Salmo 12 explicação completa e comentada
O Salmo 12 é uma oração escrita por Davi em um tempo de grande aflição e decadência moral. Ele clama a Deus diante de uma realidade dura: os fiéis estavam desaparecendo, e a mentira, a bajulação e o orgulho dominavam as relações humanas.
Davi escreveu o Salmo 12, provavelmente no período em que Saul o perseguia injustamente, e os que apoiavam Davi também eram hostilizados.
Em meio a essa crise, Davi ergue sua voz não apenas por si, mas por todos os que eram oprimidos e enganados. Ele descreve uma sociedade corrompida, onde a verdade foi silenciada e os ímpios pareciam prosperar sem limites.
Essa escassez de homens fiéis, que Davi cita no Salmo 12:1, reflete o resultado de um ambiente onde o temor de Deus foi substituído pela autoconfiança e pela arrogância. As palavras se tornaram armas, e os lábios bajuladores, instrumentos de manipulação.
Embora, a capacidade de falar e escrever é um dom precioso concedido por Deus, o Salmo 12 nos mostra tanto os usos corretos quanto os abusivos dessa dádiva.
O esboço de pregação do salmo 12 pode ser dividido em três partes:
- 1. Palavras de desespero dos homens piedosos (Sl 12:1)
- 2. Palavras de dissimulação dos homens perversos (Sl 12:2-4)
- 3. Palavras de livramento do Senhor (Sl 12:5-8)
1. Palavras de desespero dos homens piedosos (Sl 12:1)
No Salmo 11, Davi já alertava que os fundamentos da sociedade estavam sendo abalados. Agora, no Salmo 12, seu clamor é por socorro: “Salva-nos, Senhor!”.
Não se tratando apenas de um desabafo nostálgico de alguém que deseja voltar aos “bons tempos”. Mas é o grito angustiado de um servo fiel que vê a fidelidade desaparecer entre os homens.
O remanescente piedoso está se tornando cada vez menor.
Davi desejava ver Israel cumprindo sua missão divina, trazer o Salvador ao mundo e ser bênção para todas as nações (Gn 12:1-3).
Essa mesma angústia foi expressa por outros homens de Deus: Elias pensou ser o único fiel que restava (1 Rs 18:22; 19:10,18); Isaías e Miquéias também lamentaram a escassez de líderes tementes (Is 57:1; Mq 7:1-7).
No Novo Testamento, o apóstolo Paulo também enfrentou o mesmo cenário. Ao escrever para Timóteo, ele mencionou algumas pessoas que estavam desviando a igreja (1 Tm 1:3,6; 4:1), e em sua segunda carta, lamenta que praticamente todos o haviam abandonado (2 Tm 1:15; 4:16).
Hoje, muitos cristãos parecem não saber o que de fato caracteriza um líder piedoso. Em vez de buscar homens cheios do Espírito, muitos adotam modelos seculares de liderança, colocando pessoas sem preparo espiritual em posições de autoridade.
2. Palavras de dissimulação dos homens perversos (Sl 12:2-4)
Davi viveu numa geração marcada pela falsidade. Não eram apenas alguns mentindo: a mentira era uma característica dominante daquele tempo (Sl 5:9; 28:3; 55:21). E se ele vivesse hoje, o que diria ao ver como a mentira e a bajulação se espalham pela mídia e redes sociais? Provavelmente, as chamaria do que sempre foram: palavras vazias e enganosas.
Saul mentiu para manipular seus oficiais contra Davi. Absalão usou a bajulação para conquistar o povo. Esse tipo de linguagem não é comunicação genuína, mas manipulação, algo perigoso inclusive dentro da igreja (Pv 26:28; 1 Ts 2:1-6).
O discurso lisonjeiro atinge especialmente os que têm sede de importância (Jd 11). Podemos adular outros, a nós mesmos (Sl 36:2) e até a Deus (Sl 78:34-37), mas tudo começa no coração.
