O que aconteceu com Pilatos?
Pôncio Pilatos foi o quinto governador romano da província da Judéia, servindo entre os anos 26 e 36 d.C.
Tibério César o nomeou para governar, por isso tinha autoridade sobre questões civis e militares na região. Embora não tenhamos muitas informações históricas sobre Pilatos fora dos relatos bíblicos, a sua presença na Bíblia é bastante significativa.
Pilatos no contexto bíblico
Encontramos o seu nome em todos os quatro evangelhos do Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas e João. Seu papel mais proeminente foi durante o julgamento e crucificação de Jesus Cristo.
Em Mateus 27
É ele que pronuncia a sentença de morte contra Jesus, apesar de reconhecer sua inocência. Ele lava as mãos publicamente para simbolizar sua inocência em relação ao derramamento de sangue de Jesus, mas sua decisão é um exemplo clássico de ceder à pressão política e popular.
Em Marcos 15
Pilatos novamente expressa sua relutância em condenar Jesus, mas os líderes religiosos o pressionam e pela multidão.
Assim, ele entregou Jesus a crucificação, mostrando como seu desejo de manter a paz e o controle político o leva a sacrificar a justiça.
Em Lucas 23
Neste livro, Lucas o retrata como alguém que tenta evitar o julgamento de Jesus. Ele o envia para Herodes Antipas, governador da Galileia, para resolver o assunto, mas Herodes o devolve. Pilatos então tenta libertar Jesus, mas os líderes judeus o persuadem a condená-lo à morte.
Em João 18 e 19
Finalmente, Pilatos faz uma série de questionamentos a Jesus e tenta encontrar uma maneira de libertá-lo.
É nesse contexto, que ele oferece a escolha entre Jesus e Barrabás, mas a multidão exige a libertação de Barrabás e a crucificação de Jesus.
Assim, ele cede à pressão e entrega Jesus a crucificação, mas não antes de perguntar a famosa questão: “Que farei então com Jesus, chamado Cristo?”
Quem foi Pôncio Pilatos segundo a história?
Pilatos pertencia à linhagem romana dos Pôncios e era possivelmente descendente de um liberto, um ex-escravo que ganhara a cidadania romana seguindo os procedimentos legais. Entretanto, apesar desse status, seus direitos cívicos não eram plenos.
Seu nome completo em latim, Marcus Pontius Pilatus, revela sua origem samnita, uma antiga tribo incorporada ao Império Romano. “Pilatos era um cavaleiro romano do clã samnita dos Ponti (daí seu nome Pôncio)”, como explicado pela Britannica.
Ele era um cidadão romano de classe média que governou sob o reinado do imperador Tibério. Seu governo, que durou de 26 a 36 d.C., coincidiu com o período em que João Batista e Jesus Cristo exerciam seus ministérios.
Como figura de autoridade, Pilatos detinha influência militar, embora suas forças se concentrassem principalmente na aplicação da lei civil. Ele também chefiava o sistema judicial, com poder para impor sentenças de pena de morte.
Moedas com sua efígie foram encontradas, uma vez que ele controlava o sistema monetário e a cobrança de impostos na qualidade de governador romano. Pilatos possuía certo grau de controle sobre o Sinédrio, o conselho de líderes judeus que condenou Jesus, explicando assim por que eles recorreram a ele para autorizar a crucificação. Além disso, ele tinha autoridade para nomear o sumo sacerdote.
Os governantes romanos eram frequentemente associados a crueldade e corrupção, mas a reputação de Pilatos se destacou por esses aspectos. Por volta de 50 d.C., o filósofo judeu Fílon de Alexandria o repreendeu por seus atos, incluindo subornos, insultos, roubos, ultrajes, execuções sumárias e crueldade extrema.
O antagonismo de Pilatos em relação aos judeus era notório, e suas ações frequentemente os enfureciam.
Um exemplo disso ocorreu quando ele permitiu que tropas entrassem em Jerusalém portando escudos com a imagem do imperador romano Tibério, o que violava as leis judaicas que proibiam ícones romanos na cidade. A reação da população resultou em um protesto prolongado, até que Pilatos finalmente cedeu.
Em relação ao seu fim, algumas fontes indicam que Pilatos morreu por suicídio em 36 d.C., depois de exilado para Viena, na Gália, acusado pelo governador da Síria de cometer violência contra samaritanos desarmados que buscavam artefatos no Monte Gerizim, associado a Moisés.
