A Família nos tempos Bíblicos
A vida em família nos tempos bíblicos refletia uma cultura muito diferente da nossa. Nesse artigo veremos tudo sobre a família nos tempos bíblicos em um estudo completo e detalhado.
Durante todo o período bíblico, a família sempre foi muito valorizada, e a própria sobrevivência da nação de Israel bem como seu triunfo como povo dependeu em grande parte dela.
Para a maioria das pessoas, o cenário mais natural é o familiar, com pai, mãe e filhos.
Quando Paulo quis descrever o relacionamento amigo e caloroso que os crentes mantinham entre si recorreu a esse termo, e definiu-os como membros da “família da fé” (Gl 6.10).
O vocábulo família sugere segurança, aceitação e amor. Não queremos dizer com isso que os lares dos israelitas fossem todos perfeitos, não.
A Bíblia mostra que havia ali os mesmos problemas de conflitos e maus tratos que, ao que parece, ocorrem em todas as culturas.
Vemos ali poligamia, oposição entre pais e filhos, e a rivalidade entre irmãos, que naquela sociedade atingiu o pior estágio.
A FAMÍLIA NA HISTÓRIA BÍBLICA
Em todos os séculos da história bíblica, a família sempre é mostrada como uma célula bem definida, estável, cheia de vida.
Na família de Jesus, por exemplo, os pais se mostram pessoas ternas, amorosas, mesmo em circunstâncias difíceis, na parábola do filho pródigo, vemos uma situação de conflito, de tensão, mas de perdão também.
A maioria das famílias podia identificar-se perfeitamente com qualquer um desses casos.
No decorrer do primeiro século, a atitude das pessoas no seio da família começou a sofrer alterações. É verdade que a estrutura familiar israelita já tinha passado por mudanças anteriormente, em mais de uma ocasião.
Mas agora eles estavam recebendo fortes influências dos gregos e romanos, que acabaram por minar muitos dos seus valores tradicionais.
Era comum pais e filhos terem opiniões diferentes acerca do estilo de roupa, cosméticos, eventos esportivos, casamentos mistos, práticas religiosas e diversas outras questões.
Os israelitas mais ortodoxos estavam tendo sérias dificuldades para manter intacto seu sistema de valores, em meio a uma sociedade modernista.
Após várias ocupações sucessivas por exércitos de diversos países, seu senso de valores estava sensivelmente comprometido. Além disso, o grande impulso dado às comunicações, bem como as facilidades para se viajar, contribuíam para aumentar a circulação de novas ideias.
Em toda parte, viam-se mercadores, soldados, operários, filósofos, profetas e caminhantes, que transitavam livremente, favorecidos pelas estradas abertas pelos romanos.
JESUS E A FAMÍLIA NOS TEMPOS BÍBLICOS
Foi então que apareceu Jesus Cristo, em meio a essas “águas agitadas”.
E suas ideias sobre a família, a sociedade, sobre a mulher, o divórcio, o perdão e as crianças chocaram não apenas os preconceituosos, mas até os liberais.
Ele apregoava uma volta aos valores fundamentais da família, e a busca de uma atitude de maior compreensão e compaixão para com o indivíduo.
E para que esses princípios superiores vigorassem e subsistissem seria preciso que se removessem os preconceitos.
Certa vez seus discípulos tiveram uma grande surpresa, pois o encontraram conversando com uma mulher à beira de um poço (Jo 4.27).
Sua atitude de receptividade para com as crianças contrastava visivelmente com a dos discípulos, que desejavam afastá-las (Mc 10.13).
Seu ensinamento sobre o perdão (Mt 18.22) e o divórcio (Mt 19.8) era nitidamente diferente do que a maioria das pessoas estava acostumada a ouvir.
A própria decisão de seguir a Jesus Cristo criaria um clima tenso em algumas famílias, para o que ele mesmo já havia alertado. Às vezes, numa mesma casa, um filho creria no Senhor, enquanto outro não.
