Quem foi Inácio de Antioquia? A História do Bispo e Mártir de Cristo
Inácio de Antioquia foi um dos primeiros pais da igreja. Embora Inácio fosse um influente líder da igreja e teólogo, ele é conhecido quase inteiramente por seus próprios escritos. Não há registro de sua vida antes de sua prisão, mas suas cartas revelam sua personalidade e seu impacto no cristianismo de seu tempo.
A HISTÓRIA DE INÁCIO DE ANTIOQUIA: O MENINO QUE JESUS BEIJOU
Vamos explorar a possibilidade de Inácio de Antioquia ser o menino que Jesus usou como exemplo para ensinar sobre humildade. Alguns historiadores têm discutido esse tema, e agora vamos analisar suas perspectivas.
Após a última e memorável jornada de Jesus a Jerusalém, os discípulos o acompanhavam. Durante a viagem, eles começaram a discutir entre si sobre quem seria o mais importante. Essa discussão revelava que suas mentes ainda não estavam iluminadas pelo Santo Espírito, e eles desconheciam as sublimes virtudes da moralidade cristã.
No entanto, Jesus estava ciente do que se passava entre eles. Ao chegarem a Cafarnaum, Ele entrou em uma casa e fez com que os discípulos se sentassem ao seu redor. Foi então que Ele começou a ensinar-lhes valiosas lições de humildade, que são a base de toda verdadeira grandeza.
Com amor e bondade irradiando de seu semblante, Jesus perguntou: “Sobre o que vocês estavam discutindo pelo caminho?” Os discípulos ficaram em silêncio, enquanto as palavras de Jesus ecoavam em seus ouvidos e um raio de luz penetrava seus corações, revelando o orgulho que os consumia.
Perto de Jesus, havia um menininho com olhos brilhantes, com cerca de quatro ou cinco anos, cabelos dourados em cachos que caíam sobre seus ombros. Jesus chamou esse menino e, ao beijar sua testa, colocou-o diante dos discípulos. Então, com sua voz celestial suave, Ele os advertiu:
“Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no Reino dos céus” (Mateus 18:3).
Essa passagem nos faz refletir sobre a possibilidade de Inácio de Antioquia ser o menino que Jesus beijou e usou como exemplo para ensinar sobre a importância da humildade. Embora não haja evidências conclusivas, alguns historiadores levantaram essa hipótese, ressaltando a profunda influência que esse episódio pode ter tido na vida posterior de Inácio.
O QUE A TRADIÇÃO DIZ SOBRE INÁCIO DE ANTIOQUIA
De acordo com a tradição, aquele menino seria Inácio de Antioquia!
Acredita-se que o menino abraçado por Cristo, como exemplo de grandeza verdadeira, tenha se tornado, nos anos seguintes, o bispo de Antioquia, que foi devorado por bestas feras no Coliseu.
No entanto, pouco se sabe sobre a infância e juventude de Inácio de Antioquia, já que ele surge nas páginas da história como o bispo de Antioquia, uma das maiores cidades do Império Romano naquela época.
É importante destacar que a circunstância mencionada acima, embora citada por alguns escritores antigos, não possui confirmação histórica além da tradição. Portanto, não a consideramos como um fato comprovado, mas a apresentamos como uma introdução interessante aos Atos desse grande mártir.
QUEM FOI INÁCIO DE ANTIOQUIA
Inácio de Antioquia foi um discípulo dos apóstolos Pedro e João. Ele aprendeu com esses competentes mestres a sublime ciência do amor de Deus, tornando-se um dos pilares da Igreja Primitiva.
Após os apóstolos, Inácio se destacou como uma das figuras mais notáveis da igreja. Policarpo e Crisóstomo fizeram dele o objeto de eloquentes elogios.
Depois de servir como bispo de Antioquia por mais de cinquenta anos, chegou o momento determinado por Deus para ele receber sua coroa. Sua morte foi gloriosa e se tornou um modelo para a igreja.
Embora não exista um registro detalhado de sua vida e virtudes, os detalhes de sua morte foram preservados por testemunhas oculares e distribuídos em várias igrejas. Portanto, os relatos de seus atos são considerados os mais autênticos na história do passado.
O CENÁRIO HISTÓRICO
A cena do martírio de Inácio de Antioquia ocorreu, segundo a melhor autoridade, no ano 107 d.C.
Naquela época, Trajano governava como imperador e Evaristo ocupava a posição de papa.
De acordo com relatos históricos, Trajano não era favorável ao derramamento de sangue e possuía um senso de humanidade mais nobre do que seus predecessores. No entanto, ele era covarde e escravo da opinião pública. Ele reprimia seus próprios sentimentos para agradar a plebe com seus gostos brutais.