Outras fontes sugerem que ele se aposentou ou que seu mandato como governador da Judéia simplesmente chegou ao fim, e ele optou por não retornar ou foi transferido.
Tanto os detalhes de sua morte quanto sua infância são difíceis de rastrear com precisão e confiabilidade.
Para alguns, Pilatos é um mártir cristão, visto que os relatos do Novo Testamento o retratam hesitante em relação à execução de Jesus.
A importância de Pôncio Pilatos
A figura de Pilatos é de extrema importância no contexto bíblico, pois seu envolvimento direto na crucificação de Jesus Cristo desencadeia uma série de eventos cruciais para a história cristã.
Seu papel como governador romano representa a tensão entre o domínio político e o desejo de manter a paz em uma região politicamente volátil.
Além disso, a relutância de Pilatos em condenar Jesus, apesar de reconhecer sua inocência, destaca o conflito interno que ele enfrentou ao enfrentar a pressão política e a população.
Sua lavagem de mãos simbólica, que ele faz diante da multidão, é um ato que reflete a falta de coragem e a tentativa de se eximir da responsabilidade por sua decisão.
No entanto, é importante observar que, apesar de aparecer negativamente por sua participação na condenação de Jesus, sua figura também destaca o cumprimento das profecias bíblicas.
Por que Pôncio Pilatos permitiu que Jesus fosse crucificado?
Apesar de Pilatos possuir indiscutivelmente considerável poder, por que ele optaria por condenar à morte um homem que reconhecidamente culpado? Ainda que aparentemente negligenciasse sua consciência, não seria um ato que o assombraria até os confins da vida, ao perceber que sentenciou à morte um homem sem pecados?
Diversos motivos precisam ser considerados ao analisarmos por que Pôncio Pilatos sucumbiu diante da pressão da multidão.
Inicialmente, como evidenciado nas informações mencionadas acima, Pilatos encontrava-se em uma posição extremamente precária perante César.
Um erro adicional poderia resultar na perda de sua posição, ou até mesmo colocar em risco sua própria vida. Uma vez que os líderes judeus consideravam a atitude de Pilatos a favor de Jesus como um grave equívoco, o medo pela preservação de sua vida e status social levou Pilatos a ceder perante a multidão.
Em segundo lugar, é frequente encontrarmos argumentos contrários ao Cristianismo que questionam a confiabilidade das Escrituras e levantam dúvidas sobre a existência de Jesus.
Alguns sugerem que, se Jesus de fato existiu, ele teria sido apenas um homem comum, dado a ausência de registros substanciais de escritores romanos sobre sua vida.
De fato, o período de ministério de Jesus foi predominantemente focado na comunidade judaica, com exceção de casos pontuais, como o encontro com a mulher junto ao poço.
Apesar de figuras romanas como Plínio e Tácito terem feito menções a Jesus, sua atuação como o Messias estava voltada primordialmente para o público israelita. Os romanos demonstravam escasso interesse nos assuntos judaicos.
Ao contrário de muitos outros agitadores da época, as atividades radicais do ministério de Jesus não exerceram um impacto significativo sobre os romanos. Ele obedecia às leis de tributação e, de acordo com o que se sabia, mantinha um comportamento exemplar como cidadão, conforme registrado em Marcos 12:17.
Dessa forma, na época da Roma Antiga, Jesus não despertaria interesse. Adicionalmente, os romanos não demonstravam real interesse nos assuntos dos judeus, a menos que estes estivessem liderando algum tipo de revolta ou levante contra o domínio romano. Jesus deixou claro que sua missão não visava a derrubada de Roma.
Na sociedade romana, aqueles com cidadania romana eram considerados mais importantes do que os sem essa cidadania. Jesus não possuía tal cidadania. Embora Pilatos tenha reconhecido sua inocência, ele não estava disposto a arriscar sua posição e vida por alguém que não fosse um cidadão romano.
Por último, como Billy Graham explica em seu artigo, Pilatos revelou fragilidade moral. Apesar de saber que Jesus não merecia a condenação à morte, ele suprimiu sua consciência e cedeu à pressão da multidão.
O que sabemos sobre a esposa de Pilatos?
Durante o momento em que Pilatos presidia como juiz, sua esposa enviou-lhe a seguinte mensagem:
“Não te envolvas com esse homem justo, pois hoje sofri muito em sonhos por causa dele.”
