Parábola do Credor Incompassivo: Explicação e Lições

A parábola deste capítulo tem outros títulos atribuídos a ela, como “O Credor Incompassivo” e “O Servo Inclemente”. No entanto, ela aborda um assunto de extrema importância na vida cotidiana das pessoas: como lidar com a ofensa e o perdão. Esses são princípios de vida que guiam os cristãos em relação ao ato de perdoar quando são ofendidos.

Ofensa e perdão são dois elementos presentes em nossa vida diária que influenciam todas as nossas emoções. Jesus estabeleceu alguns princípios para abordar o perdão em relação aos que nos ofendem.

Nesta parábola, Jesus aborda o perdão de uma perspectiva totalmente humana, não apenas se referindo ao perdão de Deus para o homem, mas também ao perdão que o homem pode oferecer ao ofensor. Ele discute a relação entre aqueles que ofendem e aqueles que são ofendidos.

Há muito para aprender neste estudo da parábola do credor incompassivo. Então, vamos juntos explorar o significado profundo da parábola contada por Jesus.

A lição básica da Parábola do Credor Incompassivo

A parábola Parábola do Credor Incompassivo nos ensina que o perdão tem o poder de dissipar todo o obstáculo emocional negativo quando estamos dispostos a reconhecer que temos uma dívida impagável com Deus, em vez de focarmos em cobrar a dívida daqueles que nos ofenderam.

Se o homem tivesse esperado que sua esposa, que o havia magoado com seu adultério, confessasse o que havia acontecido, talvez não houvesse oportunidade para o perdão. Ao perdoar por iniciativa própria, ele não só aliviou seu coração de ódio e desejo de vingança, mas também permitiu que sua esposa refletisse e agisse com reciprocidade.

O perdão deve ser praticado por aquele que estiver pronto para adotar essa atitude, independentemente do comportamento do ofensor.

Há um ditado que expressa esse ensinamento: “Ao ultrajar seu inimigo, você se coloca abaixo dele; ao vingar uma injúria, você estará no mesmo nível do ofensor; mas ao perdoar, você estará acima dele.”

O contexto da Parábola do Credor Incompassivo

Para alcançar o objetivo final desta parábola, é crucial entender todo o seu contexto. A preparação do campo de ação para as verdades que Jesus desejava ensinar sobre o perdão irrestrito é fundamental.

Ao analisarmos o contexto da parábola (Mateus 18:1-6), percebemos que Jesus aborda o tema do perdão e sua aplicação nas relações pessoais, especialmente em relação às ofensas. Ele se volta para uma criança com ternura especial para ensinar aos discípulos sobre valores morais, incluindo o perdão. Através da inocência e simplicidade de uma criança, Jesus ilustra o verdadeiro significado do perdão (v. 2).

Inicialmente, elogia o espírito simples e crédulo da criança para mostrar que o espírito perdoador deve ser semelhante ao de uma criança, livre de vingança.

Ao adotarmos essa simplicidade, conseguimos lidar melhor com as ofensas do dia-a-dia, pois a vingança é uma arma inútil que só gera sofrimento, prejudicando tanto o alvo quanto o perpetrador. Como disse David Augsburger em seu livro “Livre para Perdoar”:

“A vingança inicia uma excursão sem fim, descendo aos mais recônditos recessos do rancor, da represália e das impiedosas desforras”.

Além disso, Jesus percebeu a ansiedade dos discípulos em relação ao poder e domínio, preocupados em determinar quem era o maior entre eles.

Para ilustrar a lição sobre esse tema, Ele escolheu uma criança, mostrando aos adultos que agiam com incoerência o quão perigoso é tornar-se impaciente e dominado por sentimentos que não estão de acordo com os ensinamentos que Ele transmitia.

Quando nos deixamos levar por esses sentimentos, tornamo-nos capazes de ofender nossos companheiros (ou irmãos na fé), ferindo-os com atitudes presunçosas na busca por posição e grandeza entre os demais.

O contraste entre o pecar voluntariamente e ser induzido a pecar

O contraste entre pecar voluntariamente e induzir alguém a pecar é enfatizado no texto dos versículos seguintes (w. 6-9), onde Jesus demonstra sua perspicácia em ensinar lições de vida que envolvem as relações interpessoais, especialmente em relação à ofensa e ao perdão.