Por isso, Davi denuncia os de coração dividido, literalmente, “um coração e outro coração”. Diferente do coração íntegro e resoluto para com Deus (Sl 86:11).
Além disso, a “língua arrogante” mencionada no versículo 4 representa discursos orgulhosos e pretensiosos. Eles se acham donos das palavras, como se jamais prestassem contas a Deus.
Essa linguagem, alimentada pelo ego, é a mesma que a Bíblia atribui ao Anticristo (Dn 7:25; Ap 13:5). Hoje, muitos falam como se estivessem no controle absoluto, mas Deus julgará toda arrogância.
3. Palavras de livramento do Senhor (Sl 12:5-8)
Deus vê os necessitados, ouve os oprimidos e se levanta em seu favor. A expressão “Eu me levantarei” aparece várias vezes nas Escrituras como resposta divina ao clamor do povo (Sl 3:7; 7:6; 10:12; Nm 10:35; Is 33:10).
O termo “pôr a salvo”, no versículo 5, tem ligação direta com “salvação” no versículo 1. Com o mesmo significado hebraico usado em nomes como Jesus e Josué, que significam “O Senhor salva”. Deus promete segurança verdadeira àquele que confia nEle.
Ao contrário das palavras enganosas dos ímpios, a Palavra do Senhor é pura como prata refinada sete vezes (v. 6). É confiável, perfeita e preciosa (Sl 19:9-10; 119:72,127). Vivemos numa geração que despreza as Escrituras e valoriza a falsidade, ironicamente, pagando caro por ela. Mas a verdade permanece: Deus vela por Sua Palavra para cumpri-la (Jr 1:12).
O Senhor também é poderoso para proteger os justos das mentiras do maligno. A Bíblia chama o povo fiel de “geração dos justos” (Sl 14:5; 24:6; 112:2), e se alimentarmos nossas almas com a Palavra, não seremos enganados.
Por fim, o versículo 8 é um alerta: os perversos se multiplicam quando a maldade é exaltada entre os homens. A mídia glorifica tudo o que Deus reprova, violência, imoralidade, mentiras, ganância. A indústria do entretenimento premia o que Deus abomina.
Mas existe solução: o povo de Deus é sal e luz (Mt 5:13-16). Quando adoramos, oramos e anunciamos o evangelho, trazemos luz às trevas. É necessário também ensinar a próxima geração (2 Tm 2:2; Sl 78:1-8), preparando-os para as batalhas futuras.
Se a igreja falhar, o mal dominará. Mas se formos fiéis em evangelizar e discipular, manteremos viva a chama da verdade em um mundo mergulhado na mentira.
Salmo 12 Explicação Versículo por Versículo
“SALVA-NOS, SENHOR, porque faltam os homens bons; porque são poucos os fiéis entre os filhos dos homens.” (Salmo 12:1)
Neste versículo, temos uma oração breve, mas cheia de urgência. Davi clama por socorro porque os fiéis estão desaparecendo. O termo “salva-nos” é direto, oportuno e revela profunda angústia espiritual.
Essa súplica é perfeitamente adequada para tempos de crise moral e espiritual, e também pode ser usada como consolo em funerais de servos piedosos, como um lamento pela ausência de líderes tementes. O desaparecimento dos justos representa risco para a igreja, enfraquece a causa de Deus e gera temor diante do juízo iminente.
Mesmo assim, a fé não desaparece. O clamor por salvação mostra que, apesar do desânimo, o coração ainda confia em Deus. Vale lembrar: quando a integridade com Deus diminui, a honestidade entre os homens também desaparece.
“Cada um fala com falsidade ao seu próximo; falam com lábios lisonjeiros e coração dobrado.” (Salmo 12:2)
A explicação do Salmo 12 aqui mostra uma sociedade contaminada pela falsidade. As pessoas falam com lábios lisonjeiros e um coração duplicado, ou seja, com intenções duplas e palavras enganosas.
