Como Pregar Cristo no Antigo Testamento?

Você já deve ter ouvido a expressão “pregação Cristocêntrica”, que é um sermão com foco na pessoa de Cristo. Quando se trata de pregar no Novo Testamento, tudo bem, mas como fazer uma pregação Cristocêntrica apresentando Cristo no Antigo Testamento?

A necessidade de pregar Cristo tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento

Especialistas em homilética provenientes de diversas origens cristãs defendem a pregação de Cristo não só no Novo, mas também no Antigo Testamento.

Por exemplo, o autor católico romano Domenico Grasso diz: “O objeto e conteúdo da pregação é Cristo, o Verbo em quem o Pai expressa a si mesmo e comunica sua vontade ao homem.”

Georges Florovsky, da Igreja Ortodoxa Oriental, assevera: “Os ministros são comissionados e ordenados na igreja precisamente para pregar a Palavra de Deus. Eles recebem termos fixos de referência, ou seja, o evangelho de Jesus Cristo, e têm compromisso com essa mensagem única e perene.”

O homilético luterano M. Reu diz: “É necessário que o sermão seja cristocêntrico, não tendo ninguém
mais como centro e conteúdo a não ser Cristo Jesus.”

O professor de homilética reformado T. Hoekstra insiste: “Na exposição das Escrituras para a congregação, o pregador… tem de demonstrar que existe um caminho para o centro até mesmo do ponto mais longínquo da periferia. Um sermão sem Cristo não é sermão.”

E o pregador batista Charles Spurgeon diz: “Prega Cristo, sempre e em todo lugar. Ele é o evangelho todo. Sua pessoa, seu ofício e sua obra devem ser nosso tema único que a tudo abarca”.

Autores de várias tradições testemunham sobre a necessidade de se pregar Cristo.

O que Significa Pregar Cristo no Antigo Testamento?

Com base nesse testemunho do Novo Testamento, podemos delinear os contornos do que significa pregar Cristo. A fim de deixar clara a questão, talvez seja bom declarar primeiro o que não é pregar Cristo no Antigo ou Novo Testamento.

Pregar Cristo não é meramente mencionar o nome de Jesus ou Cristo no sermão. Não é só identificar Cristo com Yahweh do Antigo Testamento ou como Anjo de Yahweh ou o Comandante do Exército do Senhor ou a Sabedoria de Deus.

Não é simplesmente apontar a distância para Cristo ou “traçar uma linha até Cristo” por meio da tipologia.

Pregar Cristo é tão amplo quanto pregar o evangelho do reino de Deus. E só olhar para uma concordância bíblica para ver quantas vezes o Novo Testamento se refere ao “evangelho do reino”, “o evangelho de Cristo”, o “evangelho de Jesus Cristo”, “o evangelho da graça de Deus” e “o evangelho da paz”.

Nesses termos, as duas características se destacam. Pregar Cristo é boas-novas para o povo, e pregar Cristo é tão amplo quanto pregar o evangelho do reino. Contanto que o reino esteja ligado ao seu Rei, Jesus.

Mais especificamente, pregar Cristo é proclamar alguma faceta da pessoa, da obra ou do ensino de Jesus, para que as pessoas possam crer, confiar, amar e obedecer a ele. Olharemos mais de perto cada um desses aspectos.

A Pessoa de Cristo

A distinção entre a pessoa e a obra de Cristo é bastante comum na teologia sistemática e na literatura sobre a pregação de Cristo.

A distinção jamais deverá nos conduzir a uma separação entre a pessoa e a obra de Cristo, é claro, pois esses dois aspectos estão inseparavelmente interligados.

Ainda assim, a distinção tem seu mérito ao destacar determinadas facetas do Messias. O próprio Jesus perguntou aos seus discípulos: “Quem dizeis que eu sou?” A resposta de Pedro, “Tu és o Cristo, Filho do Deus vivo”, foi uma revelação do próprio Deus, disse Jesus (Mt 16.16,17).

Saber quem era Jesus (o Messias, Filho de Deus) ajudava os discípulos a compreender algo do profundo significado de sua obra de pregação e cura, morte e ressurreição.

Na verdade, João começa seu evangelho com a identidade da pessoa de Cristo, dizendo: “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou.” (Jo 1.18).

