Nova Jerusalém em Apocalipse: Estudo à Luz do Antigo e do Novo Testamento

As Escrituras fazem menção da Nova Jerusalém como “a Jerusalém que está em cima” (Gl 4.26), “a cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial” (Hb 12.22), e “a Santa Cidade” que “descia do céu, da parte de Deus” (Ap 21.2, 10). O Antigo Testamento se refere a ela como a morada de Deus, enquanto que no Novo Testamento é também a habitação celestial dos santos. As estruturas sagradas da cidade celestial foram modelos para o Tabernáculo e o Templo terrenos. Quando “o tabernáculo de Deus está com os homens” (Ap 21.3), será tanto um Templo físico (Ap 21.12-21) como espiritual (Ap 21.22).

Dito isso, vamos explorar o significado da Nova Jerusalém na Bíblia e descobrir o futuro glorioso que nos está preparado.

A Nova Jerusalém e o Significado no Antigo Testamento

O Antigo Testamento representa a Jerusalém celestial como o “monte” e o “santuário” celestial. Ezequiel se refere ao “monte santo de Deus” e aos “santuários” no céu (Ez 28.14,16). O Salmo 2 menciona “Aquele que habita nos céus” e “o meu santo monte Sião” (vv. 4-5).

A primeira expressão se refere ao lugar no céu onde Deus está entronizado, enquanto a segunda se refere à Jerusalém terrestre, onde Deus dará o trono a seu Rei após derrotar as nações na batalha do Armagedom.

Os salmos de Davi também fazem referência a Deus em sua “casa” ou “templo” (Sl 11.4; 23.6; 26.8; 27.4; 138.2), embora o Templo tenha sido construído somente após a morte de Davi. Essas referências, portanto, são relativas ao Templo celestial, como vemos em um dos salmos de forma explícita: “O Senhor está no seu santo templo; o trono do Senhor está nos céus” (Sl 11.4).

Nesse paralelismo hebraico, “santo templo” e “trono” devem referir-se à mesma coisa. Tanto Moisés (Ex 25.9,40) quanto Davi (1 Cr 28.11-19) viram o Templo celestial e usaram-no como modelo na construção do santuário terrestre (o Tabernáculo e o Primeiro Templo).

Se existe um Templo celestial, não haveria de existir também uma Jerusalém celestial, visto que as estruturas da que está na terra foram copiadas da que está no céu (Hb 9.2).

Uma Jerusalém celestial e eterna

Embora o Antigo Testamento não mencione explicitamente a Nova Jerusalém, ele fala do caráter eterno e inviolável da cidade. O Salmo 125:1 afirma que os que confiam no Senhor serão como o Monte Sião, que não se abala, mas permanece para sempre. No entanto, os profetas do Antigo Testamento previram que tanto o atual céu quanto a terra deixariam de existir (Isaías 34:4). Isso significa que precisa de uma Nova Jerusalém para cumprir essa profecia.

Algumas profecias relacionam uma Jerusalém restaurada a novos céus e nova terra. Por exemplo, Isaías 65:17-18 diz:

“Porque eis que eu crio céus novos e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão. Mas vós folgareis e exultareis perpetuamente no que eu crio; porque eis que crio para Jerusalém alegria e para o seu povo, gozo”.

Isaías 66:20-22 acrescenta que todos os irmãos serão trazidos de todas as nações para o santo monte de Jerusalém e que alguns deles serão escolhidos como sacerdotes e levitas.

Apesar dessa associação entre Jerusalém e uma nova criação, há uma certa ambiguidade em relação ao contexto da profecia. O contexto de Isaías 65:17-25 sugere que se trata do reino milenial, pois há morte (v. 20), envelhecimento (v. 22) e nascimentos (v. 23). No entanto, o versículo que inicia o assunto (v. 17) fala sobre novos céus e nova terra, o que pode indicar uma introdução genérica a um texto que, em seguida, descreve o Milênio.

Em Isaías 66:10-24, o mesmo período de tempo parece ser o contexto dos versículos 10-21, mas a comparação com novos céus e nova terra aponta para o estado eterno (note a alusão a um castigo eterno no v. 24).

