Salmo 26 Estudo: O Pedido de Justiça de Davi no Santuário de Deus

Os Salmos 26, 27 e 28 revelam o amor de Davi pelo santuário de Deus (26:6-8; 27:4-7; 28:2), que no tempo de Davi era o tabernáculo no monte Sião.

Deus não permitiu que Davi construísse o templo (2 Sm 7), mas lhe deu os projetos da construção e possibilitou que, por meio dos espólios das batalhas, juntasse riqueza suficiente para fornecer o material necessário para execução dessa empreitada (1 Cr 22, 28, 29).

Porém, nem todos os que se reuniam para adorar no santuário eram sinceros em seu modo de viver e de adorar, e alguns desobedeciam a Deus abertamente e espalhavam mentiras sobre o rei. Foi essa situação que levou Davi a escrever este salmo. Nele, o rei faz três pedidos ao Senhor.

1. “Faze-me justiça” (Salmo 26:1)

Os inimigos que difamavam Davi estão descritos nos versículos 4, 5 e 9, 10. Eram dissimulados, hipócritas e perversos, pecadores que conspiravam para roubar de outros e que aceitavam subornos (Êx 25:8; Am 5:12), matando todos os que se colocavam em seu caminho.

O rei Davi era um homem piedoso, mas nem todos os juízes e oficiais de seu governo mostravam-se tementes a Deus. Talvez esses acontecimentos tenham ocorrido quando Absalão estava tentando usurpar o trono espalhando mentiras sobre seu pai (2 Sm 14-15).

O rei via esses homens dissimulados levando suas ofertas ao altar do tabernáculo e se entristecia profundamente com isso (119:28, 115, 136, 150, 158).

Ao longo da história, tanto de Israel quanto da Igreja, sempre houve uma “súcia de malfeitores” (v. 5; 50:16-21) no meio da congregação de verdadeiros adoradores (v. 12) – o joio no meio do trigo (Mt 13:24-30, 36-41), lobos em pele de ovelha (Mt 7:15; At 20:26-31).

O pedido “faze-me justiça” refere-se a defender a reputação do rei (ver 7:8; 35:24; 43:1). Davi era um homem íntegro (7:8; 25:21; 41:12; 78:72), uma verdade que o próprio Senhor afirmou (1 Rs 9:4, 5). As pessoas que o estavam atacando eram “dissimuladores” (v. 4) ou hipócritas, atores que usavam máscaras para cobrir seu caráter perverso.

Ser íntegro significa ter o caráter completo, a mente e o coração sem qualquer divisão e completamente consagrados ao Senhor. Davi representava o que era correto e não vacilava, mas os indivíduos de mente dupla são instáveis em seus caminhos (Tg 1:8).

Sua vida revelava um equilíbrio entre a fé (“confio no Senhor”) e as obras (“tenho andado”), conforme a instrução de Tiago 2:14-26. Quando nosso caráter e conduta são atacados, não é errado nos justificarmos, como Paulo fez (2 Co 10 – 12).

Também não é errado pedir que o Senhor nos justifique. Não estamos defendendo apenas a nós mesmos, mas também o nome do Senhor ao qual servimos. Nossa justificação é “por amor do seu nome” (23:3; 25:11).

2. “Examina-me” (Salmo 26:2-8)

Como no caso das palavras de Davi em 18:20-24, não se trata aqui de uma expressão de superioridade hipócrita (Lc 18:9-14), mas sim do testemunho honesto de um verdadeiro homem de Deus.

Os termos “examinar” e “provar” referem-se ao processo de testar metais a fim de determinar seu verdadeiro valor e também de remover deles as impurezas (12:6; 17:3).

No original, a expressão usada para “o coração e os pensamentos” é “os rins e o coração”, sendo os rins o centro das emoções e o coração o lugar das decisões morais (139:23; Fp 4:7 e Ap 2:23).

A vida de Davi estava motivada e controlada pelo amor e pela verdade de Deus (sua fidelidade, ver 6:4; 25:5-7, 10; 40:10; 57:3; Êx 34:6). O Senhor foi fiel a sua aliança, e Davi foi fiel ao Senhor.

Apesar de, em certas ocasiões, Davi ter tropeçado e caído – como acontece com todos nós -, a disposição habitual de sua vida era voltada para o Senhor e para sua Palavra. Recusou-se a ter comunhão com os hipócritas da congregação, “homens falsos” e “dissimuladores”, que fingiam adorar ao Senhor e guardar sua aliança.

Com isso, não se está dizendo que ele era isolado do mundo real (1 Co 5:10), mas sim que não se permitia contaminar por este mundo (1:1, 2; 2 Co 6:14 — 7:1).

A súcia de malfeitores precisa de nosso testemunho, mas é com a congregação dos justos que compartilhamos nossa adoração (35:18; 40:9, 10; 89:5; 107:32; 149:1).

