Salmo 84 Estudo: Versículo por versículo comentado e explicado
Neste estudo, vamos mergulhar na explicação do Salmo 84, uma das pérolas mais preciosas da coleção dos Salmos. Esta ode sagrada é reconhecida por sua suavidade e profundidade, e merece o título de “A Pérola dos Salmos”.
Enquanto o Salmo 23 é amplamente considerado o mais popular, o Salmo 103 é o mais alegre, o 119 o mais profundamente experimental e o 51 o mais lamentoso; o Salmo 84 se destaca como um dos mais doces Salmos de paz.
Neste estudo, comentaremos cada versículo do Salmo 84, buscando compreender seu significado e aplicação em nossas vidas. Com uma explicação do contexto histórico, oferecendo uma análise versículo por versículo.
Sendo assim, prepare-se para descobrir as riquezas deste salmo e ser inspirado a uma vida de adoração e confiança no Senhor, nossa fonte de verdadeira felicidade e paz.
Sobre o que é o Salmo 84?
O Salmo 84 é um cântico de um israelita que não pôde ir a Jerusalém para celebrar uma das três festas anuais (Êxodo 23:17; 34:23).
A expressão “aparece diante de Deus em Sião” (v. 7) reflete esse desejo de estar na presença de Deus no templo.
Durante os quarenta anos após o êxodo do Egito, os israelitas viveram como nômades. Mesmo após entrarem na Terra Prometida, as festas continuaram a lembrá-los de que ainda eram peregrinos na terra (1 Crônicas 29:15), assim como o povo de Deus é hoje (1 Pedro 1:1; 2:11).
A diferença entre um errante, um estrangeiro e um peregrino é que o errante não tem lar, o estrangeiro está distante de seu lar, e o peregrino caminha em direção ao seu lar.
Apesar de o salmista não poder comparecer à festa, isso não o impediu de desfrutar das bênçãos da comunhão com o Senhor.
Da mesma forma, todos os verdadeiros peregrinos podem fazer essas três declarações sobre seu desejo de estar na presença de Deus.
Quem escreveu o Salmo 84?
Embora o Salmo 84 seja atribuído aos filhos de Corá, há razões para considerar que ele possa ter sido composto em parte pelo salmista Davi.
Devido à sua profunda devoção e ao desejo fervoroso pela presença de Deus que transparece em suas palavras.
O Salmo 84 compartilha semelhanças com o Salmo 63, que Davi escreveu enquanto se encontrava no deserto, exilado devido à rebelião de Absalão.
Nessa ocasião, ele lamentava sua distância de Jerusalém, não apenas por ser a cidade real, mas principalmente por ser a cidade santa onde estava o templo do Senhor.
Qual é a mensagem do Salmo 84?
A mensagem do Salmo 84 gira em torno do profundo desejo do salmista por estar na presença de Deus. Refletindo o valor incomparável da comunhão com o Senhor.
O salmista começa exaltando a beleza e a preciosidade do santuário de Deus (Salmo 84:1), revelando um anseio sincero por estar próximo ao templo (Salmo 84:2-3).
Esse desejo não é apenas por um lugar físico, mas pela experiência espiritual de adorar a Deus e sentir sua presença.
Ele também destaca a bênção daqueles que podem habitar no templo e ter um relacionamento contínuo com Deus (Salmo 84:4-7). Reconhecendo que a proximidade com o Senhor traz paz e força.
Em sua oração, o salmista pede para ser restaurado àquele lugar de adoração, demonstrando que seu coração está voltado para o santuário como um espaço de encontro com Deus (Salmo 84:8-9).
A afirmação de que “um dia na casa do Senhor é melhor do que mil em outros lugares” (Salmo 84:10) ressalta o valor da intimidade com Deus, afirmando que nenhum outro local ou experiência se compara à presença divina.
Por fim, o salmo conclui descrevendo a fidelidade e a bondade de Deus para com aqueles que confiam nele (Salmo 84:11-12), assegurando que Ele é um escudo e provedor para seus filhos.
O uso do termo “teu tabernáculo” no plural, “tabernáculos”, reforça a grandiosidade do santuário de Deus, seja para destacar suas diversas partes ou sua excelência, refletindo a importância e a magnitude do lugar onde a presença do Senhor se manifesta.