Jesus valoriza a posição das crianças no mundo dos homens e destaca que, no Reino de Deus, é grave escandalizar os pequeninos. Ele ressalta que “fazer alguém pecar” é uma forma de ofender esse indivíduo, e na linguagem bíblica, isso é “escândalo”.

Mas o que significa esse “escândalo”? Na língua grega, o termo aparece em Mateus 17:27 como substantivo “skandaion” e como verbo “skandalizo“.

Em algumas traduções, como a Almeida Revista e Corrigida, esses termos são traduzidos como “escândalo” e “escandalizar”. Em outras traduções, eles podem aparecer como “pedra de tropeço”, “fazer tropeçar”, “fazer errar” ou “fazer pecar”.

Jesus usa esses termos de forma forte e rejeita quem induz uma pessoa simples ao pecado ou ao erro, o que resulta em condenação. As expressões metafóricas de “arrancar o olho”, “cortar a mão ou o pé” que servem como condutores de pecados (Mateus 5:29,30) não se deve interpretar literalmente.

O contexto dessa passagem bíblica indica que se refere à excomunhão de um membro escandalizado, mas Jesus pronuncia um “ai” sobre aqueles que provocam tal situação (Mateus 18:7).

Os “pequeninos”, de acordo com o ensino de Jesus, são pessoas indefesas e incapazes de reagir negativamente. Ele declara que tais pessoas são protegidas por Deus através de seus anjos (Mateus 18:10).

Se um cristão ofende e escandaliza um irmão em Cristo e não se arrepende do erro, pode sofrer as consequências de sua atitude.

Porém, se o ofendido demonstrar disposição para perdoar, certamente estará seguindo o princípio divino do perdão, ou seja, perdoar incondicionalmente, até “setenta vezes sete” se necessário.

Pedro fez uma pergunta que desencadeou uma resposta conceitual

No versículo 21, encontramos uma pergunta feita por Pedro com uma mentalidade legalista, que provocou uma resposta conceitual capaz de romper com estigmas moralistas, sem apresentar nada de novo para resolver o problema de culpa e perdão. O texto diz:

“Então, Pedro se aproximou de Jesus e disse: Senhor, quantas vezes devo perdoar meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?” (Mateus 18:21).

Foi Pedro, o intrépido, quem fez a pergunta que levou Jesus a dar uma resposta que mudaria o conceito de perdão. Jesus havia falado sobre ofensa e perdão, o que despertou a curiosidade entre os discípulos. A pergunta de Pedro buscava determinar a quantidade de vezes que se deveria perdoar um ofensor.

A ideia de Pedro sobre a atitude de perdão estava relacionada a uma prática entre os judeus, que estabelecia a quantidade legal de três a sete vezes para perdoar alguém.

Os rabinos tradicionalmente ensinavam que “era possível perdoar o ofensor até três vezes, mas não além de quatro vezes” (Am 1.3; Jó 33.29,30).

A matemática do perdão

Jesus apresentou uma matemática do perdão que revolucionaria os sistemas de valores morais e espirituais existentes. Ele respondeu a Pedro com uma frase que mudaria a perspectiva sobre o perdão: “Não te digo que perdoes até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mateus 18:22).

Anteriormente, a tradição estabelecia perdoar apenas três ou sete vezes a ofensa. No entanto, Jesus quebrou a lógica legalista dos judeus ao usar uma linguagem hiperbólica, indicando que o perdão não deveria ter limites quantitativos.

Por exemplo, a Bíblia menciona Lameque, antes do dilúvio, que ampliou a condenação de Caim não apenas sete vezes, mas setenta vezes sete (Gn 4:23,24).

Jesus introduziu um método revolucionário ao transformar o conceito negativo de condenação em algo positivo, promovendo o ato de perdoar setenta vezes sete. Isso enfatiza a ideia de uma capacidade ilimitada para perdoar o ofensor.

Após dar uma olhada no contexto, agora vamos explorar a Parábola do Credor Incompassivo.

Explicando a Parábola do Credor Incompassivo

Explicando a Parábola do Credor Incompassivo

Depois de receber a resposta, Pedro aproveitou a curiosidade dos discípulos para ensinar-lhes um novo conceito de perdão através de uma sábia parábola.

O ajuste de contas

A história narrada no versículo 23 mostra que um certo rei decidiu acertar as contas com seus servos. Um deles estava devendo “dez mil talentos” (v. 24), e o rei o chamou para resolver essa questão.