Davi era um homem equilibrado: detestava o pecado, mas amava as coisas de Deus (vv. 5, 8). Em seu modo de caminhar (vv. 1, 3, 11), de se levantar (v. 12) e de assentar (v. 4), ou seja, em seu modo de viver, ele se guardava do mal (ver 1:1).

Os perversos iam ao santuário para ocultar seus pecados; faziam daquele lugar um “covil de salteadores”, o esconderijo para onde os criminosos fogem (Mt 21:13; Jr 7:1).

Davi, no entanto, ia ao santuário para adorar a Deus e dar testemunho de sua graça e misericórdia. Suas mãos estavam limpas (24:4), seu sacrifício era aceitável (ver Is 1:10-17) e sua voz era clara ao louvar ao Senhor.

A purificação se dá pelo sangue de Cristo (1 Jo 1:7, 9) e pela água da Palavra (Ef 5:26, 27; Jo 15:3). A fim de servir a Deus de modo aceitável, os sacerdotes deviam usar a bacia de água para lavar suas mãos e pés (Êx 30:17-21).

A lei de Moisés não apresenta instrução alguma sobre procissões e louvores ao redor do altar, mas também não proíbe tais práticas.

Davi adorava ao Senhor com grande entusiasmo (ver 43:4; 2 Sm 6:12-23) e gostava desses momentos de adoração (para mais explicações sobre a prática de lavar as mãos a fim de provar inocência, ver Dt 21:1-9).

O rei levava sacrifícios de ação de graças (Lv 3:1-17; 7:11-38), pois amava o Senhor e sua casa (27:4-6; 42:4; 122:1-4, 9; 1 Cr 29:3).

Glorificava a Deus no lugar onde sua glória habitava (Êx 40:35). Davi é um bom exemplo para seguirmos em nossa adoração pessoal.

3. “Livra-me” (Salmo 26:9-12)

Davi não podia impedir os hipócritas de participar do culto com o restante da congregação, mas podia tomar providências para não se tornar como eles, de modo que pediu ao Senhor que o livrasse desse pecado. “Não colhas a minha alma com a dos pecadores!”

As ovelhas e cabritos, assim como o trigo e o joio, estão misturados hoje, mas chegará o dia em que Deus os separará; nesse dia, os perversos perecerão (1:4-6; Mt 7:21-23; 25:31-46).

Os justos devem sempre estar atentos às más influências do mundo e, especialmente, daqueles que dizem amar a Deus, mas que estão usando a “religião” para encobrir seus pecados. A fim de permanecermos fiéis, devemos também pedir a Deus que tenha misericórdia de nós e que nos ajude a manter nossa integridade.

Uma vez que começamos a vacilar (v. 1), torna-se muito mais fácil tropeçar e cair. “Aquele, pois, que pensa em estar em pé veja que não caia” (1 Co 10:12). Davi estava em pé numa vereda plana (ver 27:11; 143:10; Is 40:4) e não seria abalado.

Comentários e explicações do Salmo

“O Salmo 26 está unido ao cântico antecedente por intermédio de pensamentos e palavras. No fim do antecedente, o salmista tinha orado por integridade (SI 25.21, “sinceridade”). A menos que o Salmo 26 seja considerado como sequência do Salmo 25, parecerá que houve vanglória. Mas, quando combinado com as admissões penitenciais de pecado, com as súplicas fervorosas por perdão e graça, e com a confissão sincera de fé que Deus lhe ouviu a oração — fatos que exalam no salmo precedente —, veremos que as declarações de integridade que o salmista faz agora não são afirmações de mérito humano, mas reconhecimentos da misericórdia divina. Como disse Agostinho: “Não a minha mente, mas a tua misericórdia, está diante dos meus olhos”. — Christopher Wordsworth

Versículo 2: “O salmista usa três verbos, “examinar”, “provar” e “esquadrinhar”. Estas palavras têm o desígnio de abranger todos os métodos nos quais a realidade das coisas é provada. Juntas indicam que Davi desejou que fosse feita a mais completa investigação. Ele não evitou nenhum teste.” — Albert Barnes

Versículo 3: “Porque a tua benignidade está diante dos meus olhos; e tenho andado na tua verdade”. Vemos neste texto o efeito prático da benignidade divina. Tendo em vista que a principal coisa comunicada por Deus é a natureza divina, pela qual somos feitos semelhantes a Ele, assim as promessas de Deus fixadas na alma é o meio da comunicação. São o leite e o mel da Bíblia, os quais não alimentam o velho homem, todavia sustentam o novo. Não são travesseiros para a preguiça pecadora, todavia esporas para a diligência santa. As promessas de graça estimulam a alma ao dever. Quando vemos assim a benignidade do Senhor, somos incentivados a nos sujeitar ao seu governo.” — Timothy Cruso

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