Em essência, o Salmo 84 expressa a devoção e a alegria de buscar e habitar na presença de Deus, mesmo em tempos de ausência ou distância física do templo.
Explicação do contexto histórico do Salmo 84
O Salmo 84 surge em um contexto histórico onde a adoração e a presença de Deus eram profundamente associadas ao templo em Jerusalém, o lugar central para os israelitas se encontrarem com o Senhor.
O salmo é atribuído aos filhos de Corá, uma família levítica que servia como músicos e cantores no templo. Esses levitas desempenhavam um papel fundamental nas celebrações e rituais de adoração, conduzindo o povo em louvor e oração.
Esse salmo parece ter sido escrito durante um período em que a ida ao templo era impossível para o salmista, possivelmente devido a alguma circunstância que o impedia de viajar a Jerusalém para as festividades religiosas.
Na época, os israelitas tinham a obrigação de comparecer ao templo para três festas anuais importantes: a Páscoa, o Pentecostes e a Festa dos Tabernáculos (Êxodo 23:17; 34:23).
A ausência dessas festividades era um sinal de grande perda para os fiéis, que valorizavam a comunhão no santuário como uma expressão de sua fé e compromisso com Deus.
Embora o contexto exato não seja claro, estudiosos sugerem duas possibilidades:
1. Durante o Reinado de Davi:
Alguns acreditam que o salmo pode estar ligado ao período em que Davi ou seus seguidores foram impedidos de adorar no templo.
Por causa de situações como a perseguição de Saul, quando Davi foi forçado a viver como um exilado, ou durante a rebelião de seu filho Absalão, que o obrigou a fugir de Jerusalém.
A menção a Sião no Salmo 84:7 indica que o tabernáculo já estava estabelecido ali, tornando a segunda hipótese mais provável.
2. Os Filhos de Corá e a Adoração:
A autoria atribuída aos filhos de Corá também reflete um período em que esses levitas não puderam cumprir suas funções no templo.
Eles eram descendentes de Corá, que, apesar de um passado marcado pela rebelião contra Moisés (Números 16), seus descendentes foram restaurados ao serviço do templo e desempenharam um papel importante na adoração.
A saudade que expressam pelo santuário sugere que eles compreendiam profundamente a importância da presença de Deus em Jerusalém.
Aqui está o Salmo 84 comentado e explicado versículo por versículo:
1. “QUÃO amáveis são os teus tabernáculos, SENHOR dos Exércitos!” (Salmo 84:1)
O versículo 1 do Salmo 84 exalta a beleza e o valor dos lugares de adoração de Deus: “Quão amáveis!” O salmista não especifica o quanto eram amáveis, pois suas palavras refletem sentimentos que ele não conseguia expressar completamente.
As assembleias dos santos são amáveis à memória, à mente, ao coração, aos olhos e à alma. Não há nada na Terra que seja tão revigorante quanto a visão de crentes reunidos para adorar.
Aqueles que não enxergam beleza nos cultos da casa do Senhor demonstram tristeza em suas almas. O salmista usa o plural “tabernáculos” porque o tabernáculo tinha sido montado em diversos lugares e dividido em diferentes pátios e áreas.
Para Davi, cada parte do tabernáculo era preciosa. Seja o pátio externo ou interno, ele amava cada detalhe, desde as cordas até as cortinas.
Mesmo à distância, Davi se alegrava ao lembrar da tenda sagrada onde Jeová se revelava. Ele se emocionava ao imaginar os serviços e ritos solenes que testemunhara. Os tabernáculos são tão amáveis ao povo de Deus porque são “os teus tabernáculos, ó Senhor dos exércitos.”
O tabernáculo é como o centro do acampamento de Deus, em torno do qual todos se reúnem e voltam seus olhos, assim como os exércitos olham para a tenda de seu rei.
Deus governa todas as suas criaturas com tanta bondade que elas se alegram em sua morada, e seus santos o saúdam com fidelidade e alegria, reconhecendo-o como o Senhor dos exércitos.