Davi denuncia o perigo da adulação: ela soa agradável, mas esconde traição. A duplicidade de coração indica alguém dividido entre a verdade e o engano. Há aqui um alerta para reconhecermos os danos das conversas vazias, palavras mentirosas e bajulação constante.
“O SENHOR cortará todos os lábios lisonjeiros e a língua que fala soberbamente.” (Salmo 12:3)
Deus odeia a lisonja e a soberba, e esse versículo mostra como Ele reage a esses pecados dos lábios. A bajulação corrompe relacionamentos; a arrogância é uma forma de autolisonja. Deus se opõe tanto ao discurso manipulador quanto ao orgulho verbal que se exalta sobre os outros.
Reforçando aqui o juízo divino: o Senhor cortará os lábios e a língua dos que se rebelam contra a verdade com palavras falsas. É um aviso claro de que tais pecados não passarão impunes.
“Pois dizem: Com a nossa língua prevaleceremos; são nossos os lábios; quem é SENHOR sobre nós?” (Salmo 12:4)
Essa é a expressão máxima da arrogância: pensar que se pode falar o que quiser, sem prestar contas a ninguém, nem mesmo a Deus. É o discurso da rebelião, da autonomia falsa, onde o homem se coloca no lugar de autoridade máxima.
Davi confronta esse espírito de independência que despreza o senhorio de Deus. É o oposto da confissão cristã: “Não somos de nós mesmos” (1 Co 6:19). A linguagem desse versículo mostra a raiz do pecado: orgulho e insubmissão.
“Pela opressão dos pobres, pelo gemido dos necessitados me levantarei agora, diz o SENHOR; porei a salvo aquele para quem eles assopram.” (Salmo 12:5)
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Aqui vemos o Senhor tomando posição em defesa dos oprimidos. Ele ouve os clamores dos fracos e age com justiça. A promessa de “pô-los a salvo” revela o cuidado especial de Deus com os que são desprezados.
O termo “me levantarei” indica ação imediata. Deus não está indiferente à dor de Seu povo. Ele julgará os arrogantes e protegerá aqueles que sofrem ataques. Essa é uma promessa poderosa de segurança e justiça divina.
“As palavras do SENHOR são palavras puras, como prata refinada em fornalha de barro, purificada sete vezes.” (Salmo 12:6)
Davi contrasta as mentiras humanas com a verdade imutável de Deus. Suas palavras são puras, sem contaminação, totalmente confiáveis. São como prata refinada sete vezes: perfeitas, provadas e duráveis.
Cada promessa do Senhor é digna de confiança. Ao contrário dos discursos vazios dos ímpios, a Palavra de Deus é sólida e eterna. Ela foi provada e permanece firme como fundamento para a fé.
“Tu os guardarás, SENHOR; desta geração os livrarás para sempre.” (Salmo 12:7)
Essa é uma promessa de proteção contínua. Deus não apenas fala, Ele age. Seu povo é guardado da influência perversa dessa geração, tanto no presente quanto no futuro.
A explicação do Salmo 12 neste ponto é consoladora: os fiéis não estão à mercê da maldade. Há livramento certo e duradouro para quem confia no Senhor.
“Os ímpios andam por toda parte, quando os mais vis dos filhos dos homens são exaltados.” (Salmo 12:8)
O último versículo mostra a realidade sombria de quando o pecado é celebrado publicamente. Quando a perversidade é promovida, seja na política, na mídia ou nas artes, os ímpios se multiplicam. A corrupção se torna padrão, especialmente entre os que estão em posições de destaque.
O Salmo 12 serve de alerta aos líderes, aos influentes e aos formadores de opinião: suas atitudes moldam a sociedade. Onde a vileza é honrada, a justiça recua. Cabe ao povo de Deus brilhar com luz e verdade em meio às trevas.
Se hoje vivemos dias em que a falsidade é aplaudida e os justos escasseiam, o Salmo 12 nos convida a clamar: “Salva-nos, Senhor!”. E a confiar que Suas promessas são seguras como prata purificada e que Seu livramento é certo.
Veja também: Salmo 70 Estudo