Além disso, as perseguições iriam dividir familiares, um posicionamento favorável a Cristo e a sua justiça também poderia implicar na perda do emprego, por exemplo. Mas, de todo modo, um dos pontos centrais dessa fé revolucionária era a santidade da família.
O MARIDO E PAI
Contudo não se pode dizer que o lar judeu do primeiro século fosse necessariamente um “cantinho do céu” onde todos viviam felizes.
Era normal haver conflitos, entretanto, de modo geral, a família continuava sendo a base principal da sociedade judaica.
O PAPEL DO PAI
A maioria das famílias nos tempos bíblicos considerava o pai um chefe compassivo, embora alguns homens achassem que deviam ser uma espécie de tirano, diante de quem todos os outros teriam que se curvar.
Mas o fato é que a maior parte dos judeus amava seu pai e era profunda e sinceramente leal a ele.
Uma expressão comumente usada para designar “morte” revela esse carinho deles. Diziam: “Ele descansou com seus pais”. (1 Rs 2.10).
Ir reunir-se aos pais após a morte era uma imagem muito clara para eles.
Ao chefe da família se devia disciplina e respeito.
O pai trabalhava no campo juntamente com os filhos. E ele poderia, se quisesse, exercitar autoridade total em casa.
Poderia, por exemplo, divorciar-se de sua mulher a seu bel-prazer, ao passo que a mulher não tinha tal direito (Dt 24,1).
Apesar da posição privilegiada do homem, ele não devia nunca agir como um tirano. O apóstolo Paulo aconselha os pais a não provocar os filhos à ira (Ef 6.4).
E embora o marido pudesse até ser um ditador em relação à esposa, observando os princípios divinos sobre o amor ele a deixava livre para tomar decisões por si mesma (Pv 31).
Muitos dos “perfis” paternos traçados no Novo Testamento revelam homens que amam os filhos.
As informações que temos de José, pai de Jesus, mostram um homem bondoso e paciente (Mt 1.18-20).
Mesmo diante de circunstâncias que fugiam totalmente à sua compreensão, ele foi um pai amoroso e protetor.
O pai descrito na párabola do filho pródigo foi um homem que deu ao filho liberdade para tomar uma decisão errada, mas depois o recebeu de volta sem rancores, e sem a menor hesitação.
Outro pai citado é o que levou a Jesus seu filho epilético, e que já vira esse filho cair no fogo diversas vezes (Mt 17.15).
Seu amor pelo rapaz foi recompensado.
O conceito judaico de “pai” achava-se fortemente associado ao de Deus. Eles o viam como uma Pessoa firme, justa e compassiva.
Ao dirigir-se a Deus, Jesus empregou a palavra “Aba” (Mc 14,36), que corresponde ao nosso termo “papai”, e é uma das primeiras palavras que uma criancinha aprende a dizer.
Nela estão contidas idéias de respeito, intimidade, afeição e confiança.
Abordando o mesmo tema, o apóstolo Paulo afirma que nossa adoção como filhos nos dá o direito de chamar Deus de “Aba” (Rm 8.15; Gl 4.6).
Esse vocábulo nos ajuda a compreender a natureza de Deus e o conceito de paternidade adotado no primeiro século.
RESPONSABILIDADES DO PAI
O chefe de família nos tempos bíblicos tinha a responsabilidade de prover as necessidades dela. Se não o fizesse, seria considerado pior do que um incrédulo (1 Tm 5.8), a náo ser que fosse fisicamente incapacitado.
Outra de suas responsabilidades era providenciar a educação dos filhos, e cuidar para que os meninos aprendessem um ofício. Muitas vezes ele próprio tinha que fazer isso pessoalmente.
Outra prática habitual do pai era passar aos filhos suas convicções religiosas e políticas e seus valores sociais, o que ele fazia no decorrer das atividades normais da família.