2. “A minha alma está desejosa, e desfalece pelos átrios do SENHOR; o meu coração e a minha carne clamam pelo Deus vivo.” (Salmo 84:2)
Quando o salmista diz “Minha alma anseia”, ele expressa um desejo intenso de se reunir com os santos na casa do Senhor. Esse anseio não é apenas um desejo passageiro, mas algo tão forte que faz sua alma desfalecer.
A expressão “sim, até desfalece” sugere que ele não conseguia suportar a demora e se sentia exausto pela distância da casa de Deus.
O salmista experimentava uma “santa doença de amor”, sentindo-se consumido por um desejo interior de adorar ao Senhor no local designado para o culto.
Ele ansiava por estar novamente nos “átrios do Senhor”, os lugares dedicados à adoração.
Aqueles que verdadeiramente servem a Deus têm um amor especial pelos átrios do seu Rei.
O desejo do salmista ia além do físico: “Meu coração e minha carne clamam pelo Deus vivo”. Ele ansiava pelo próprio Deus, o único Deus vivo e verdadeiro.
Esse anseio envolvia todo o seu ser, a ponto de até seu corpo físico se unir ao desejo espiritual.
A intensidade do seu espírito fervoroso aquecia até mesmo a carne, geralmente fria como argila.
Enquanto muitos precisam de incentivos para ir à igreja, o salmista se destacava. Ele não aguardava o toque de sinos para lembrá-lo do culto; em vez disso, carregava esse impulso dentro de si, como um “sino em seu próprio peito”.
Seu desejo ardente de adorar era um chamado muito mais forte do que qualquer som externo, fazendo com que ele clamasse, suspirasse e implorasse pela oportunidade de estar na presença de Deus.
3. “Até o pardal encontrou casa, e a andorinha ninho para si, onde ponha seus filhos, até mesmo nos teus altares, SENHOR dos Exércitos, Rei meu e Deus meu.” (Salmo 84:3)
O Salmo 84:3 expressa um profundo desejo do salmista. Quando ele fala: “Sim, o pardal encontrou uma casa.” O salmista inveja os pardais que vivem ao redor da casa de Deus.
Essas aves aproveitam as migalhas perdidas nos pátios do templo, enquanto ele anseia por frequentar as assembleias solenes e receber alimento espiritual.
Além disso, ele menciona: “E a andorinha um ninho para si onde possa pôr seus filhotes.” O salmista também admira as andorinhas, que constroem seus ninhos sob os beirais das casas dos sacerdotes.
Essas aves encontram um espaço seguro para seus filhotes e para si mesmas. Isso nos lembra da alegria não apenas em nossas experiências religiosas, mas também na bênção de levar nossos filhos ao santuário.
A igreja de Deus é, de fato, uma casa para nós e um ninho seguro para nossas crianças.
“Até os teus altares, ó Senhor dos exércitos.” As aves livres se aproximam dos altares. Ninguém pode detê-las, e Davi expressa o desejo de se mover com a mesma liberdade. Ele repete o nome abençoado de Jeová dos Exércitos, encontrando nele a doçura que alivia sua fome espiritual.
Davi provavelmente estava em um lugar de exílio, enfatizando que o Senhor está presente tanto no campo de tendas quanto nas cortinas sagradas.
A expressão “Meu Rei e meu Deus” revela a lealdade do salmista. Mesmo se não puder pisar nos átrios do templo, ele ainda ama o Rei.
Um exilado pode estar distante, mas não é rebelde. Quando não podemos ocupar um assento na casa de Deus, podemos sempre guardar um lugar especial em nossas memórias e um trono em nossos corações.
O duplo “meu” é precioso; ele representa um apego profundo ao seu Deus. O salmista segura seu Deus com ambas as mãos, determinado a não soltar até que o favor desejado seja finalmente concedido.
Essa devoção e anseio ressaltam a importância da comunhão com Deus, tanto em momentos de liberdade quanto de limitação.
4. “Bem-aventurados os que habitam em tua casa; louvar-te-ão continuamente. (Selá.)” (Salmo 84:4)
O salmista considera altamente favorecidos aqueles que estão constantemente envolvidos na adoração divina, incluindo desde os que ocupam cargos importantes até os que realizam tarefas simples, como abrir os bancos ou limpar o templo.
Ir e vir pode ser revigorante, mas permanecer no lugar de oração é como experimentar um pedaço do céu na terra.