Portanto, embora o Antigo Testamento não mencione explicitamente a Nova Jerusalém, ele fornece indícios sobre a possibilidade de uma Jerusalém celestial e eterna.

A Nova Jerusalém no Judaísmo recente

A Nova Jerusalém no judaísmo recente tinha como objetivo alcançar a conformidade com o ideal divino, mas a restauração terrestre após o exílio não conseguiu atingi-lo.

Como resultado, a literatura apocalíptica judaica e o Midrash desenvolveram o conceito de uma restauração celestial, com uma Jerusalém celestial e perfeita em todos os aspectos substituindo ou transformando a Jerusalém terrestre. Vários textos apocalípticos judeus fazem referência à Nova Jerusalém, incluindo os Rolos do Mar Morto.

A descrição da Nova Jerusalém é semelhante à visão do Templo e da Jerusalém mileniais que foram dadas a Ezequiel e registradas em Apocalipse. As dimensões da Nova Jerusalém são muito maiores do que as da antiga cidade de Jerusalém, e a linguagem utilizada na descrição das construções é similar, incluindo detalhes como os doze portões da cidade, belas muralhas de ouro, estradas pavimentadas de alabastro e ônix, e águas vivas.

Esta Nova Jerusalém surgiria após a batalha do fim dos tempos, quando Israel emergiria vitorioso sobre as nações gentílicas e seria restaurado em glória. Embora esta estrutura pareça ser uma construção terrestre e abrigue um novo Templo, provavelmente trata-se da Jerusalém restaurada no Milênio.

Judaísmo do período talmúdico

Na era talmúdica, a comunidade judaica havia perdido tanto o seu Templo como a sua cidade, mas não suas promessas. Por isso, ainda que cultivassem esperança na restauração da Jerusalém terrestre, os mestres davam maior ênfase à Jerusalém celestial.

Segundo o judaísmo do período talmúdico e da época do segundo Templo, a Nova Jerusalém era tanto uma cidade presente como uma cidade futura. O Talmude ensina que embora a concretização da cidade celestial seja algo para a era da redenção, os justos já podem vê-la e dela receber inspiração em momentos de graça.

O judaísmo, portanto, compreendia que a Nova Jerusalém já existia no presente, seria uma realidade no Milênio e perduraria até a eternidade. Jesus e os escritores do Novo Testamento certamente estavam cientes dessa tradição da Nova Jerusalém no judaísmo do segundo Templo.

paraíso e céu

A Nova Jerusalém e o Significado no Novo Testamento

O Novo Testamento segue o conceito veterotestamentário da Jerusalém celestial, como mencionado em passagens como Hebreus 13:14, que define tal cidade como o objetivo dos santos. Hebreus relaciona essa esperança ao início de Israel em Abraão, indicando que a Jerusalém celestial já existia e que os justos tinham ali um lar com Deus.

De maneira semelhante, o NT dá continuidade ao ensino veterotestamentário de que os santuários terrestres foram construídos de acordo com padrões divinamente revelados, baseados em estruturas existentes na Jerusalém celestial.

O discurso de Estêvão em Atos 7 faz referência a Êxodo 25:8-9,40, quando o mártir declara que o tabernáculo do Testemunho estava entre os pais no deserto, como ordenara aquele que disse a Moisés que o fizesse segundo o modelo que tinha visto. O autor de Hebreus compara os santuários da terra e do céu e fala sobre “as figuras das coisas que estão no céu”, indicando que tais estruturas celestiais não são simbólicas, pois as estruturas reais sobre a terra foram feitas a partir delas.

Como os autores do NT descrevem a cidade celestial

A Nova Jerusalém também aparece em diversos textos do NT. Em Gálatas 4:26, o apóstolo Paulo fala sobre a “Jerusalém que é de cima”, diferenciando-a da “Jerusalém que agora existe”. O autor de Hebreus também compreendia o conceito e comparava a Jerusalém celestial, o lugar da graça, ao monte Sinai natural, o lugar da lei. Ele ainda descreveu os habitantes da Jerusalém celestial, concordando com as afirmações do AT acerca do destino celestial dos fiéis e com as descrições do tribunal no céu e a população da Nova Jerusalém em Apocalipse.