Com o objetivo de conquistar popularidade e sob o pretexto de demonstrar devoção aos deuses do Império, Trajano perseguia os cristãos inofensivos.
E, Inácio de Antioquia foi uma das vítimas dessa perseguição.
INÁCIO DE ANTIOQUIA PERANTE O IMPERADOR TRAJANO
Inácio de Antioquia foi levado perante o imperador e acusado de ser o líder e promotor do cristianismo na cidade.
Trajano, adotando um tom arrogante e desprezível, dirigiu-se ao idoso bispo com estas palavras:
“Quem és tu, espírito ímpio e malvado, que te atreves não apenas a transgredir nossas ordens, mas também a persuadir outros a seguir um fim miserável contigo?”
Inácio respondeu:
“Os espíritos ímpios e perniciosos pertencem ao Inferno e não têm nada a ver com o cristianismo. Tu não podes me chamar de ímpio e malvado quando eu carrego o verdadeiro Deus no meu coração. Os demônios tremem na simples presença dos servos do Deus que adoramos. Eu tenho Jesus Cristo, o Senhor universal e celestial, o Rei dos reis. Pelo seu poder, posso subjugar todos os poderes dos espíritos infernais.”
Trajano perguntou: “Quem mais possui e carrega seu Deus no coração?”
Inácio respondeu:
“Todos aqueles que creem no Senhor Jesus Cristo e o servem fielmente. O Deus verdadeiro é único, Ele criou os céus, a terra, o mar e tudo o que existe. Jesus Cristo é o Filho primogênito do Deus Altíssimo, a Ele eu oro humildemente para que um dia me leve à posse de seu reino eterno.”
Trajano perguntou: “Este Jesus Cristo não foi condenado à morte por Pôncio Pilatos?”
Inácio afirmou:
“Sim, Ele foi crucificado, mas por meio de sua morte Ele aniquilou o meu pecado e o pecado em si. Através de sua morte, Ele subjugou todo o poder e malícia dos demônios para aqueles que o levam devotamente no coração.”
A DECISÃO DE TRAJANO
Por um momento, Trajano ficou em silêncio, enquanto pensamentos conflitantes passavam por sua mente. Ele sentia curiosidade em ouvir mais sobre a religião dos cristãos e ficou tocado pela venerável aparência do servo de Cristo.
No entanto, o orgulho em seu coração não permitiu que ele cedesse. Ele se lembrou de que qualquer demonstração de simpatia pela seita odiada seria vista como fraqueza, resultando em perda de popularidade e falta de lealdade aos deuses.
Assim, Trajano pronunciou a sentença contra o bispo de Antioquia:
“Ordenamos que Inácio, que afirma carregar consigo Jesus crucificado, seja levado acorrentado para a cidade de Roma. Durante os jogos no anfiteatro, ele será dado como alimento para as feras, proporcionando um espetáculo ao povo romano.”
A REAÇÃO DE INÁCIO
Então, quando Inácio de Antioquia ouviu sua sentença, caiu de joelhos, e erguendo os braços ao céu, bradou num êxtase de alegria:
Oh! Senhor, agradeço-te haver-me honrado com o mais precioso sinal da tua caridade, e permitido que eu seja acorrentado por teu amor, como foi o apóstolo Paulo.
INÁCIO DE ANTIOQUIA É LEVADO PRESO
Inácio de Antioquia foi abruptamente interrompido de seus pensamentos quando um soldado agarrou sua frágil mão e a algemou como se ele fosse um criminoso.
Seu “crime” era “carregar Jesus crucificado” dentro de si, como ele havia afirmado.
Inácio não ofereceu resistência, mas estava cheio de alegria. Enquanto orava por seu rebanho, ele foi levado pelos guardas para uma das celas da prisão pública, onde aguardaria sua partida para Roma.
Uma multidão se reuniu no pátio do palácio do governo, onde o imperador residia. Muitas pessoas tinham lágrimas nos olhos e soluços presos em seus peitos. Eram cristãos que testemunhavam seu amado bispo e pai ser arrastado para uma morte ignominiosa.
Quando Trajano ordenou que o idoso bispo fosse levado para Roma e exposto às feras diante de milhares de espectadores, foi para que o Império pudesse louvar o zelo do imperador em servir aos deuses e para dissuadir o povo de abraçar o cristianismo ao testemunhar o terrível destino de seus líderes.
No entanto, a divina Providência, que pode transformar o bem a partir das más ações humanas, destinou essa jornada à edificação da Igreja e à salvação de inúmeras almas.
