Terafins na Bíblia: Significado, Origens e Exemplos

Os Terafins aparecem em diversas passagens da Bíblia, e seu significado e origens têm suscitado curiosidade e interpretações variadas ao longo dos séculos. Vem comigo estudar o que a Bíblia diz sobre os Terafins, desvendando seu significado, suas origens e fornecendo exemplos relevantes encontrados nas Escrituras e na história.

Qual o Significado de Terafins na Bíblia?

O termo “Terafim” está principalmente no Antigo Testamento, e sua definição exata não é sempre clara. No entanto, muitos estudiosos concordam que os Terafins eram objetos associados à adivinhação e práticas idolátricas.

A interpretação do termo “terafim” nas versões gregas e seu uso nas Escrituras oferece uma compreensão esclarecedora da natureza desses símbolos.

Áquila de Sinope traduz a palavra como “figuras“, enquanto a Septuaginta utiliza “imagens” em Gênesis, “imagens esculpidas” em Ezequiel, “oráculos” em Zacarias e “objetos manifestos” (δῆλοι) em Oséias.

A Versão Autorizada frequentemente mantém a palavra intacta, como em Juízes 17:5, 18:14 e seguintes, e Oséias 3:4, mas também a traduz frequentemente como “imagens“, como em Gênesis 31:19, entre outros. A expressão “imagens” também aparece em 1 Samuel 19:13, “ídolos” em Zacarias 10:2 e “idolatria” em 1 Samuel 15:23.

A forma hebraica da palavra deve se entender como um plural de excelência. Da mesma forma que “Elohim” representa “deuses” e “Deus”, a forma “terafim” é aplicável a cada objeto, assim como a toda a classe.

Como eram os Terafins

Os terafins eram como figuras com forma humana, como claramente mostrado em 1 Samuel 19:13:

¹³ Mical tomou um ídolo do lar, e o deitou na cama, e pôs-lhe à cabeça um tecido de pelos de cabra, e o cobriu com um manto.

Mical, filha de Saul, coloca um terafim na cama de Davi para esconder sua fuga de seu pai furioso. Isso nos dá uma ideia de que esses terafins tinham tamanho considerável e eram feitos à imagem humana.

Além disso, fica claro que eles não eram tão grandes a ponto de serem difíceis de transportar. Genesis 31:19 conta que Raquel, sem o conhecimento de seu marido, Jacó, roubou os terafins que pertenciam a seu pai, Labão.

E havendo Labão ido a tosquiar as suas ovelhas, furtou Raquel os ídolos que seu pai tinha.

Genesis 31:19

Quando ela quis escondê-los, os colocou entre os móveis do camelo e até mesmo sentou-se sobre eles (Genesis 31:34).

Mas tinha tomado Raquel os ídolos e os tinha posto na albarda de um camelo, e assentara-se sobre eles; e apalpou Labão toda a tenda, e não os achou.

Genesis 31:34

Isso sugere que os terafins eram suficientemente portáteis, apesar de seu tamanho, e podiam transportá-los facilmente.

Natureza do culto aos Terafins

A natureza do culto a um terafim e sua decadência gradual parece bastante clara. Inicialmente, os terafins eram como representantes de deuses reais, possuindo atributos divinos, como visto em Gênesis 31:30, onde Labão repreende Jacó por roubar os terafins, chamando-os de “meus deuses“. Nesse estágio inicial, o culto aos terafins estava aparentemente comparado à adoração a Yhwh.

No livro de Juízes, especificamente em Juízes 17:5, Miquéias estabelece uma “casa de deuses” com um sacerdote designado. Ele cria um éfode e terafins, usados junto com uma “imagem esculpida” e uma “imagem fundida” feita de prata dedicada a Deus.

Parece que essas imagens representavam Deus. A importância dos terafins para a família e a tribo se destaca pelo fato de Raquel tê-los roubado de seu pai (Gênesis 31:19), e os danitas, ao espionar a terra de Laís, não apenas levaram as imagens mencionadas, mas também o éfode, os terafins e o sacerdote levítico da casa de Miquéias (Juízes 18).

Esses eventos indicam uma associação significativa entre os terafins e a prática religiosa da época.

Origens dos Terafins

As origens exatas dos Terafins não são totalmente claras, mas sua presença na Bíblia sugere que eram objetos de adoração em algumas culturas antigas. Alguns estudiosos sugerem que os Terafins tinham raízes na cultura mesopotâmica, onde estatuetas domésticas estavam associadas à proteção da família e às práticas adivinhatórias.

Embora a origem do culto aos terafins seja desconhecida, poderia ser uma continuação do culto ancestral primitivo. Ou seja, as imagens talvez representassem originalmente os ancestrais deificados da família que as reverenciava, transformando-se mais tarde em uma forma de oráculo dos espíritos dos falecidos. Provavelmente, essas imagens não eram representações astrais.

Além disso, os Terafins podem ter sido incorporados em práticas religiosas de povos vizinhos de Israel, influenciando o povo hebreu a adotar essas práticas proibidas pela Lei de Moisés.

Desde tempos remotos, a humanidade nutriu o desejo por um deus tangível, alguém que eles pudessem tocar e ver.

Os terafins na Bíblia são uma evidência desse anseio, mesmo entre aqueles que tiveram interações com Deus.

A necessidade de possuir um objeto divino é um sintoma do desejo carnal por compreender e controlar o divino. Os terafins ofereciam uma suposta representação do Senhor, mas, segundo Zacarias 10:2, careciam de verdadeiro poder.