Mateus 27:19
Apesar de a esposa de Pilatos não ser explicitamente mencionada pelo nome na Bíblia, o Evangelho de Nicodemos, um livro apócrifo, a identifica como Cláudia Prócula, supostamente neta do imperador Augusto.
É importante ressaltar que os livros apócrifos não foram reconhecidos como parte das Escrituras pelos autores originais, por Cristo ou pelos Apóstolos. Apesar de não possuírem a mesma autoridade que as Escrituras, esses textos às vezes oferecem insights para pesquisas históricas. De acordo com relatos fora da Bíblia, é sugerido que ela tenha sido profundamente influenciada pela fé judaica e possivelmente se convertido ao judaísmo.
O impacto do sonho dessa mulher levou Pilatos a reconsiderar a situação. Como destacou o Dr. Ray Pritchard, “Durante todas as extensas horas do julgamento de Jesus, somente uma voz falou a seu favor.”
Embora as conversas concretas entre Pilatos e sua esposa antes de testemunharem os eventos envolvendo Jesus permaneçam desconhecidas, ambos foram claramente afetados por Ele.
O fato de a esposa de Pilatos chamar Jesus de “homem justo” evidencia a profunda impressão que Ele deixou em sua mente. Isso contrasta com os líderes religiosos que buscavam a destruição de Jesus devido às Suas reivindicações.
De acordo com BibleGateway.com, “A esposa de Pilatos sentiu uma solene responsabilidade e fez seu apelo, enquanto seu marido, também convencido da inocência de Cristo, por fim o entregou para ser crucificado.”
Por que é Pôncio Pilatos mencionado no Credo?
Pilatos vai ao ponto de lavar as mãos, simbolicamente se desvinculando do crime (Mateus 27:24). Não foram os judeus os responsáveis técnicos pela condenação de Jesus à morte? Então, por que o Credo afirma que Jesus foi “crucificado sob Pôncio Pilatos”?
No relato de Mateus 27, Pilatos tem a oportunidade de libertar Jesus, mas opta por não fazê-lo. Embora ele não intervenha diretamente, ao lavar as mãos do veredito, ainda assim desempenha um papel na execução.
Além disso, a crucificação era uma forma de punição romana. Os judeus costumavam executar por apedrejamento (Atos 7:54-60). Jesus, portanto, teria que ser morto por métodos romanos e condenado por um romano para que isso ocorresse. Além disso, Don Stewart explica que essa forma de execução era reservada aos de posição social inferior, criminosos e rebeldes.
Nos Evangelhos, vemos até tentativas dos judeus de apedrejar Jesus quando Ele reivindica sua divindade (João 10:30-33).
Os judeus podem ter levado Jesus às autoridades romanas, como Stewart menciona, pois os crucificados eram vistos como “amaldiçoados”. Isso poderia contradizer a noção de Jesus como o Messias, já que seria desconcertante que um Messias fosse amaldiçoado.
Devido à natureza romana dessa punição e à postura de Pilatos de deixar a multidão fazer o que desejava, Jesus acabou sendo entregue para ser executado sob a autoridade de Pilatos.
O que aprendemos com esse personagem?
A morte e ressurreição de Jesus era crucial para a redenção da humanidade, e Pilatos, como figura política, apenas desempenhou seu papel no plano divino.
Além disso, as perguntas que ele fez e as respostas de Jesus proporcionam uma visão mais ampla da mensagem de salvação e da natureza divina de Jesus Cristo.
Em última análise, a sua figura é um exemplo poderoso das tensões entre a política, a justiça e a verdade espiritual presentes no contexto bíblico.
Sua decisão de condenar Jesus Cristo à crucificação, embora contrariando sua própria consciência, é um lembrete do poder corruptor das pressões externas e do medo de perder o controle político.
Assim, ao estudarmos a figura de Pilatos, podemos refletir sobre as escolhas que enfrentamos em nossas vidas diariamente.
Conseguirmos entender como as tensões entre a política e a moralidade e a importância de permanecer fiel à verdade, pode nos desviar dos caminhos de Deus.
A história de Pôncio Pilatos é um lembrete poderoso de que nossas decisões têm consequências e a busca pela justiça e pela verdade deve ser uma prioridade em todas as áreas de nossas vidas.