INÁCIO ENCONTRA COM POLICARPO
Durante sua viagem a Roma, a felicidade e a paz de espírito de Inácio foram além de qualquer descrição.
Ele foi levado de Antioquia a Selêucia e embarcou em um navio para Esmirna, onde chegaram em segurança após uma longa e penosa viagem marítima.
Assim que chegou, Inácio imediatamente se empenhou em ter um encontro com o bispo Policarpo, seu companheiro de estudos junto a João.
Por meio dos esforços dos cristãos que o acompanhavam, e possivelmente subornando os guardas, foi concedido a ele esse privilégio.
Inácio de Antioquia então passou alguns dias com Policarpo, desfrutando da companhia um do outro.
INÁCIO E POLICARPO, DISCÍPULOS DE JOÃO
Inácio de Antioquia foi martirizado no ano 107, enquanto Policarpo, supõe-se, sofreu o martírio no final de 167.
Embora Inácio tenha exercido o bispado antes do nascimento de Policarpo, ambos foram discípulos de João.
Portanto, esses fatos podem ser facilmente conciliados, levando em consideração que João viveu até os 101 anos de idade.
Por volta do ano 90 d.C., João consagrou Policarpo como bispo de Esmirna, antes de ter suas misteriosas visões do Apocalipse na ilha de Patmos.
É possível que Policarpo tenha visitado frequentemente a cidade de Antioquia, onde Inácio era bispo naquela época.
Além disso, no primeiro século, aqueles que podiam consultar os apóstolos sobre dúvidas relacionadas aos ensinamentos da Igreja eram chamados discípulos dos apóstolos.
Portanto, tanto Inácio de Antioquia quanto Policarpo foram discípulos de João.
A VIAGEM DE INÁCIO
A chegada de Inácio de Antioquia em Pozzuoli, durante sua viagem a Roma, despertou um misto de emoções entre os cristãos que o encontraram lá.
Alguns ficaram maravilhados em ver Inácio de Antioquia e receber sua última bênção, enquanto outros choravam alto de tristeza, sabendo que em breve esse grande homem seria tirado deles por uma morte ignominiosa.
Essa recepção demonstra o impacto e o respeito que Inácio tinha entre os cristãos da época, que reconheciam sua grandeza espiritual e sua proximidade com o martírio.
NO COLISEU
INÁCIO DE ANTIOQUIA PREFERE MORRER POR CRISTO
O prefeito, tendo ouvido de sua longa viagem, e tocado por sua idade e aparência respeitável, pareceu experimentar um sentimento de piedade. Então dirigiu-se-lhe nestas palavras:
Admiro-me de que ainda estejas vivo, após toda a fome e o sofrimento que já suportaste. Agora, consente ao menos em oferecer sacrifício aos deuses, para que sejas livre da horrível morte que te ameaça, e salva-nos do pesar de ter de condenar-te.
Então, Inácio, lançando ao representante do imperador um olhar de desdém, declarou:
“Sabe tu que esta vida mortal não tem atração para mim, desejo ir a Jesus, que é o pão da imortalidade e a bebida da vida eterna”.
Vivi inteiramente para Jesus, e a minha alma anela por Ele.
Desprezo todos os teus tormentos, e lanço aos teus pés a tua liberdade oferecida.
O prefeito, ficou enraivecido com a ousadia do bispo de Antioquia, então proferiu num tom arrogante:
Já que este velho é tão orgulhoso e desdenhoso, deixai-o ser amarrado, e soltai dois leões para devorá-lo.
Então, Inácio sorriu com alegria e com um ato de ações de graças no coração, e dizia as seguintes palavras:
“Sou trigo de Deus, e devo ser moído pelos dentes das feras, a fim de tornar-me para Ele um pão branco e puro”.
AO ENCONTRO DO MESTRE
Ajoelhado e com os braços cruzados sobre o peito, Inácio aguardou com calma e resignação o momento em que seria libertado dos problemas desta vida e sua alma se encontraria com a eternidade.
Os portões das passagens subterrâneas se abriram e dois leões saltaram para a arena.
Um silêncio dominou o anfiteatro.
As feras avançaram… E assim o mártir encontrou sua coroa. Sua oração foi atendida: os leões não deixaram nada além dos ossos mais sólidos de seu corpo.
Essa foi a morte de Inácio de Antioquia, que valorizou mais a vida eterna do que a passageira nesta terra. Ele não negou seu mestre, mas o amou de todo o coração.
Que sigamos o exemplo de Inácio de Antioquia, amando nosso Senhor não apenas com palavras, mas com todo o nosso ser.
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