Hebreus 12:26-28 explica que a antiga criação será removida um dia, deixando as “que não são abaladas” (o reino indestrutível, a Jerusalém celestial) como herança eterna dos santos. Isso concorda com a descrição do Dia do Senhor feita por Pedro, que chegará a seu clímax em uma desagregação cósmica e com “novos céus e nova terra”. Paulo declara que “nossa cidade está nos céus”.

A descrição da Nova Jerusalém em Apocalipse

O termo “Nova Jerusalém” aparece apenas no livro do Apocalipse. Alguns comentaristas sugerem que o conceito de uma “nova” Jerusalém se desenvolveu em função da destruição da “antiga” Jerusalém. Mas este conceito já existia no AT, na literatura apocalíptica judaica e nas epístolas do NT, muito antes da destruição do Templo.

A mais completa descrição da Nova Jerusalém está em Apocalipse 21-22. João a chama de “a esposa, a mulher do Cordeiro” e o pano de fundo para a metáfora do casamento é o costume judaico de o noivo deixar a noiva durante a festa e ir preparar-lhe uma casa, para onde eles seguem juntos tão logo o noivo volte para buscar sua noiva.

Quando o noivo retomava, a noiva estava esplendidamente vestida e enfeitada e tinha lugar a cerimônia de casamento. Da mesma forma, a Nova Jerusalém descerá de Deus como o lugar glorioso prometido à Igreja.

O aparecimento da Nova Jerusalém também encerra os objetivos na terra para o Templo, o Tabernáculo e a Igreja. Haverá um “templo espiritual” onde o Criador e suas criaturas viverão em harmonia.

A Nova Jerusalém é, portanto, “o tabernáculo de Deus” onde o Altíssimo “habitará” eternamente entre seu povo e um “templo” para “o Senhor, o Deus Todo-Poderoso, e o Cordeiro”. Em vista disso, é importante notar que a Nova Jerusalém é “quadrangular”. Este desenho em forma de cubo corresponde à forma cúbica singular do Santo dos Santos no Templo, onde a presença de Deus habitava no meio de Israel.

A Nova Jerusalém, então, adequa-se ao propósito do transitório Santo dos Santos, servindo como um local de encontro permanente e ilimitado para Deus e todos os santos (como sacerdotes do Altíssimo).

O material utilizado na construção da cidade santa

O livro de Apocalipse compara o material utilizado na construção da cidade às pedras preciosas da terra. O brilho e o esplendor de pedras de todas as cores e matizes, tal qual as ruas de ouro puro, como vidro transparente, são apenas adaptações.

Em Êxodo 24, quando Moisés e os anciãos recebem permissão para ver o Deus de Israel, eles veem uma “pavimentação de pedra de safira, que se parecia com o céu na sua claridade”. A visão que Ezequiel teve do trono de Deus trazia descrições semelhantes: “havia uma semelhança de firmamentos, como um aspecto de cristal terrível”, “havia uma semelhança de trono como de uma safira”.

Esta decoração da cidade com joias e a declaração de que ela é “a noiva, a esposa do Cordeiro” já levaram a interpretações que identificam a Nova Jerusalém com a Igreja ou com um novo estado celestial.

No entanto, a interpretação mais plausível é que a Nova Jerusalém é um lugar físico e literal estabelecido após o retorno de Jesus Cristo. A descrição da cidade sugere que ela será real e tangível, onde os crentes ressuscitados e transformados em corpos glorificados viverão com Deus para sempre.

A promessa de um futuro glorioso

Alguns estudiosos sugerem que a Nova Jerusalém é uma cidade simbólica que representa a Igreja, enquanto outros argumentam que é um lugar físico literal. No entanto, a descrição detalhada da cidade no livro do Apocalipse sugere que é um lugar real e concreto.

Independentemente da interpretação, a mensagem central da Nova Jerusalém é a promessa de um futuro glorioso e eterno para os crentes em Jesus Cristo. A cidade é uma metáfora da perfeição e da comunhão plena entre Deus e seus filhos. É um lembrete do poder e da fidelidade de Deus em cumprir suas promessas e em trazer redenção e restauração ao mundo quebrado.

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