A pessoa de Jesus Cristo, o Filho unigênito de Deus, é o clímax da revelação de Deus sobre si mesmo. Em Jesus vemos Deus. Ele tornou Deus conhecido a nós.

Semelhantemente, a Epístola aos Hebreus começa com a identidade da pessoa de Cristo: “Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser” (1.3).

Ao pregar Cristo no Antigo Testamento, podemos muitas vezes ligar a mensagem do Antigo Testamento com alguma faceta da pessoa de Cristo: o Filho de Deus, o Messias, nosso Profeta, Sacerdote e Rei.

A obra de Cristo

Ao pregarmos Cristo, podemos também focalizar alguma faceta da sua obra. O evangelista João vai da pessoa de Jesus para algum dos “sinais” (obras) que ele fez, “para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.31).

Em geral, a obra de Cristo é associada à sua obra de reconciliar-nos com Deus (expiação) mediante seu sofrimento e sua morte. Mas podemos também pensar nos milagres de cura (sinais da presença do reino), sua ressurreição (vitória sobre a morte), sua ascensão (o Rei entronizado) e sua volta (o reino vindouro).

Ao pregarmos Cristo a partir do Antigo Testamento, podemos muitas vezes ligar a mensagem do texto à obra redentora de nosso Salvador e ao reinado justo de nosso Senhor.

O ensinamento de Cristo

Embora o ensino de Cristo pudesse ser considerado parte da sua obra, seu ensino muitas vezes passa despercebido nas discussões a respeito da pregação de Cristo a partir do Antigo Testamento.

Por causa de sua importância para o nosso tópico, consideraremos separadamente o ensino de Cristo.

A importância do ensino de Jesus vem à tona com a própria declaração de Jesus: “Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos” (Jo 8.31,32).

A importância crucial do ensino de Jesus aparece especialmente na ordem aos discípulos: “Fazei discípulos de todas as nações, batizando-os… ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mt 28.19,20).

O ensino de Jesus é indispensável componente da pregação de Cristo a partir do Antigo Testamento, porque o Antigo Testamento era a Bíblia de Jesus e ele baseava todo seu ensino nele.

O ensino de Jesus incluía não apenas ensinos sobre ele mesmo (Filho do Homem, Messias), sua missão e sua volta, como também ensinos sobre Deus, o reino de Deus, a aliança de Deus, a lei de Deus (por ex., Mt 5-7), e assim por diante.

Para resumir, podemos definir “pregar Cristo no Antigo Testamento” como sendo pregar sermões que integrem de modo autêntico a mensagem do texto com o clímax da revelação de Deus na pessoa, na obra e no ensino de Jesus Cristo, conforme revelado no Novo Testamento.

Razões para pregar tanto no Antigo Testamento quanto no Novo

Pregar Cristo na bíblia

Apesar dessas grandes dificuldades, há muitas razões para os pastores pregarem a partir do Antigo Testamento:

  • O Antigo Testamento faz parte do cânon cristão;
  • O Antigo Testamento revela a história da redenção que conduz a Cristo;
  • Ele proclama verdades não encontradas no Novo Testamento;
  • O Antigo Testamento nos ajuda a entender o Novo Testamento;
  • O Antigo Testamento evita uma compreensão errada do Novo Testamento
  • E ele oferece uma compreensão mais completa de Cristo. Para concluir este capítulo, discutiremos as primeiras cinco razões.

10 Passos do texto do Antigo Testamento para um sermão Cristocêntrico

Esse é o método de Sidney Greidanus do seu livro “Pregando Cristo a partir do Antigo Testamento”. Vejamos, então, os 10 passos que Greidanus usa para pregar Cristo no Antigo Testamento:

  1. Selecione uma unidade textual tendo em vista as necessidades da congregação.
  2. Leia e releia o texto no seu contexto literário.
  3. Esboce a estrutura do texto.
  4. Interprete o texto no seu próprio contexto histórico.
  5. Formule o tema e o objetivo do texto.
  6. Entenda a mensagem no contexto do cânon e da história redentora.
  7. Formule o tema e o objetivo do sermão.
  8. Selecione uma forma adequada para o sermão.
  9. Prepare o esboço do sermão.
  10. Escreva o sermão em estilo oral.

Leia também: Princípios para uma pregação Cristocêntrica.

Equipe Redação BP

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