Política e fé: É possível separar a política de sua fé?

Há quem defenda que não só é possível separar os dois, como é imperativo. Política e fé não se misturam. E não deveria. Política e políticos, afinal, não salvam almas, então por que desperdiçar tempo, energia e dinheiro valiosos? 

Em vez disso, eles proclamam, os cristãos devem canalizar tudo isso para o evangelismo, que tem mais valor eterno. Esse grupo de crentes, no entanto, corre o possível risco de se tornar ignorante sobre questões sociais e, portanto, incapaz de atender às necessidades espirituais daqueles que lutam com elas.

Por outro lado, há aqueles que parecem não conseguir fazer o delineamento entre política e fé e, francamente, não querem. Para eles, sua política e sua fé são sinônimos e se fundem de modo a torná-los praticamente indistinguíveis. 

Este campo de crentes, portanto, tende à idolatria política e à manipulação fácil, pois depositam sua confiança e esperança nos políticos e na política, e não em Deus.

Ambos os extremos podem ser, e têm sido, divisivos e perigosos, particularmente dentro do Corpo de Cristo, onde os crentes são chamados a ser unidos, ter uma mente e viver em paz e em harmonia uns com os outros (1 Pedro 3:8, Romanos 12:16,18, Filipenses 2:2).

Mas com a lacuna cada vez maior sobre ideologias sobre meio ambiente, raça, identidade de gênero, controle de armas, casamento e o início da vida, somente para citar alguns, está se tornando cada vez mais difícil para os crentes não serem afetados e então espera-se que permaneça neutro. 

No entanto, é quase impossível não ser arrastado para o turbilhão da política partidária, que está consumindo nosso país hoje.

Então, o que um cristão sincero e íntegro deve fazer?

Primeiro, porém, quero olhar para a bíblia sagrada, para ver quais são as “plataformas não-partidárias” de Deus. Qual é a Sua “agenda” sobre como devemos promover a melhoria de nossa sociedade, nosso mundo e, mais importante, nosso “próximo”, baseado no segundo maior mandamento?

“E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. (Mateus 22:39)

1. Justiça

A justiça e a defesa dos pobres e oprimidos, dos aflitos e indigentes, dos sem voz e esquecidos, dos estrangeiros e marginalizados, dos órfãos e das viúvas, as quais são nossos “próximos” a quem devemos amar como a nós mesmos, está no topo da mente e do coração de Deus. 

O que quer que possamos fazer para ajudar a melhorar a situação e a vida desses infelizes, que contudo, pode envolver a promulgação de políticas nos níveis local, estadual e federal, traz glória e honra a Deus (Salmos 82:3, Provérbios 14:31, 31:8- 9; Isaías 1:17; Jeremias 22:3; Tiago 1:27).

2. Paz

Nossos bairros, cidades e nação deveriam ser lugares melhores, por causa de nossa presença e do nosso testemunho ali. 

Como pacificadores, aqueles que ativamente tentam reconciliar as pessoas com Deus e entre si.

Contudo, não devemos ser a causa de divisões, mas, em vez disso, oferecer a nós mesmos como exemplos por meio de nossa obediência ao nosso governo e suas autoridades. (Jeremias 29:7; Romanos 12:18)

3. Vida

Deus não trata de destruir, danificar ou desumanizar a vida, visto que Ele é o autor dela. Como portadores de imagem, todas as vidas importam, e Deus valoriza muito cada pessoa, os nascidos e os não nascidos, independentemente de raça ou etnia.

4. Governo

Acredite ou não, o governo é idéia de Deus; portanto, o governo é algo bom. Está em vigor para o nosso bem-estar social. Deus escolhe usar governos humanos, para realizar Sua vontade na esfera civil. 

A base para isso é encontrada em Gênesis 9:5-6, onde Deus dá diretrizes para lidar com assassinos, depois que Caim matou Abel, o que implica que as pessoas coletivamente devem estabelecer órgãos de governo para administrar a justiça.

Os governos são tão importantes que Deus nos diz para obedecê-los e não nos rebelarmos contra eles; a menos que suas leis sejam contrárias às Dele. Ele também nos ordena a orar por governantes (Romanos 13:1-2, 1 Timóteo 2:2).

4 passos para avaliar a política por meio da fé

1. Seja firme em nossa fé

Para os crentes, nossa fé vem em primeiro lugar. Isso deve ser óbvio, mas há quem faça o contrário. A política vem em primeiro lugar. 

Diz o pastor Andy Stanley: “Avalie a política por meio de sua fé, em vez de criar uma versão de fé que apoie sua política”.

Se nossa fé for sólida e intransigente, construída sobre o fundamento da imutável Palavra de Deus, então, ela informará ou determinará nossa política. 

A Bíblia, sobretudo, fornece os princípios orientadores para tudo em nossas vidas, incluindo engajamento político adequado e fiel. 

Nossa fé, então, deve, por todos os meios, influenciar nossa votação, plataforma e prioridades políticas.

Sem uma fé firme, nos abrimos à manipulação, indecisão e compromisso.

2. Avalie criticamente e ore por cada partido

A bandeira de nenhum partido político se alinha 100% com a vontade de Deus, diz o pastor Timothy Keller. Cada partido defende questões que os cristãos podem, ou não, apoiar.