Função dos Terafins

Com base nas citações anteriores, torna-se evidente que a função mais significativa dos terafins, especialmente após a disseminação do culto a Deus em Israel, era a prática da adivinhação.

As pessoas usavam principalmente as imagens para propósitos oraculares, embora não conheçamos os métodos exatos de consulta. É provável que as pessoas as utilizassem em conjunto com práticas de sorte sagrada, como indicado em passagens como Zacarias 10:2 e Ezequiel 21:26.

A referência a um éfode em conexão com os terafins em Juízes 17:5 e 18:20 é um uso peculiar da palavra. Nessas passagens, o éfode parece representar um “objeto portátil utilizado ou manipulado pelo sacerdote em consulta com o oráculo”, conforme descrito em Juízes 8:27.

Esse uso difere da referência ao éfode (Êxodo 28:6 e seguintes), onde se menciona uma vestimenta sacerdotal com o mesmo nome.

A prática de consultar esses oráculos parece ter persistido até datas relativamente tardias, como indicado em Oséias 3:4.

A menção de terafins em Zacarias 10:2 pode se interpretar como uma tendência arcaizante do autor, e não é suficiente, por si só, para provar a continuidade do culto aos terafins no período grego.

No entanto, quando combinada com a declaração de Josefo em “Antiguidades Judaicas” (Livro 18, Seção 5), que menciona o costume de transportar deuses domésticos em viagens a países estrangeiros, sugere-se que o uso de terafins pode ter continuado até o primeiro século cristão e possivelmente além desse período.

Como ídolos do lar

Parece que os terafins, semelhantes aos Lares e Penates romanos, eram originalmente deuses domésticos.

Esses objetos eram transportados por antigos nômades semitas como amuletos, junto com seus pertences familiares. Inicialmente, as pessoas provavelmente adoravam essas divindades como os objetos divinos mais importantes em seu culto.

O culto não era nativo entre os israelitas, pois chamavam as divindades de “deuses estrangeiros” em Gênesis 35:4.

Em Ezequiel 21:26, vemos que o Rei da Babilônia consultou terafins e “examinou o fígado”, indicando o uso de encantamentos mágicos e rituais astrológicos comuns na Babilônia. É possível que os israelitas tenham adotado o culto dos terafins de seus parentes arameus.

O que os Rabinos dizem

O rabino Salomão, também conhecido como Rashi, afirmava que os terafins realizavam adivinhações por meio de artes mágicas e horoscópicas.

No relato de 1 Samuel 19:13 e seguintes, Rashi sugere que os terafins eram instrumentos astrológicos feitos de latão. Mas ele reconhece que essa visão não é consistente com o relato de Mical, que descreve os terafins com a forma de um homem.

Aben-Ezra, em Gênesis 31, propõe que os terafins eram autômatos criados por astrólogos para mostrar as horas e sussurrar adivinhações, traduzindo a palavra como “astrolábio”. Aben-Ezra também sugere que Raquel roubou os terafins de Labão para impedir a idolatria e a busca por respostas através dessas imagens.

No livro de Gênesis, o rabino Levi ben-Gersom argumenta que as figuras humanas dos terafins estimulavam a imaginação dos adivinhos. Essa excitação os levava a acreditar que ouviam vozes falando sobre eventos futuros, preenchidos pelos próprios pensamentos, embora a imagem em si não falasse. Além disso, ele afirma que essa capacidade só poderia se realizar por órgãos naturais providenciados por Deus para esse propósito.

Descobertas recentes

M. Botta fez uma descoberta intrigante no palácio de Khorsabad. Ele encontrou pequenas imagens de barro cozido, com aparência assustadora, escondidas em cavidades sob o pavimento do pórtico. Algumas dessas figuras tinham cabeça de lince e corpo humano, enquanto outras tinham cabeça humana e corpo de leão ou touro. Algumas apresentavam uma mitra com um par duplo de chifres na parte inferior, enquanto outras tinham cabelos enrolados em grandes cachos.

Essas cavidades, do tamanho de um tijolo e com cerca de quatorze centímetros de profundidade, estavam estrategicamente localizadas diante de várias portas. Elas eram forradas de telhas e tinham uma saliência interna, permitindo que fossem cobertas pelo pavimento sem revelar a existência da cavidade.

A sugestão é que essas imagens podem ser os terafins ou deuses domésticos dos antigos assírios. Escondidos próximos às portas, eles possivelmente tinham a função de proteger as entradas do palácio contra a entrada do mal.

Além disso, na cidade de Nuzi, na Mesopotâmia, uma tabuinha foi descoberta, revelando antigos códigos de lei sumerianos. Esses códigos indicam que, naquela época, a posse de pequenos “ídolos do lar” (Terafim) conferia a posse de terras específicas. Esses ídolos representavam uma espécie de certificado de propriedade, essencial para alguém se estabelecer como o legítimo proprietário de uma terra. Se esses ídolos caíssem nas mãos de outra pessoa, automaticamente essa pessoa se tornava a nova proprietária das terras que eles demarcavam.

Referências: Jewishe Encyclopedia; Biblical Cyclopedia.

André Lourenço

Bacharel em Teologia, Graduado em Gestão da Qualidade e Pós Graduando em Psicologia nas Organizações, André possui mais de 17 anos de experiência na pregação e ensino da Bíblia. É Professor de cursos de Homilética e Hermenêutica. Já escreveu centenas de estudos bíblicos e ministra aulas na EBD. Se considera um eterno aprendiz e apaixonado por Compartilhar a Palavra de Deus!

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