O propósito principal do Mestre ao compartilhar essa história com seus discípulos era ensinar-lhes que haveria um dia em que todos teriam que prestar contas ao Senhor.

A Bíblia afirma que esse acerto de contas seria inevitável, uma vez que nossas dívidas espirituais para com Deus são enormes, cada pecado que cometemos representa uma dívida que contraímos com Ele.

Essa não é uma dívida comum, mas sim uma dívida com o Rei, nosso Senhor. Paulo também utiliza a expressão “não lhes imputando os seus pecados” em 2 Coríntios 5.19, o que significa “não levando em conta seus pecados”.

Atualmente, nossa consciência (coração) desempenha o papel de um fiscal cobrador dessa dívida, mas temos alguém que pagou integralmente o débito com seu próprio sangue: Jesus Cristo (1 João 3.20; 1.7).

A imensa dívida contraída pelo servo (versículos 23 e 24)

O servo do rei devia “dez mil talentos”, evidenciando que sua dívida era muito maior do que ele jamais poderia pagar. No entanto, o rei perdoou completamente aquela dívida, e o servo não ficou devendo absolutamente nada.

Essa história ressalta que todos nós somos devedores diante de Deus, e Ele, por causa de Seu imenso amor, nos perdoou. Aqueles que amam a Deus também devem amar o próximo, seguindo o exemplo do perdão divino.

Assim como Deus nos perdoou totalmente por todas as dívidas que tínhamos para com Ele, também devemos perdoar aqueles que nos devem (Mateus 6:15).

Esse ensinamento nos lembra que é importante praticar o perdão mútuo, pois assim liberamos os outros das dívidas que têm conosco, assim como Deus nos perdoou.

Devemos estender o amor e a misericórdia que recebemos aos outros, refletindo a natureza do perdão divino em nossas vidas.

A dívida era impagável (Mateus 18:25)

Conforme mencionado no texto, o servo não tinha recursos para pagar sua dívida e, portanto, apelou à compaixão do seu senhor. Do ponto de vista bíblico, todo pecado é uma dívida insolvente, o que significa que somos incapazes de pagá-la por nós mesmos.

Se Deus agisse estritamente segundo a justiça perfeita, seríamos condenados como devedores insolventes.

A justiça divina exige satisfação, e quando avaliamos nossos próprios méritos diante do pecado, percebemos que não possuímos nenhum esforço próprio capaz de satisfazer essa justiça.

A Bíblia expressa o princípio de que “o salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23). Isso significa que o pagamento que recebemos por nossos pecados é a morte espiritual.

Sem o perdão divino, a morte eterna seria inevitável. Contudo, graças à vinda de Cristo a este mundo, Ele pagou nossa dívida (1 Pedro 2:24).

Sua morte sacrificial na cruz foi o resgate necessário para libertar-nos das consequências do pecado e possibilitar o perdão e a reconciliação com Deus.

Através de Seu sacrifício, podemos obter o perdão e a vida eterna, livrando-nos da condenação que a dívida do pecado trazia.

A Complacência da Justiça (Mateus 18:26,27)

Aquele servo estava em uma situação desesperada, pois não tinha meios de pagar sua dívida. Assim, apelou ao coração bondoso do rei, suplicando-lhe por mais tempo para quitar o débito.

Comovido pela situação do servo, o rei tomou compaixão dele e decidiu perdoar completamente toda a dívida.

Mesmo que o servo não merecesse tal perdão, pois seu coração era irresponsável e insensato, sendo duro para com os outros, o rei ainda assim mostrou misericórdia.

Essa atitude do rei ilustra o que Deus fez por nós. Somos totalmente indignos da compaixão divina, mas a justiça de Deus é permeada de misericórdia.

Por isso, Ele foi capaz de perdoar todos os nossos pecados. O pagamento exigido pela justiça deveria ser realizado, e Jesus assumiu a nossa dívida.

Ele nos perdoou, mesmo quando não merecíamos, e pagou o preço por nossas transgressões. Esse gesto de amor e compaixão revela a grandeza do perdão divino e o sacrifício de Cristo em nosso favor.

O comportamento cruel e ide um servo perdoado (Mateus 28-30)

Os versículos 28 a 30 relatam que, após perdoado por seu senhor quanto à sua dívida, o servo não demonstrou a mesma atitude benevolente com um conservo que lhe devia uma quantia muito menor.

A generosidade do senhor não serviu de exemplo para ele ao lidar com o seu colega devedor. Esse servo agiu com extrema crueldade e aspereza, revelando seu coração egoísta dominado pela avareza desmedida.