Ele lhes transmitia sua visão da vida, de maneira fácil e natural, durante as refeições, ou trabalhando no campo, ou consertando um telhado, ou dando uma caminhada com eles.
É errado supor que as famílias do primeiro século tivessem um relacionamento sem amor, frio e apenas formal.
Embora nem todos os casais se amassem, muitos se queriam bem, e isso, na verdade, era o que se esperava deles (Ef 5.25; Tt 2.4).
E mesmo quando não houvesse muita afetividade entre pais e filhos, tinha que haver o respeito e reverência (Êx 20.12; Ef 6.1).
Quando a sociedade começou a passar por mudanças, o que inevitavelmente ocorre, alguns homens se sentiram meio inseguros.
Ao perceberem que as mulheres gregas e romanas gozavam de certas liberdades, começaram a temer que o mesmo pudesse acontecer às suas esposas, que eles consideravam simples propriedade deles.
É que eles haviam dado ao texto de Êxodo 20.17 a interpretação distorcida de que a mulher era comparável a uma casa, ou uma cabeça de gado.
Como sempre ocorre, o caráter dos homens variava de um para outro. Muitos eram pessoas boas, que conduziam bem a família.
E, como acontece em todas as eras, a maneira como eles se desincumbiam dessa tarefa dependia do caráter e da personalidade de cada um.
A ESPOSA E MÃE
Na cultura da família dos hebreus nos tempos bíblicos, a mulher era treinada desde a infância para se tornar esposa e mãe.
Durante séculos, a realização pessoal da mulher dependeu de seu sucesso no desempenho dessas funções.
Assim sendo, ela aprendia a cozinhar, a costurar, a cuidar dos filhos e a trabalhar nos campos, para que pudesse desempenhar seu papel de esposa da melhor maneira possível.
O limite de sua liberdade e da autoexpressão criativa que ela poderia exercitar dependia em parte de sua própria iniciativa, mas também da disposição do marido.
Algumas mulheres se limitavam às suas atividades domésticas, mas outras eram mais desenvoltas e conseguiram deixar sua marca na sociedade.
A mulher descrita em Provérbios 31 era uma dessas.
Percebe-se que ela estava longe de ser uma pessoa passiva.
Mesmo se a compararmos com os padrões modernos, temos que reconhecer que ela desenvolveu sua própria personalidade, e aproveitou todas as oportunidades que se lhe apresentaram.
Essa mulher tão elogiada administrava bem as servas em casa, geria um negócio bastante lucrativo, e ainda cuidava dos pobres e necessitados. Chegou até a lidar com compra e venda de imóveis.
A MULHER NA SOCIEDADE NOS TEMPOS BÍBLICOS
Embora algumas mulheres levassem uma vida restrita ao círculo familiar, não havia nenhuma lei divina obrigando-as a isso.
Muitas das limitações impostas ao grupo feminino da sociedade eram criadas por maridos autocratas, e reforçadas pelo fato de algumas mulheres se submeterem a elas.
Hás sociedades que a Bíblia enfoca, as mulheres não recebiam tratamento igual ao que era dado aos homens.
Se uma delas cometesse adultério, por exemplo, o marido poderia apresentar uma acusação formal contra ela (Nm 5.12-22).
Mas se fosse ele quem cometesse a infidelidade, ela não poderia fazer quase nada, pois dispunha de poucos recursos legais.
Se um homem, por qualquer motivo, quisesse divorciar-se de sua esposa, precisava apenas dar-lhe um “termo de divórcio” (Dt 24.1).
Segundo dizem alguns rabinos, eles podiam divorciar-se dela caso não gostassem da comida ou achassem que não cuidava bem da casa.
Mas a mulher mesma nunca poderia entrar com um processo de divórcio.
Quando Jesus veio, ele restaurou a igualdade entre os cônjuges, negando aos homens o direito de assim proceder (Mt 19.9).
