outros ou encontrar consolo na tristeza compartilhada pode ter sido particularmente difícil.
Algumas pessoas precisam se afastar para processar suas emoções de forma independente.
Conhecendo a personalidade de Tomé e seu amor por Jesus, a morte de Cristo deve ter sido devastadora para ele. Sua ausência do grupo não sugere falta de camaradagem ou lealdade.
Conforme o pastor John MacArthur aponta em seu livro Twelve Ordinary Men, “o que diferenciava Tomé dos outros dez não era que sua dúvida fosse maior, mas que sua tristeza era maior” (163).
Tomé era um homem que sentia tudo de maneira intensa. Suas emoções, do amor à tristeza, eram frequentemente extremas. Amar alguém com essa profundidade é uma bênção, mas também traz uma intensidade de pesar e tristeza que pode ser difícil de entender. Tomé era esse tipo de pessoa.
3. Tomé precisava acreditar que a esperança final está na ressurreição
Todos os discípulos ficaram profundamente abalados com a morte e partida de Jesus, seu querido amigo, rabino e mestre. Embora Jesus tivesse avisado sobre Sua crucificação e mencionado Sua eventual ressurreição, os discípulos não entenderam muitos aspectos da missão de Cristo.
Pensando que Jesus havia partido para sempre, os discípulos, incluindo Tomé, ficaram desanimados e confusos, tornando os três dias seguintes à morte de Cristo os mais sombrios e desesperançosos de suas vidas.
O amor de Cristo foi plenamente demonstrado na cruz, onde Ele sofreu pelos pecados do mundo. No entanto, a esperança dos seguidores de Cristo não está na morte de Jesus, nem em Seu sepultamento. Nossa esperança está no poder e na glória de Sua ressurreição. Sem a ressurreição e o túmulo vazio, a vida de Jesus teria terminado em tragédia.
Tomé, assim como os outros discípulos, não antecipou a ressurreição e viveu na sombra dessa tragédia. Era a única realidade que conhecia. Na ausência de esperança, compreensão divina e fé, a reação de Tomé foi de confusão e melancolia. Da mesma forma, sem a ressurreição, também teríamos pouca esperança.
O apóstolo Paulo nos lembra que, para aqueles que estão em Cristo, “fomos sepultados com Ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos mediante a glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida” (Romanos 6:4).
Além disso, “se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vocês, aquele que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos também dará vida aos seus corpos mortais, por meio do seu Espírito que habita em vocês” (Romanos 8:11).
A ressurreição de Cristo é a maior razão para se alegrar. Infelizmente, os discípulos tiveram que esperar três dias para essa celebração.
4. A dúvida de Tomé revelou sua falta de fé
A morte de Jesus trouxe imensa tristeza a Tomé e aos outros discípulos, deixando-os em meio a inúmeras questões. Eles haviam abandonado tudo para seguir Jesus.
Para quê? Estariam enganados sobre sua fé em Jesus? Qual seria o próximo passo?
O desespero de Tomé era profundo; tanto que, quando os outros discípulos disseram que Jesus havia aparecido a eles, ele declarou:
“Se eu não vir as marcas dos pregos em Suas mãos e não colocar meu dedo onde estavam os pregos, e não colocar minha mão em Seu lado, de modo algum acreditarei” (João 20:25).
Certamente, a dúvida de Tomé demonstra sua falta de fé. No entanto, antes de julgarmos precipitadamente, é importante lembrar que:
Em primeiro lugar, os outros discípulos também precisaram da confirmações de Jesus. Eles também viram Suas mãos e Seu lado para garantir que era realmente Ele (João 20:20). Em segundo lugar, a dúvida de Tomé era fruto da tristeza e da relutância em aceitar esperanças ilusórias. Em outras palavras, Tomé amava e sentia tanta falta de Jesus que se recusava a alimentar qualquer esperança que pudesse ser frustrada.
Contudo, oito dias após Jesus aparecer pela primeira vez aos discípulos, Ele retornou e olhou diretamente para Tomé, abordando sua dúvida e encontrando-o em sua tristeza. Jesus mostrou a Tomé exatamente o que ele precisava ver para acreditar.
“Então disse a Tomé: ‘Põe o teu dedo aqui; vê as Minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no Meu lado. Não sejas incrédulo, mas crente'” (João 20:26-27).
Jesus desafiou a falta de fé de Tomé, mas também demonstrou incrível graça e paciência ao buscar redimir e restaurar a fé de Seu amado discípulo.
Da mesma forma, o autor de Hebreus nos lembra que Cristo, que foi tentado em todas as coisas, compreende nossas fraquezas (Hebreus 4:15). Em Sua graça, Cristo nos ajuda a superar essas fraquezas, trabalhando para redimir nossas falhas e inconsistências. Tomé é um exemplo vivo disso.
5. Tomé foi um discípulo ocular de Jesus
Jesus apareceu a Tomé e aos outros discípulos, após a Sua ressurreição, lembrando a todos que “porque me viste, creste; bem-aventurados os que não viram e creram” (João 20:29). Mostrando a importância da fé na vida dos seguidores de Cristo, tanto no passado quanto no presente.
Tomé havia testemunhado presencialmente muitos dos milagres de Jesus. No entanto, quando soube da ressurreição de Cristo, ele duvidou, pois não tinha visto com seus próprios olhos.
O autor de Hebreus afirma que “a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos” (Hebreus 11:1). Como cristãos, vivemos pela fé e não pelo que vemos (2 Coríntios 5:7).
Jesus assegura que bem-aventurados são aqueles que, mesmo sem ver, acreditam. Mesmo nos momentos de dúvida, Cristo permanece fiel (2 Timóteo 2:13; 2 Tessalonicenses 3:3). Além disso, Ele suprirá todas as nossas necessidades, conforme a riqueza da Sua glória em Cristo Jesus (Filipenses 4:19).
6. Tomé foi alcançado pela preciosa graça de Jesus
Tomé, como os demais discípulos, era um ser humano com falhas e imperfeições. Em muitos momentos, mostrou-se pessimista, sombrio e negativo. No entanto, a graça de Jesus se manifestou através de uma paciência inigualável com as fraquezas de Tomé, além de um coração terno e pronto para perdoar em seus momentos de incredulidade. Embora Tomé enfrentasse dúvidas, essas não o impediram de seguir no ministério.
Redimido e perdoado, Tomé evoluiu, tornando-se cada dia mais semelhante a Cristo (2 Coríntios 3:18). Em Cristo, ele se transformou em uma “nova criatura” (2 Coríntios 5:17).
O homem que antes previa o pior em todas as situações foi transformado por Cristo em um apóstolo corajoso e cheio de fé, esperança e alegria eternas. Além disso, Tomé se tornou um líder e evangelista em quem Jesus confiava para dar continuidade ao Seu ministério, disseminar o evangelho e ajudar a construir Sua igreja.
Ao tocar nas mãos cicatrizadas do Cristo ressuscitado, Tomé declarou: “Meu Senhor e meu Deus” (João 20:28), uma proclamação de fé e lealdade que superou qualquer dúvida que ele possa ter tido.
O mundo pode lembrar de Tomé por suas dúvidas, mas Cristo o reconheceu por sua fé e fidelidade. Através da ressurreição, Cristo venceu o pecado e a morte. Na vida de Tomé, Ele superou a dúvida e a descrença. Imagine o que Cristo pode realizar em sua vida quando você olha para Ele com uma fé semelhante a essa.