A Essência da Natureza Missionária de Deus
A essência da natureza missionária de Deus se revela páginas da Bíblia, moldando a narrativa da redenção. Desde o chamado ousado de Abrão até a ativa participação de Deus na missão de reconciliação, vemos a profundidade dessa essência divina.
Neste estudo, vamos mergulhar nos ensinos da Palavra para compreender a base da missão transcultural, examinando que Deus é o próprio modelo missionário supremo.
1. A Natureza Missionária de Deus na Chamada de Abrão
A passagem que relata o chamado de Abrão, encontrada em Gênesis 12:1-3, oferece uma visão da natureza missionária intrínseca de Deus. A expressão “Sai-te da tua terra” não é apenas uma instrução, mas uma ordem divina que convoca Abrão a embarcar em uma jornada para um destino ainda desconhecido (Hebreus 11:8).
Este chamado transcende os limites geográficos, transformando-se em um convite para uma missão que moldará não apenas a vida de Abrão, mas o destino espiritual de toda a humanidade.
Junto com a ordem, surge uma promessa extraordinária: “em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12:3). Essa promessa não é meramente um favor a Abrão e sua descendência, mas uma declaração de bênção espiritual a todas as famílias do mundo. Aqui, vemos o coração missionário de Deus, que escolhe um indivíduo para ser um canal de bênção para a humanidade.
O apóstolo Paulo, ao interpretar essa promessa, destaca sua conexão com o Evangelho revelado em nosso Senhor Jesus Cristo, o descendente legítimo de Abraão (Gálatas 3:8,16). Essa genealogia divina revela que a bênção prometida a Abraão não é apenas para uma nação específica, mas para toda a humanidade. Assim, de uma única família, Deus orquestrou a provisão da salvação para o mundo inteiro (Gálatas 3:16; 4:4).
Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo.
Gálatas 3:16
A conclusão inequívoca é que a origem das Missões Transculturais está profundamente enraizada na natureza missionária de Deus, revelada na chamada de Abrão. Esta missão transcende fronteiras, abraçando todas as nações, cumprindo a promessa de bênção espiritual e estabelecendo a base para a expansão do Evangelho por meio das gerações.
2. A Missão como Atividade de Deus no Mundo
Gênesis 17 proporciona uma visão única do Deus soberano, transcendente, e Sua interação com um ser humano, revelando a essência da missão divina.
As palavras “O Senhor apareceu a Abrão e disse”, nos transportam para um momento em que Deus, em Sua soberania, se revela ao homem.
Nesse encontro, percebemos o zelo apaixonado de Deus por Sua promessa, manifestado na alteração do nome de Abrão para Abraão. Não se trata de uma mudança sem propósitos, mas um ato divino que transcende as limitações humanas, uma aliança que vai além das fronteiras geográficas (Gn 12:1 cf. 17:5,8).
Aqui, torna-se evidente que a missão não é apenas uma atividade delegada a intermediários humanos, mas uma narrativa na qual Deus assume o papel central. Ele, e somente Ele, é o maior protagonista das atividades missionárias.
O Deus que se relaciona com Abraão, comprometendo-se incondicionalmente, é o mesmo que continua a agir no mundo pela Sua graça redentora.
A troca de nome de Abrão aponta para a universalidade da missão divina. O nome “Abraão” não está mais vinculado a uma localidade específica; agora é um testemunho da promessa que abraça toda a humanidade.
O ápice da missão divina está na obra de reconciliação que Deus realiza pelo Seu Filho, conforme expresso por Paulo em 2 Coríntios 5:19.
Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação.
2 Coríntios 5:19
Aqui, a missão se revela como a manifestação da graça divina para restaurar a comunhão entre Deus e a humanidade. Deus não apenas envia, mas Ele mesmo age para reconciliar o mundo consigo mesmo.
3. O Modelo Missionário
Na busca de um modelo de missão para a Igreja contemporânea, não devemos nos fundamentar em figuras ilustres da história eclesiástica, mas sim na própria essência de Deus. Embora homens exemplares mereçam atenção e possam enriquecer nossa visão missionária, é crucial considerar que o modelo fundamental se encontra no próprio Deus.
Ao buscar um modelo de missão básica para a Igreja, devemos voltar nossos olhos para as páginas do Antigo Testamento, onde a natureza missionária de Deus é vividamente demonstrada (Gênesis 3-9; Isaías 55.4).
Quando examinamos a história do Gênesis, vemos Deus engajando-se na missão de redenção após a queda da humanidade. Desde a promessa do descendente que esmagaria a cabeça da serpente (Gn 3.15) até o estabelecimento da aliança com Noé após o dilúvio (Gn 9), testemunhamos a persistência divina em buscar, salvar e restaurar a comunhão perdida.
Isaías 55:4, por sua vez, apresenta Deus como um modelo de missão definitiva:
Eis que chamarás a uma nação que não conheces, e uma nação que nunca te conheceu correrá para ti, por amor do SENHOR teu Deus, e do Santo de Israel; porque ele te glorificou.
Aqui, não vemos apenas a universalidade da missão divina, mas também a irresistível atração que ela exerce sobre aqueles os chamados.
Quando adotarmos esse modelo divino, devemos ter uma visão missionária que transcende fronteiras culturais e abraça a diversidade de povos. Não é apenas um chamado à ação, mas uma profunda compreensão da motivação por trás da missão: a graça redentora que busca reconciliar a humanidade consigo mesma.
Então, que, ao olharmos para o nosso modelo supremo, sejamos impulsionados a levar adiante a missão divina com humildade, compaixão e uma visão abrangente do chamado que envolve a totalidade da criação.