Imediatamente após receber o perdão, o servo buscou o conservo que lhe devia e o cobrou sem nenhuma misericórdia.

Sua atitude foi maliciosa e desumana em relação a esse colega, contrastando com a bondade e compaixão que havia recebido de seu senhor.

Embora a diferença entre as dívidas fosse enorme, pois o servo devia dez “mil talentos” e o conservo apenas “cem dinheiros”, ele ignorou completamente a generosidade de seu senhor e tratou o colega de forma implacável, sem qualquer vestígio de misericórdia.

O texto descreve que o servo usou de violência, agarrando o conservo pelo pescoço com ambas as mãos e sufocando-o sem piedade.

A atitude desse servo reflete o espírito impiedoso que prevalece no mundo, mas, infelizmente, às vezes também podemos testemunhar atitudes semelhantes entre irmãos dentro da própria comunidade cristã.

Ao saber da crueldade desse servo com o outro, o senhor ficou indignado e chamou-o para conscientizá-lo de que, ao não ser justo com seu conservo, a única alternativa era enfrentar o rigor da lei (Mateus 18:32,33) e arcar com as consequências de sua crueldade.

Revogação do perdão da dívida pelo senhor do servo (Mateus 18:34)

O que significa “revogar”? Essa palavra implica tornar sem efeito uma decisão anteriormente tomada. No caso da parábola, o senhor do servo ingrato e inclemente tornou nulo, ou seja, invalidou o perdão que havia concedido.

Essa lição nos mostra que lidamos integralmente com as dívidas resultantes de nossos pecados contra Deus. Ou seja, recebemos o perdão completo, ou pagamos integralmente a pena por nossas transgressões.

Quando aceitamos Cristo, recebemos perdão de todas as nossas dívidas, graças ao pagamento satisfeito por Sua obra expiatória no Calvário.

O autor da Epístola aos Hebreus ressalta que Jesus ofereceu uma única e perfeita oblação (oferta) por nossos pecados, resultando no perdão completo de Cristo.

Como perdoados, nossas atitudes devem ser guiadas pelo Espírito Santo, buscando a santificação e total separação do pecado.

Contudo, a parábola do credor incompassivo destaca a atitude do senhor, que revogou o perdão concedido ao servo ao descobrir uma injustiça cometida contra outro devedor.

Essa ação desconstrói a ideia de que uma vez salvo, sempre salvo, pois a salvação requer a preservação do que recebemos. O servo não soube preservar a bênção do perdão porque não soube perdoar seu semelhante.

A obra salvífica de Deus atua em três tempos distintos: passado (perdão recebido e salvação da pena do pecado), presente (preservação do perdão e vivência em relação ao próximo, a salvação da presença do pecado), e futuro (salvação do corpo do pecado).

Para sermos salvos no futuro, é crucial corresponder aos princípios de justiça pelos quais fomos salvos.

O versículo 35 da Parábola do Credor Incompassivo fornece a resposta final…

Jesus faz a aplicação da Parábola do Credor Incompassivo

O texto afirma explicitamente: “Assim vos fará também meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas” (Mateus 18:35).

Ao perdoarmos alguém que nos ofende, devemos fazê-lo sinceramente, pois o perdão é um elemento vital para a sobrevivência, indispensável para termos uma vida saudável, tanto física, moral e espiritualmente.

A parábola do credor incompassivo nos ensina que no “juízo final”, não haverá misericórdia para aqueles que não demonstraram misericórdia, e a misericórdia prevalecerá sobre o julgamento (Tiago 2:13).

Essa lição está em consonância com o contexto doutrinário de toda a Bíblia acerca do perdão, da justiça e do juízo. Existe um conceito universalista que sustenta que Deus é amor e, no final, perdoará a todos sem distinção.

No entanto, esse conceito não tem base bíblica. A Bíblia nos mostra que a justiça sempre se cumprirá, e a pena pelo pecado é inevitável.

Se não formos capazes de perdoar aqueles que pecam contra nós, como poderemos esperar o perdão de Deus? Porém, se formos perdoados e aprendermos a perdoar aqueles que nos ofendem, estaremos satisfazendo a justiça de Deus.

Esse ensinamento ressalta a importância de praticar o perdão mútuo e a misericórdia para experimentar o verdadeiro sentido da justiça e da espiritualidade.

Equipe Redação BP

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