Tim Keller, diz que intencionalmente, não defende um partido em detrimento de outro, por medo de que isso possa afastar os de ambos os lados, de irem à igreja. 

E quanto, a qual partido apoiar, ele oferece isso: “Apoie qualquer partido em que você acha que pode fazer o melhor trabalho, como cristãos. E seja crítico, não venda sua alma.”

Como cristãos evangélicos, devemos continuamente avaliar e orar para os partidos, suas propostas e políticas, e nos alinhar com o que for mais próximo e verdadeiro do Evangelho e do ensino bíblico.

3. Envolver-se ou não envolver-se na política?

Embora em nenhum lugar da bíblia sagrada, sejamos exortados ou ordenados a nos envolver em política, além de pagar impostos, (Marcos 12:17). Nem há versículos que proíbam isso. 

Dito isso, existem na verdade exemplos bíblicos que comprovam a necessidade do envolvimento cristão na esfera política.

“No Antigo Testamento, por exemplo, José e Daniel serviram em administrações estrangeiras e usaram sua influência para implementar políticas que beneficiassem a sociedade. 

No caso de José, durante uma fome devastadora (Gênesis 45:9-12), Deus usou sua posição no governo egípcio para proteger e sustentar sua família extensa, que se tornaria, mais tarde, a nação de Israel. 

A rainha Ester usou sua influência no governo persa para salvar o povo judeu de um genocídio sancionado pelo Estado (Ester 8).

Os cristãos, portanto, têm a liberdade de se envolver (ou não) na política, de usar seus dons e talentos que Deus lhes confiou ali, assim como fariam em qualquer esfera, negócio ou indústria. 

No entanto, há uma grande necessidade de crentes conservadores, de mentalidade bíblica e tementes a Deus servirem como políticos, assessores, em conselhos municipais e conselhos escolares, para serem “sal e luz” e “embaixadores de Cristo” (Mateus 5:13-16, 2 Coríntios 5:20). 

Nosso mundo distorcido precisa ouvir opiniões contrárias, e políticas sugeridas que se alinhem mais aos propósitos de Deus.

“Os cristãos devem… alavancar sua influência para o avanço de leis, políticas e práticas que contribuam para o florescimento de nossos vizinhos”, diz Closson.

4. Votar um dever de todo cidadão e cristão

Embora, nem todos nós sejamos chamados a concorrer, no mínimo, devemos votar nas eleições locais, estaduais e federais (Romanos 13:6). 

Através do voto, é possível influenciar o resultado de uma eleição e, portanto, uma questão. Além disso, “ao votar”, diz Closson. 

“Os cristãos estão confiando sua responsabilidade de “portar a espada” a funcionários que governarão em seu nome. Visto dessa perspectiva, votar é uma questão de administração; o fracasso em votar é um fracasso em exercer a autoridade dada por Deus”.

Como cidadão cristão, não devemos apenas votar, mas também, orar pelas autoridades governamentais, que é uma das diretrizes de Deus. 

Afinal, todos estão lá no poder, pela graça e designação de Deus. Quer saibam ou não, eles são Seus ministros, estabelecidos para administrar a justiça civil (Daniel 2:21, 1 Timóteo 2:1-2). E eles precisam de nossas orações!

Quer nos envolvamos na esfera política ou não, existe a inevitabilidade de nos envolvermos em algum momento em conversas políticas.

Como os cristãos devem lidar com conversas sobre política?

Com sabedoria e cuidado. Novamente, nosso objetivo é preservar a unidade, tanto com nossos irmãos quanto com o incrédulo.

Mas, porque a unidade cristã é mais profunda do que qualquer semelhança mundana que possamos compartilhar, ela transcende nossas divergências. 

A unidade cristã, contudo, não depende de como votamos, mas de um compromisso mútuo de seguir a Cristo em obediência, amor e busca de retidão e justiça. 

Você consegue imaginar o impacto em nossa nação e no mundo, se a igreja fosse verdadeira e totalmente unida? 

Que testemunho inegável, imparável e invencível do poder transformador do evangelho!

Em suma, podemos discordar politicamente, mas ainda assim amar incondicionalmente.

Exercitando, portanto, os frutos do Espírito, e, acrescentando a isso, tolerância e respeito, especialmente, quando um tópico sobre o qual você pode ter uma visão forte e/ou oposta é abordado.

Acima de tudo, lembre-se de quem você representa antes de abrir a boca. Você é o embaixador de Deus, falando em Seu nome, não em seu próprio nome. 

”A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um”. (Colossenses 4:6)

E, quando necessário, fique quieto. 

“Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar”(Tiago 1:19)

Conclusão

Separar a política da fé é quase impossível. Embora saibamos que Jesus e as Boas Novas são a única esperança para este mundo, isso não significa que devemos nos retirar completamente ou nos envolver demais na política. 

Significa que usamos sabedoria e discernimento, quando se trata de nossas tendências políticas. 

Nós nos envolvemos com e em nosso mundo, incluindo sua cultura e política, através das lentes de nossa fé, nunca comprometendo ou “vendendo nossas almas”, mas sendo testemunhas e embaixadores fiéis de Deus e Seu reino, seja como for para cada crente.

Equipe Redação BP

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