Ser um hóspede de Deus, desfrutando das bençãos celestiais, separado para o trabalho sagrado, protegido do barulho do mundo e familiarizado com as coisas sagradas, é sem dúvida a herança mais preciosa que alguém pode possuir.
“Eles continuarão te louvando.” Aqueles que estão tão próximos de Deus têm suas vidas transformadas em adoração contínua. Seus corações e línguas constantemente exaltam o Senhor. No entanto, há o reconhecimento de que esta é uma visão idealizada; nem sempre aqueles que trabalham diariamente nas tarefas ligadas à adoração pública são os mais devotos.
Como diz o ditado: “quanto mais perto da igreja, mais longe de Deus”. Ainda assim, em um sentido espiritual, aqueles que habitam com Deus em espírito estão sempre cheios de seus louvores, pois a comunhão é a mãe da adoração.
Quem se afasta de Deus perde a disposição de louvá-Lo, mas os que habitam Nele permanecem sempre a engrandecê-Lo.
“Selah.” Diante dessa visão, podemos nos contentar em permanecer assim para sempre. Vale a pena fazer uma pausa e refletir sobre a alegria de habitar com Deus e louvá-lo por toda a eternidade.
5. “Bem-aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração estão os caminhos aplanados.” (Salmo 84:5)
Após falar da bem-aventurança daqueles que habitam na casa de Deus, o salmista agora menciona os que têm o privilégio de visitá-la em épocas determinadas, participando das peregrinações com outros devotos.
No entanto, ele não elogia indiscriminadamente todos os que fazem a jornada, mas destaca aqueles que participam de coração nos festivais sagrados.
A bem-aventurança da adoração verdadeira não pertence a adoradores indiferentes ou apáticos, mas àqueles que se dedicam com todas as suas forças.
A oração, o louvor e a escuta da Palavra não serão agradáveis ou frutíferos para aqueles que deixam seus corações para trás.
Um grupo de peregrinos que não leva seus corações consigo seria como uma caravana de corpos sem vida, incapaz de se unir aos santos vivos na adoração ao Deus vivo.
“Em cujo coração estão os seus caminhos”, ou, melhor ainda, “em cujo coração estão os teus caminhos”. Aqueles que amam os caminhos de Deus são verdadeiramente abençoados.
Quando os caminhos de Deus estão em nossos corações, e nosso coração se alinha com seus caminhos, estamos no lugar certo e em plena conformidade com a vontade divina, desfrutando, assim, da aprovação de Deus.
6. “Que, passando pelo vale de Baca, faz dele uma fonte; a chuva também enche os tanques.” (Salmo 84:6)
Uma das referências geográficas citadas no Salmo 84 é o “vale de Baca” ou “vale árido”, que não é identificado em nenhuma outra parte das Escrituras.
“Baca” é um termo hebraico que se refere à “árvore de bálsamo”, cuja seiva escorre lentamente, assemelhando-se a lágrimas.
O “vale de Baca” simboliza qualquer momento difícil e doloroso da vida, onde parece não haver esperança e nos sentimos desamparados, como em um “poço de desespero”.
Aqueles que amam a Deus sabem que atravessarão vales como esse, mas não permanecerão neles. Essa experiência de travessia resulta em bênçãos para eles, e eles também deixam uma bênção por onde passam.
Assim como Abraão e Isaque “cavaram um poço” (Gênesis 21:22-34; 26:17-33), e como Samuel e Elias, cujas orações trouxeram a chuva (1 Samuel 12:16-25; 1 Reis 18), esses fiéis transformam seus desafios em fontes de vida.
Enfim, receber uma bênção é maravilhoso, mas ser uma bênção e transformar um deserto em um jardim é ainda melhor.
7. “Vão indo de força em força; cada um deles em Sião aparece perante Deus.” (Salmo 84:7)
Os verdadeiros peregrinos “vão indo de força em força” (v. 7; Deuteronômio 33:25; Isaías 40:28-31; Filipenses 4:13), confiando que Deus lhes dará a força necessária para dar um passo de cada vez e enfrentar cada dia.
São pessoas de oração, sempre em comunhão com Deus, independentemente das circunstâncias.