Devido à proximidade que havia entre a mãe e os filhos, estes tinham grande afeição pela mãe.
Alguns dos relatos mais comoventes da Bíblia são os que retratam o amor e união existente entre uma mãe e seu filho. Isso explica o diálogo de Jesus com Maria, por ocasião das bodas de Caná (Jo 2).
Ela pede ao filho que faça algo, mas ele reluta em atender. Então, sem dizer palavra, ela se vira para os servos e diz: “façam o que ele disser; ele resolverá o problema.”
Ao que parece ela faz isso com base na suposição de que ele não iria decepcioná-la.
De modo geral, todo o ensino do Novo Testamento coloca a mulher e seu trabalho numa posição de elevada dignidade.
Naquela época, a função básica da mulher, embora não a única, era atuar dentro do lar.
E o apóstolo Paulo ensina que a mulher que cuida bem de seu lar (Tt 2.5), glorifica a Deus da mesma forma que uma pessoa da liderança da igreja que exerce bem o seu cargo.
OS FILHOS
Todos os casais desejavam ter filhos, que eram considerados um símbolo de status.
Os que não os tinham eram olhados com suspeitas e com piedade. Por que razão Deus não os havia abençoado dando-lhes filhos?
Então, a culpa pelo fato de um casal não ter filhos era sempre atribuída à mulher. Portanto, a estéril era vista como uma pessoa frustrada, a quem faltava a bênção de Deus.
Além de desejar muito ter filhos, os casais só se davam por satisfeitos quando conseguiam pelo menos um filho do sexo masculino.
Assim sendo, era inevitável que as meninas se sentissem menos queridas que os meninos.
Aliás, havia até uma oração que os judeus costumavam recitar da qual constava uma frase de agradecimento a Deus por não terem nascido mulher.
A RESPONSABILIDADE DE CUIDAR DOS FILHOS
Ho primeiro século, o divórcio não era muito comum entre os judeus, mas, quando ocorria uma separação, geralmente a mãe ficava com a custódia das filhas e o pai, com a dos filhos.
Mas havia casos em que o juiz modificava essa prática tradicional.
A maioria dos pais levava muito a sério a responsabilidade de criar bem os filhos.
Os judeus em geral viam a função de educar corretamente os filhos como um ato de obediência a Deus e uma forma de revelar sua competência.
E muitos conseguiam atingir seu objetivo, mas, como em tudo, havia também os que falhavam.
AS ATIVIDADES DOS FILHOS
Nos primeiros anos de vida da criança, ela ficava inteiramente aos cuidados da mãe. Mas o menino, assim que estivesse um pouco mais crescido, passava a ser instruído pelo pai, que tomava providências para que ele aprendesse um ofício.
Os rabis achavam que, se o pai não ensinasse uma profissão ao filho, estaria amaldiçoando-o. Ao mesmo tempo, a menina ia aprendendo os afazeres domésticos, sob a supervisão da mãe.
Geralmente, as crianças tinham a obrigação de executar pequenas tarefas em casa, desse modo aprendiam os serviços, e adquiriam senso de responsabilidade.
Elas tratavam dos animais, cuidavam da horta, remendavam roupas e até cozinhavam.
As necessidades da vida diária tomavam muito tempo das pessoas, e os pais então tinham o cuidado de ensinar os serviços aos filhos.
Mas a vida deles não era sem divertimentos. Podiam ter seus animais de estimação, e apreciavam muitas brincadeiras.
AS BRINCADEIRAS DAS CRIANÇAS
Brincavam de imitar casamentos, funerais e outras cerimônias do seu povo (Mt 11.16,17).
É provável que não possuíssem muitos brinquedos, mas apenas uns poucos feitos pelos pais.
Havia muitos apitos, chocalhos, bem como brinquedos de madeira providos de rodinhas e semelhantes a carrinhos. Além disso tinham também diversos tipos de bolas, com as quais improvisavam jogos.