Pois é bem-aventurado o homem cuja força está em ti (v. 5).
8. “SENHOR Deus dos Exércitos, escuta a minha oração; inclina os ouvidos, ó Deus de Jacó! (Selá.)” (Salmo 84:8)
Ó Senhor, Deus dos Exércitos, ouve minha oração… Alguns estudiosos, como Kimchi, entendem que essa súplica se refere à redenção dos cativos. Jarchi, por outro lado, sugere que o pedido se relaciona à construção do templo.
No entanto, a interpretação mais apropriada aponta para um desejo de estar nos átrios de Deus, anelando pela oportunidade de comparecer diante de Sua presença (veja Salmo 84:2).
O salmista espera ser atendido, considerando que o Senhor é o Deus dos Exércitos, governando tanto os céus quanto a terra.
Sendo assim, Ele tem poder para realizar muito mais do que se possa pedir ou imaginar. Seu braço não é encurtado, nem Seu ouvido está surdo (Isaías 59:1).
Enquanto o título de “Deus dos Exércitos” enfatiza o poder de Deus, o título seguinte destaca Sua graça: “Dá ouvidos, ó Deus de Jacó”.
Como Deus da aliança do povo de Israel e de Davi em particular, o salmista encontra consolo e confiança em saber que Deus ouvirá suas orações, e essa é a base para seu pedido.
9. “Olha, ó Deus, escudo nosso, e contempla o rosto do teu ungido.” (Salmo 84:9)
O salmista, que provavelmente era um exilado ou um andarilho, via Deus como sua defesa e refúgio. Ao pedir: “E olha para o rosto do teu ungido“, ele solicita que Deus olhe para ele com favor, benignidade e gentileza.
A palavra “ungido” aqui é traduzida da palavra hebraica mâshı̂yach (em grego, Christos, “Cristo”; veja as notas em Mateus 1:1).
Embora essa expressão seja usada em outros contextos para se referir ao Messias, no caso deste salmo, é mais provável que se refira ao próprio autor, possivelmente Davi, o ungido do Senhor, designado para o ofício real.
É verdade que essa palavra poderia ser aplicada a outros reis, sacerdotes e profetas, mas as circunstâncias apontam para a ideia de que Davi seja o ungido mencionado aqui.
Portanto, a referência não é diretamente a Cristo, e o texto não sugere nem justifica a interpretação comum de que a oração esteja pedindo que “Deus olhe para nós diante de Seu ungido”.
Esse uso pode ser válido por outros motivos, mas não é o que o contexto original do salmo sugere.
10. “Porque vale mais um dia nos teus átrios do que mil. Preferiria estar à porta da casa do meu Deus, a habitar nas tendas dos ímpios.” (Salmo 84:10)
O salmista, ao dizer “Porque um dia nos teus átrios vale mais do que mil” (Salmo 84:10), expressa que um único dia na presença de Deus é incomparavelmente melhor do que mil dias passados em qualquer outro lugar, mesmo sob as circunstâncias mais prazerosas do mundo.
Os deleites do serviço a Deus—sentir seu amor, regozijar-se em Cristo, meditar em suas promessas e experimentar o poder do Espírito Santo—trazem uma alegria que o mundo não pode entender, mas que preenche profundamente os crentes.
Ele continua afirmando: “Prefiro ser porteiro na casa do meu Deus do que habitar nas tendas da iniquidade.” Para o salmista, até mesmo a posição mais humilde no serviço a Deus supera qualquer privilégio entre os ímpios.
Estar à porta do templo e vislumbrar a presença de Jesus é uma bênção maior do que os prazeres temporários e luxuosos da vida sem Deus. Ele reconhece que o menor serviço ao Senhor é mais honroso do que qualquer glória terrena.
Chamar o tabernáculo de “a casa do meu Deus” mostra o valor que ele atribui à comunhão com Deus.
Para aqueles que pertencem a Ele, até mesmo a soleira de sua casa é preciosa, pois onde Jesus está presente, até o lugar mais simples se torna mais desejável do que qualquer outro sem a presença de Deus.
11. “Porque o SENHOR Deus é um sol e escudo; o SENHOR dará graça e glória; não retirará bem algum aos que andam na retidão.” (Salmo 84:11)
Cristo é “o sol da justiça” e, na casa de Deus, Ele surge sobre Seu povo com cura em Suas asas (Malaquias 4:2). Assim como o sol, Ele é a grande luz, a fonte de luz que dissipa as trevas, traz o dia e ilumina todos os corpos celestes, como a lua e as estrelas, além de guiar a igreja e seus ministros.
Como um “sol”, Ele ilumina Seu povo com a luz da graça, aquece-os com os raios de Seu amor, anima e refresca suas almas com o brilho de Seu semblante, tornando-os frutíferos e florescentes.
Além disso, Ele é um “escudo” que protege Seu povo de todos os inimigos. Ele é o escudo da fé, que os crentes usam para resistir às tentações de Satanás; também é o escudo da salvação, abrigando-os da justiça divina e protegendo-os da ira vindoura.
O Senhor dará graça e glória. Ele concede a graça da conversão, a primeira graça, e todos os suprimentos futuros dela. Ele dá a graça santificadora, que inclui fé, esperança, amor e outras virtudes; também concede a graça justificadora, perdoadora, adotiva e perseverante, tudo de forma gratuita.
O Senhor proporciona honra e glória entre os homens, especialmente entre os cristãos; e dá a glória eterna, que é o presente que Seu Pai lhe concedeu, incluindo a coroa de glória, vida e justiça. Este é o dom de Deus por meio de Cristo.
Cristo nos dá acesso a essa glória, adequação para recebê-la e o próprio bem. Em Sua casa e em Suas ordenanças, à medida que Ele concede mais graça aos humildes que esperam nEle, Ele encoraja e aumenta sua esperança de glória.
Aqueles que recebem um certamente receberão o outro, pois esses dois estão inseparavelmente conectados: quem tem um desfrutará do outro.
O Senhor não reterá nada bom daqueles que andam retamente — aqueles que vivem pela fé em Cristo, que andam de acordo com o Evangelho e mantêm a sinceridade em seus corações.
Para esses, o Senhor não reterá nenhuma bênção que Ele prometeu, que Ele preparou para eles em Sua aliança.
Isso inclui tanto as bênçãos espirituais, necessárias para a vida e a piedade, quanto as bênçãos temporais que sejam boas para eles.
Ele não negará a eles nada que peçam, nem retirará qualquer coisa boa que já tenha concedido, pois Suas dádivas são irrevogáveis.
12. “SENHOR dos Exércitos, bem-aventurado o homem que em ti põe a sua confiança.” (Salmo 84:12)
Em conclusão, No versículo 12 do salmo 84 encontramos uma rica reflexão sobre a importância de confiar no Senhor em todos os momentos. Onde o salmista destaca que a verdadeira felicidade reside na confiança em Deus, que é a fonte de graça, glória e todas as coisas boas.
Sabendo que ao invés de depositar nossa fé em criaturas ou em forças humanas, devemos confiar no Senhor dos Exércitos, que é nosso sol e escudo. Aqueles que colocam sua esperança Nele, independentemente de terem ou não a oportunidade de subir à casa do Senhor, são verdadeiramente felizes.
Essa felicidade não depende das circunstâncias, pois, como o Monte Sião, que nunca pode ser removido, aqueles que confiam no Senhor estão seguros.
Além disso, desfrutam de paz perfeita e de um conforto sólido nesta vida, assim como uma felicidade eterna na vida que está por vir, conforme nos lembra Jeremias 17:5 referindo-se a Cristo como a Palavra essencial.
Por outro lado, embora períodos de solidão e retiro espiritual possam ser extremamente benéficos, os cristãos de hoje têm acesso livre e constante à presença de Deus, graças ao sangue derramado por Jesus Cristo e sua intercessão por nós no céu (Hebreus 7:25; 10:19-25).
Assim, devemos nos perguntar:
Onde encontramos nosso prazer?
Será que estamos buscando ao Senhor de todo coração?
Dependemos de sua força? Trabalhamos e caminhamos pela fé?
Estamos entre aqueles que “andam retamente” (v. 11)?
Essas reflexões nos convidam a examinar nossa relação com Deus e a importância de confiar plenamente Nele em todos os aspectos de nossas vidas.