É possível que tivesse ainda balanços fixados a galhos de árvores.
Tinham também bonecas feitas de pano ou de pedaços de madeira, algumas delas com braços móveis, presos ao corpo por barbantes passados pelo interior da boneca.
E existiam também os bonecos tipo marionete, com aberturas na parte de trás para se manejar os braços e pernas do fantoche.
Outro tipo de brinquedo que possuíam eram pequenas peças de mobília e vasilhas para brincar com as bonecas.
Havia também jogos com pequeninos ossos de animais semelhantes aos que jogamos com pedrinhas.
Algumas crianças tinham bolinhas de argila, que lembravam nossas bolinhas de gude, e ao que parece também brincavam de amarelinha, pois já se encontraram em pedras de calçamentos marcas semelhantes às usadas nessa brincadeira.
Alguns tinham arcos (que rodavam pelo chão ou faziam girar em volta do corpo).
Muitas famílias tinham tabuleiros para jogos. O xadrez já existia na época, bem como o jogo de dados.
E além de todas essas coisas, as crianças ainda criavam suas próprias brincadeiras e disputas esportivas, participavam de competições de arco e flecha e luta romana.
Muitos se tornaram habilidosos no manejo do estilingue, certamente procurando imitar o exemplo de Davi.
Mão sabemos ao certo até onde eles adotavam os jogos dos gregos.
Sabemos que o boxe já era conhecido, e que se praticava também um esporte semelhante ao jóquei, do qual participavam inúmeras crianças.
OS CUIDADOS DOS PAIS COM OS FILHOS
Os pais de um modo geral tinham muito orgulho de seus filhos.
Hoje, como nos tempos bíblicos, as crianças ajudam nas tarefas rotineiras da casa. E, portanto, desejavam que atingissem a plena maturidade.
É verdade que os casais queriam muito a seus filhos (SI 127.3-5), mas isso não quer dizer que não os castigassem quando se fazia necessário (Pv 22.15).
O livro de Provérbios retrata bem essa preocupação dos pais e as dificuldades que tinham para criá-los bem.
Criar filhos nunca foi tarefa fácil como bem o demonstra a história de Caim e Abel (Gn 4.8).
Contudo, com a graça de Deus, nada é impossível. Por outro lado, em certos casos, os pais poderiam até matar um filho (Lv 20.9).
Mas, ao que parece, isso não acontecia com muita frequência. E havia ainda o fato de que alguns pais vendiam os filhos como escravos (Êx 21.7; Gn 31.15).
As crianças judias viviam numa sociedade pluralista.
Sofriam influências de diversas culturas, e mais cedo ou mais tarde tinham que decidir que estilo de vida iriam seguir, um bom exemplo disso é o apóstolo Paulo, uma pessoa que se formou em meio a diversas correntes culturais.
Ele tinha dois nomes, para seus amigos judeus era “Saulo”, um nome muito admirado entre os hebreus. Mas seus amigos gentios o chamavam de “Paulo”, que corresponde ao seu nome em grego.
Timóteo foi outro que viveu esse dilema quando criança. O pai dele era grego, e a mãe, judia (At 16.1-3).
É provável que eles não tivessem chegado a um acordo sobre como iriam criá-lo.
Mas, felizmente, ele passava mais tempo com a mãe, que era crente.
Os pais apreciavam muito seus filhos, mas nem todo mundo gostava de ter crianças ao seu redor.
É o que demonstra a atitude dos discípulos de Jesus ao procurar afastá-las dele (Lc 18.15-17). Mas o Senhor as acolheu bem, e depois apresentou-as como exemplo da verdadeira fé.
A Bíblia dá muita importância a uma criação adequada. Quando os pais são desonestos e levianos, as consequências disso passam a seus descendentes sendo percebidas em várias gerações (Êx 20.5).
O segredo do sucesso das famílias judias era o fato de criarem os filhos com amor e coerência (Pv 22,6).
OS FAMILIARES
Os parentes mais chegados para uma criança eram seus irmãos. Alguns deles se davam muito bem, como era o caso de Tiago e João.
Mas outros tinham uma relação mais conflituosa. Um exemplo disso é a atitude dos irmãos e irmãs de Jesus para com ele (Jo 7.5; Mt 13.55).
De um modo geral, eles não acreditavam em Cristo, embora mais tarde viessem a crer que ele era mesmo o Filho de Deus (At 1.14).
Durante muito tempo, grande parte das famílias hebreias sempre foi bem numerosa. Além disso, os parentes moravam todos numa mesma localidade.
A partir do ano 586 A. C. a nação começou a sofrer invasões, seguidas de deportações e perseguições, de modo que eles foram-se espalhando por outras terras.
Mas até à época da destruição do templo, em 70 A. D., e da expulsão dos judeus de Jerusalém, ocorrida no ano 135 A. D., ainda havia muitos judeus na Palestina.
E a despeito de todas as dificuldades, a família sempre ocupou uma posição importante na vida desse povo.
Os idosos, sempre que possível, procuravam prover o seu próprio sustento. Mas, se não o conseguissem, os filhos eram responsáveis por eles (2 Co 12.14).
O forte sentimento de união que permeava a família deve ter sido a causa de ela gozar de boa estabilidade.
Por outro lado, pode ter ocorrido o contrário: a estabilidade da família levou as pessoas a se manterem unidas a seus familiares.
AS VIÚVAS
Em alguns casos, nos tempos bíblicos, a família tinha que sustentar a avó, quando esta enviuvava.
Algumas viúvas eram muito pobres, mas outras recebiam boas heranças.
Quando um homem morria, normalmente o herdeiro era o filho mais velho, que também tinha a responsabilidade de sustentar a mãe.
A Bíblia contém muitas advertências severas para quem tentasse defraudar uma viúva (Ez 22.7).
Deus se apresenta na Bíblia como protetor das viúvas (SI 68.5).
Entretanto, ainda havia pessoas que as espoliavam. E alguns dos que mais faziam isso era justamente os que passavam por mais religiosos.
Jesus acusou diretamente os fariseus de agirem assim, pois montavam esquemas dentro da estrutura religiosa com a finalidade de “devorar” as casas das viúvas (Mc 12.40).
Além disso, eles se recusavam a sustentar a mãe idosa, apelando para o “corbã” Diziam que haviam contribuído para o templo, e que, portanto, o templo é que devia sustentar seus pais (Mc 7.11).
Na maior parte dos casos, a melhor coisa que podia fazer uma mulher que enviuvasse era casar-se de novo.
Se ela não tivesse filhos, por lei, o irmão do marido era obrigado a casar com ela. E se tivessem um filho do sexo masculino, a criança deveria receber o nome do falecido.
Ao que parece, nos tempos de Cristo, essa lei ainda vigorava (Dt 25.5-10; Mt 22.23,24).
De qualquer forma, as providências a serem tomadas para o amparo das viúvas devem ter sido negligenciadas ou então eram insuficientes, pois a igreja primitiva, por exemplo, teve que assumir o sustento das viúvas que havia nela (At 6.1).
E infelizmente isso veio trazer conflitos e provocar divisões entre os crentes.
Quando Paulo instrui a Timóteo sobre a forma de cuidar das viúvas, faz algumas observações bem práticas (1 Tm 5.11).
Uma mulher só era considerada “viúva” mesmo, quando tinha pelo menos 60 anos de idade, boa reputação, e quando não havia nenhum parente para cuidar dela, só assim podia ser inscrita.
Então o ensino bíblico determina claramente que a família devia cuidar atentamente das vovós que eram viúvas. A rejeição dessa responsabilidade era considerada uma atitude ímpia (Tg 1.27).
Nos tempos do Antigo Testamento, ao que parece, havia uma vestimenta própria para as viúvas, pois vemos que Tamar, a nora de Judá, usara as “vestes de sua viuvez” (Gn 38.14).
Contudo não sabemos como era essa roupa, e não encontramos evidências de que as mulheres do novo Testamento conservassem essa prática.
A IGREJA NOS LARES
O conceito de casa era sagrado para a maioria dos judeus. Ela era o seu pequeno reino, fosse humilde ou dotada de riquezas.
E quando nasceu a igreja do novo Testamento, o lar ainda mantinha essa posição proeminente.
Muitas das pessoas que criam em Cristo traziam consigo toda a família.
Como fez Cornélio, cuja “casa” era bem grande. Além dos parentes ele convidara os amigos íntimos para ouvir a pregação de Pedro (At 10.7,24).
No caso de Lídia, também, ela e toda a sua casa se converteram (At 16.15), e o mesmo se deu com o carcereiro de Filipos e sua família (At 16.31-34).
Tratando-se de famílias ricas, a palavra “casa” compreendia também domésticos, empregados e talvez escravos.
Em alguns casos, a fé cristã dividiu famílias, mas também era muito comum famílias inteiras aceitarem o evangelho em conjunto.
Embora não fosse muito fácil manter a santidade do lar, os cristãos primitivos se esforçaram muito nesse sentido.
Sempre que possível, eles realizavam suas atividades nos lares (At 2.46).
Quando Paulo citou as pessoas que havia batizado, mencionou a casa de Estéfanas (1 Co 1.16). Depois, ao escrever a Timóteo, mandou uma saudação especial para a casa de Onesíforo (2 Tm 4.19).
E as igrejas sediadas em lares continuaram a existir ainda durante muitos séculos, e hoje ainda existem, de muitas formas.
Certa vez, quando Jesus dava aos discípulos ensinamentos sobre o céu, usou a figura de um “dono da casa” (Lc 13.25). Ali ele diz que o Dono da casa do céu um dia irá trancar a porta.
Os que houvessem se tornado crentes estariam incluídos na família de Deus (Gl 6.10; Ef 2.19).
Dificilmente encontraremos outro termo que defina tão bem o relacionamento existente entre o povo de Deus.
O APEGO À FAMÍLIA
Ainda na primeira geração depois de Cristo, muitas famílias cristãs e judias foram expulsas de sua pátria.
Naquele período, inúmeros judeus foram torturados e mortos, principalmente por ocasião da queda de Jerusalém, no ano 70 A. D., e quando da perseguição desencadeada por Nero.
Em meio a circunstâncias tão difíceis e adversas, deve ter sido muito difícil manter a unidade familiar.
Mas nesse contexto de tensão e sofrimento, aqueles cristãos receberam dos líderes da igreja algumas orientações específicas para a família.
- Eles ensinaram que o homem devia ser mesmo o cabeça do lar (Ef 5.22);
- Lembravam aos casais que deviam amar-se um ao outro (Tt 2.5; Ef 5.25);
- Exortavam os filhos a obedecer aos pais (Ef 6.1);
- Instruíam os pais a tratar os filhos com justiça (Cl 3.21).
Além disso, eles deram instruções específicas também aos demais líderes.
Recomendaram-lhes que não deixassem que seu envolvimento na obra de Deus os levasse a negligenciar a família.
Quem tivesse problemas sérios em casa, não estaria qualificado para ocupar uma posição de supervisor ou diácono na igreja (1 Tm 3.4,5,12).
Os princípios ensinados por Cristo eram de importância vital para o fortalecimento da família.
Ha prática do amor, da aceitação mútua, da paciência e do perdão, os pais seriam mais ternos e bondosos, e os filhos mais obedientes.
Esse foi nosso estudo sobre a família nos tempos bíblicos.